Economia

Com cafeterias e restaurantes fechados, consumo de café seguirá em baixa

Clima seco afeta produção no Brasil, maior produtor do mundo, levando a um déficit global entre 6 e 13 milhões de sacas na próxima temporada

 (Pramote Polyamate/Getty Images)

(Pramote Polyamate/Getty Images)

G

GabrielJusto

Publicado em 25 de abril de 2021 às 12h06.

Última atualização em 25 de abril de 2021 às 12h59.

As restrições relacionadas ao coronavírus na Europa e nos Estados Unidos no início deste ano desaceleraram a recuperação do consumo global de café, pois consumidores estão longe de restaurantes e cafeterias, de acordo com a maior trading mundial da commodity.

A Neumann Kaffee Gruppe já não espera crescimento da demanda global na temporada que termina em setembro na maioria dos países, disse Ana Wilks, chefe de pesquisa da operadora de Hamburgo, que movimenta cerca de 15 milhões de sacas de café por ano. A estimativa se compara à projeção otimista para um aumento do consumo de 0,9% feita em dezembro.

O consumo de café foi abalado quando a pandemia fechou cidades de Paris a Los Angeles. Muitos países na Europa enfrentaram até três períodos de lockdown, e cafeterias no Reino Unido apenas recentemente começaram a permitir que clientes permaneçam em áreas ao ar livre em vez de apenas levar para viagem.

“Não vemos muita chance de recuperação na demanda global por café em 2020-21, especialmente com o retorno das restrições na Europa”, disse Wilks em entrevista. “Mesmo que a demanda por café se recupere com menos restrições no futuro, vai demorar um pouco para que a recuperação apareça nos fluxos de café.”

A propagação do coronavírus fez com que a demanda por café caísse 1,5% na temporada passada, segundo a Neumann. Antes da pandemia, a trading esperava que o consumo crescesse 0,5%. Ainda assim, a demanda tem mostrado bom desempenho em comparação com outras commodities e bebidas, disse Wilks. O consumo de cacau e gasolina, por exemplo, teve impactos muito maiores.

Oferta e procura

O mercado global de café enfrentará um déficit na próxima temporada, pois o clima seco afeta a produção do Brasil, o maior produtor. Por enquanto, a trading espera que a produção fique abaixo do consumo em 9 milhões de sacas, revertendo um superávit de 6,9 milhões de sacas na atual temporada, disse Wilks.

Mas isso se a demanda crescer a um ritmo de pouco menos de 2% em 2021-22. Se o consumo global aumentar 2,5%, o déficit de café pode subir para até 13 milhões de sacas ou ser reduzido para 6 milhões de sacas se o consumo se estabilizar, disse. Uma saca de café pesa 60 kg.

Os produtores no Brasil devem colher 33 milhões de sacas de arábica, conforme os cafezais entram na metade de produtividade mais baixa do ciclo bianual e devido ao impacto do clima seco nas lavouras, estima a Neumann. Isso se compara a 38 milhões de sacas na temporada anterior de bienalidade baixa e 52 milhões de sacas no ano passado.

A produção de robusta, usado no café instantâneo, deve somar 20,5 milhões de sacas, estima.

Embora a previsão para a safra do Brasil ainda possa ser reduzida dependendo do clima em abril, a maior incerteza no mercado continua sendo a demanda.

“A demanda sempre foi a parte mais previsível, mais estável e mais fácil do equilíbrio entre oferta e demanda”, disse Wilks. “Hoje é uma incógnita que pode trazer muita variação.”

Acompanhe tudo sobre:CaféComércio exteriorCommoditiesPandemia

Mais de Economia

Presidente do Banco Central: fim da jornada 6x1 prejudica trabalhador e aumenta informalidade

Ministro do Trabalho defende fim da jornada 6x1 e diz que governo 'tem simpatia' pela proposta

Queda estrutural de juros depende de ‘choques positivos’ na política fiscal, afirma Campos Neto

Redução da jornada de trabalho para 4x3 pode custar R$ 115 bilhões ao ano à indústria, diz estudo