Imóveis: a estratégia desses corruptos foi investir em imóveis que, conforme a ONG, têm risco relativamente baixo (Jurema Oliveira/Wikimedia Commons)
Agência Brasil
Publicado em 10 de abril de 2017 às 11h06.
Última atualização em 10 de abril de 2017 às 11h07.
Mais de 3,4 mil imóveis localizados nas áreas mais caras de São Paulo, avaliados em cerca de US$ 2,7 bilhões, pertencem a empresas ligadas às offshores - corporações abertas nos chamados paraísos fiscais, países que oferecem isenções de impostos, taxas e ainda mantém sob sigilo o nome do proprietário.
Esta constatação foi feita pelo estudo da Transparência Internacional, uma organização não governamental (ONG) com sede em Berlim, capital da Alemanha. A ONG suspeita de lavagem de dinheiro oriundo de desvios dos cofres públicos.
De acordo com o levantamento, 236 empresas em regime de offshore detêm 3.452 propriedades, em São Paulo, onde estão as sedes de mais da metade (65%) das companhias estrangeiras no Brasil.
Em seu relatório, a ONG destaca que essa concentração se deve ao fato da presença na capital paulista da maior bolsa de valores da América Latina, a atual B3, ex- BM&FBovespa, que atrai os investidores para imóveis de grande valorização no mercado.
Mais da metade dessas empresas (87%) estão registradas em cinco localidades: nas lhas Virgens Britânicas, no Uruguai, nos Estados Unidos, no Panamá e na Suíça.
Segundo o estudo, recursos originados de corrupções são aplicados em offshore, nas Ilhas Virgens Britânicas e no Panamá, onde o anonimato no registro de empresas facilita que "corruptos driblem autoridades fiscais e policiais."
A ONG acrescenta que em 70% dos 200 grandes casos de corrupção analisados pelo Banco Mundial, os arranjos corporativos secretos, como trusts e empresas offshore foram utilizadas para lavagem de dinheiro e para esconder o proprietário dos ativos adquiridos.
A estratégia desses corruptos foi investir em imóveis que, conforme a ONG, tem risco relativamente baixo, o que permite a lavagem de dinheiro de grandes quantias em única operação.
"Como os verdadeiros donos estão escondidos, não se sabe ao certo o montante de propriedades compradas com recursos da corrupção", cita o relatório. No estudo, a Transparência Internacional citou o caso do ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró, preso em 2015, por participar do esquema de corrupção na Petrobras.
A ONG lembra que Cerveró foi sentenciado a cinco anos de prisão por comprar um apartamento de luxo no valor de US$ 2,4 milhões, no Rio de Janeiro, com recursos de propina e para isso utilizou uma empresa offshore.
O estudo alerta que" investidor offshore, age por meio de "profissionais facilitadores" - advogados, contadores e corretores - podem controlar pessoas jurídicas no Brasil e, por meio dessas, comprar joias, iates e propriedades imobiliárias. Essas operações, muitas vezes, tentam ocultar os proventos e rastros da grande corrupção."