Mantega: "é bom deixar claro que essa pressão do dólar, no nosso caso, não é saída de capitais, não é perda de reservas, como em outros países. Aqui é hedge e especulação" (Jin Lee/Bloomberg)
Da Redação
Publicado em 26 de agosto de 2013 às 10h55.
São Paulo - O ministro da Fazenda, Guido Mantega, reforçou o discurso de que o governo vai combater a volatilidade no mercado de câmbio porque o atual patamar não é favorável para a economia e lembrou que quem especula com a alta do dólar em relação ao real poderá ter prejuízos.
"Essa subida com essa volatilidade não é boa para ninguém, porque os empreendedores retardam suas operações. Mesmo os que ganham com um dólar mais valorizado, os exportadores, dão uma parada para ver a quanto vai o dólar. Atrapalha todo mundo", afirmou o ministro em entrevista publicada neste sábado pelo jornal Folha de S.Paulo.
O Banco Central iniciou nesta semana uma ofensiva para conter a valorização da moeda no Brasil, através de um programa de leilão cambial que terá um cronograma diário de intervenção por meio da venda de swap cambial tradicional --equivalente a venda no mercado futuro-- e oferta de linha, ou venda de dólares com compromisso de recompra. O objetivo, segundo o BC, é "prover hedge cambial aos agentes econômicos e liquidez ao mercado".
Segundo Mantega, a disparada da moeda que subiu mais de 17 por cento entre maio e a última sexta-feira deve-se a um movimento localizado no mercado de dólar futuro, com empresas buscando hedge e ação de especuladores.
"É bom deixar claro que essa pressão do dólar, no nosso caso, não é saída de capitais, não é perda de reservas, como em outros países. Aqui é hedge e especulação", afirmou.
E aproveitou para dar um recado para especuladores: "Você pode ganhar, mas pode perder. Porque o nosso câmbio é flutuante. Então, é preciso tomar cuidado. Houve época em que nosso câmbio flutuava só para um lado. Se você apostar demais numa direção, pode quebrar a cara." Para a alta da divisa no Brasil não prejudicar ainda mais a economia, o ministro da Fazenda fez um apelo aos empresários que não repassem a valorização da moeda para os preços."É aconselhável que, se essa subida do dólar for revertida, e ela pode ser revertida, os empresários não repassem isso para os preços. Seria bom que não repassassem", afirmou, reconhecendo que se ficar "insistentemente" elevada, pode trazer pressão inflacionária.
Mantega voltou a dizer que a Petrobras não deve levar em conta a disparada do dólar p ara definir um reajuste dos preços dos combustíveis, mas sinalizou que a elevação pode ocorrer ainda neste ano.
"Não vai ter repasse do aumento do câmbio em momentos de volatilidade. Essa é a regra na Petrobras, que trabalha com uma tarifa média, não repassando picos. Tivemos uma situação excepcional, o que não significa que não vai ter reajuste", .
O ministro disse ainda a alta dos preços tem uma trajetória sazonal e, depois de atingir o menor patamar em julho, volta a se acelerar. "O importante é a velocidade de crescimento, para que ela esteja dentro dos parâmetros normais. Por exemplo, que a inflação de agosto fique em torno de 0,30 por cento", disse.
A inflação ao oficial medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) atingiu em julho 0,03 por cento, a menor taxa em três anos, voltando a ficar abaixo do teto da meta do governo no acumulado em 12 meses.