Mansueto Almeida (Marcelo Camargo/Agência Brasil)
Ligia Tuon
Publicado em 19 de novembro de 2020 às 20h02.
Última atualização em 19 de novembro de 2020 às 20h20.
Apesar de o ministro da Economia, Paulo Guedes, ter dito que, se houver segunda onda de contágio de covid-19 no Brasil, o auxílio emergencial terá de voltar, não há espaço fiscal para isso, alerta o ex-secretário do Tesouro Nacional, Mansueto Almeida.
"Se, eventualmente, houver uma segunda onda, a gente não vai ter espaço fiscal para reagir como gastou na primeira", disse durante evento digital BRASA Talks nesta quinta-feira (19), em debate com Maria Silvia Bastos Marques, ex-presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), em painel “O rumo fiscal brasileiro”.
Contando os juros da dívida pública, o déficit fiscal brasileiro, que é o resultado das receitas e das despesas do país, deve chegar a 17% do Produto Interno Bruto (PIB) neste ano, ressalta Mansueto, algo perto dos valores atingidos por Estados Unidos e Inglaterra.
Sobre o assunto, Maria Silva acrescenta que, em caso de uma segunda onda, o cenário pode ser menos trágico: "Podemos ter uma luz no fim do túnel, que é a vacina".
Mansueto ressalta que a sinalização de que o país vai voltar a percorrer o ajuste fiscal precisa ocorrer, ainda que de forma gradual, e mesmo que as reformas estruturantes que reduziriam o ritmo de crescimento da dívida não saiam agora:
"Não vejo nada próximo de um consenso para aprovação de reformas, mas é importante que a gente continue discutindo, mesmo que a gente não consiga aprová-las até metade de 2021. O debate da Previdência foi posto em dezembro de 2016 e só saiu depois de três anos", diz.
O cenário que temos, naturalmente, não foi previsto em 2016, quando a Lei do teto de gastos foi criada, para reduzir o ritmo dos gastos públicos, com o objetivo de que o Brasil voltasse a ter um superávit primário já em 2021. Agora, lembra Mansueto, "mesmo que a gente consiga cumprir o teto até 2026, 10 anos após a sua criação, ainda vamos ter déficit".
Nesse sentido, para além de discutir e implementar reformas fiscais, é de extrema importância, afirma Maria Silva, que o governo federal arrume formas de melhorar a arrecadação e a eficiência do gasto público.
"É preciso repensar os regimes tributários especiais, pois temos um problema de eficácia do gasto público. Muitos setores, Educação é um exemplo, têm padrões de gastos altos, equivalentes a países desenvolvidos, mas a eficácia é ruim", diz.
Maria Silva lembra que a questão fiscal não é o fim em si mesmo. Ter solvência fiscal, segundo ele, é necessário e imprescindível, mas não é suficiente. "Nos últimos 40 anos, a economia brasileira viu sua renda per capta ficar praticamente estagnada, enquanto a renda americana teve aumento em torno de 2% ao ano e as asiáticas, de 7%".
Isso só vai acontecer, diz ela, com crescimento, e o crescimento só vai acontecer com produtividade. "Temos todas as condições para isso. O Brasil tem uma economia dinâmina, vimos como avançamos na pandemia, com telemedicina e outras novidades, nossa capacidade de resposta é enorme, mas somos cheios de amarras, precisamos mehorar nosso ambiente de negocios e, para isso, a solidez fiscal é inamovível".