O ministro da Fazenda, Guido Mantega (Marcelo Camargo/Agência Brasil)
Da Redação
Publicado em 18 de outubro de 2012 às 07h10.
Madri - O ministro da Fazenda, Guido Mantega, considera "temerária" e "incompleta" a estratégia alemã de aplicar cortes para combater a crise na Europa sem dar a devida atenção aos investimentos, e considera "urgente" reduzir a crise "porque o tempo se acaba".
Em entrevista conjunta com os diários "El País" e "Le Monde" que o periódico espanhol publica nesta quinta-feira, Mantega diz que estão sendo tomadas medidas para resolver os problemas "mais visíveis" dos bancos e o endividamento, "mas não solucionarão a questão central, que é a recuperação econômica".
Mantega diz que em sua recente visita a Londres e Paris observou que está sendo desenvolvido um trabalho para "uma solução a longo prazo".
Esta estratégia, "definida principalmente pela Alemanha", consiste em reduzir a dívida e cortas as despesas, "e só depois se prestará assistência aos países necessitados".
"Portanto, devemos nos perguntar se é politicamente viável dizer às pessoas que os salários seguirão caindo e que o trabalho seguirá faltando durante os próximos dois ou três anos. Para mim, é uma estratégia temerária, porque já vamos para o quarto ano de crise", avalia o ministro.
Mantega, que foi ministro da Fazenda do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e seguiu no cargo durante o Governo de Dilma Rousseff, afirma que esta estratégia europeia é "incompleta" porque, apesar de resolver o problema da dívida, falta pensar "na retomada do crescimento".
O ministro se pergunta "onde está o programa de investimentos?" e imediatamente afirma que há uma "necessidade urgente de pensar em uma estratégia que solucione a crise, porque o tempo se acaba".
Mantega reconhece os "grandes esforços" feitos por Espanha e Portugal para sair da crise e diz que "a Alemanha deveria ser mais flexível, em vez de colocar-lhes uma faca no pescoço".
Em sua opinião, é preciso "restaurar a confiança e trabalhar juntos", como foi feito na cúpula do Grupo dos Vinte (G20, que reúne as principais economias do mundo) em Londres em 2009, cujo sucesso nesse sentido permitiu o retorno da calma e a retomada dos investimentos e da indústria mundial.
"A Europa não foi capaz de enfrentar o problema desde o começo, em 2010, segundo a recomendação do FMI", e 2012 é "um ano perdido" para a região, uma vez que "agora o objetivo é evitar que a situação piore".
Para isso, Mantega pede que as medidas a ser adotadas tenham um "maior alcance" e sejam postas em prática de forma "muito mais rápida".
Neste ponto, o ministro brasileiro insinua que o Banco Central Europeu não atuou com a rapidez necessária, ao contrário do Federal Reserve americano, que "agiu imediatamente no início da crise" em seu país e "soube controlar melhor a situação".