Economia

Mais pobres sentem a inflação nos alimentos, e ricos nos combustíveis

Pesquisa EXAME/IDEIA mostra que a alta nos preços de itens básicos é mais sentida pelas classes sociais mais vulneráveis

De maneira geral, a inflação foi mais sentida pelos brasileiros nos combustíveis (43%) e nos alimentos e bebidas (40%) (Alexandre Severo/Exame)

De maneira geral, a inflação foi mais sentida pelos brasileiros nos combustíveis (43%) e nos alimentos e bebidas (40%) (Alexandre Severo/Exame)

GG

Gilson Garrett Jr

Publicado em 23 de outubro de 2021 às 08h20.

Última atualização em 25 de outubro de 2021 às 15h43.

O aumento da inflação no Brasil, com o IPCA, índice oficial de preços no país, tendo registrado alta de 10,25% no acumulado de 12 meses, tem impactado a população de maneiras distintas. A mais recente pesquisa EXAME/IDEIA mostra que os mais pobres sentiram a alta dos preços de forma mais intensa nos alimentos e bebidas. Já os mais ricos perceberam uma inflação maior nos combustíveis.

A pesquisa EXAME/IDEIA ouviu 1.295 pessoas entre os dias 18 a 21 de outubro. As entrevistas foram feitas por telefone, com ligações tanto para fixos residenciais quanto para celulares. A sondagem é um projeto que une EXAME e o IDEIA, instituto de pesquisa especializado em opinião pública. Clique aqui para ler o relatório completo.

De maneira geral, a inflação foi mais sentida pelos brasileiros nos combustíveis (43%) e nos alimentos e bebidas (40%). Mas quando se coloca uma lupa por classe social, as proporções mudam. Nas classes D e E, a subida dos alimentos foi mais sentida por 56%, enquanto que para 48% das classes A e B, foram os combustíveis que tiveram a maior alta.

(Arte/Exame)

Ao avaliar o mesmo número por renda, fica ainda evidente que os mais pobres sentem de maneira acentuada a alta dos preços na alimentação. Para 44% dos que ganham até um salário mínimo, os alimentos e bebidas foram os que mais pesaram no bolso. Já para 63% dos ganham acima de cinco salários, os combustíveis representam a maior percepção de aumento de preço.

(Arte/Exame)

“A pesquisa traz dados muitos eloquentes em relação à inflação. 79% encaram a situação como um grande problema no dia a dia. E os dois itens que mais têm pesado no bolso das pessoas, no aumento de preços que foram identificados na pesquisa, foram os alimentos, bebidas e combustíveis”, explica Maurício Moura, fundador do IDEIA.

Inflação dos alimentos

No ano, os alimentos acumulam alta de 12,47%, segundo o  Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Nos últimos 12 meses até outubro, a inflação geral ficou em 10,25%.

Nos acumulado dos últimos 12 meses, até setembro, alguns produtos da cesta básica subiram acima da inflação geral. Só o arroz teve um aumento de 30%, o feijão carioca, 17,3%, a carne vermelha 17%, e os ovos, 15,8%, de acordo com o cálculo do Índice de Preços ao Consumidor da Fundação Getúlio Vargas (FGV).

Este crescimento nos preços, acima da inflação, impacta na mudança de consumo dos brasileiros. Entre os entrevistados da EXAME/IDEIA, 68% dizem que mudaram os hábitos alimentares por conta da alta dos preços.

“Estamos falando de mais de dois terços dos brasileiros comendo de alguma maneira diferente, obviamente piorando a sua alimentação em função do aumento de preços. Quem trabalha com a inflação, sabe que ela é essencialmente expectativa, e 61% acham que os preços vão continuar aumentando nos próximos seis meses, ou seja, vamos continuar convivendo com um cenário que é bastante preocupante para o Brasil”, avalia Maurício Moura.

Preços dos combustíveis

De janeiro a setembro deste ano, o preço de revenda dos combustíveis teve um aumento de, em média, 28% no diesel, 32% na gasolina, e 27% no gás de cozinha, segundo o Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (Ineep).

Para 45% dos brasileiros, este aumento é culpa do governo federal. Outros 28% acham que é dos governadores, 11% acham que é da Petrobras, e há ainda 16% que entendem ser culpa do mercado internacional.

(Arte/Exame)

Atualmente, a política de preços da Petrobras atrela o preço interno às variações do valor do barril de petróleo no exterior. Com as constantes variações de câmbio, em decorrência de problemas de política interna, os reajustes têm sido frequentes. Além disso, como preço do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) é uma alíquota, mesmo que não haja mudança no tributo, ele sobe na nota fiscal de forma proporcional.

Na semana passada, a Câmara aprovou o projeto que estabelece um valor fixo para a cobrança de ICMS sobre combustíveis. O texto obriga estados e Distrito Federal a especificar a alíquota para cada produto por unidade de medida adotada, que pode ser litro, quilo ou volume, e não mais sobre o valor da mercadoria.

A proposta chegou esta semana ao Senado e ainda depende de votação. Governadores se mobilizam para alterar o texto. O argumento é de que a mudança vai impactar em perda de arrecadação e afetar o caixa dos estados.

 

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