Economia

Adiar eleição é um risco institucional muito grande, afirma Maia

Pacote é voltado para possibilitar folha de pagamento para pequenas e médias empresas

Rodrigo Maia: presidente da Câmara aproveitou para cobrar do governo que sente para conversar e produza um “pacote horizontal” de medidas (Marcelo Camargo/Agência Brasil)

Rodrigo Maia: presidente da Câmara aproveitou para cobrar do governo que sente para conversar e produza um “pacote horizontal” de medidas (Marcelo Camargo/Agência Brasil)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 27 de março de 2020 às 14h28.

Última atualização em 27 de março de 2020 às 15h25.

O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), disse nesta sexta-feira (27) que adiar as eleições municipais previstas para outubro deste ano não é uma questão simples ante a crise provocada pelo novo coronavírus. Segundo ele, haveria um "risco institucional muito grande" em adiar o pleito.

"Quem assumiria nas prefeituras seriam juízes, não os prefeitos" afirmou. Maia destacou que a população "vota por quatro anos e não por seis anos". "Isso precisa ser respeitado, no meu ponto de vista", disse.

Para o presidente da Câmara, o importante é focar nas medidas atuais de combate ao novo coronavírus e planejar o período pós-crise. "Vamos cuidar dos dois (próximos) meses, vamos garantir previsibilidade, vamos montar um planejamento para depois desse momento mais agudo para que a gente consiga colocar dinheiro para o setor produtivo voltar a produzir", defendeu.

Segundo Maia, uma vez que ocorra a injeção de dinheiro público e a liberação da população aos poucos do estado de isolamento, será possível retomar a economia e pensar nas eleições. "Acho que a gente passa a ter as condições (depois da retomada) de em um prazo de 30, 40 dias realizar as eleições", complementou o parlamentar.

Ajuda do governo a empresas não vai resolver nada, diz Maia

Maia disse nesta sexta-feira, 27, que a linha de crédito emergencial anunciada pelo governo para pequenas e médias empresas pagarem os salários por dois meses "não é ruim", mas é "tímida" e "não vai resolver nada". Segundo Maia, ainda faltam medidas voltadas para outros setores da sociedade.

O programa de crédito, divulgado mais cedo pelo presidente Jair Bolsonaro e pelo presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, vai disponibilizar no máximo R$ 20 bilhões por mês, num período de dois meses.

O objetivo é aliviar a pressão financeira sobre as empresas durante a crise gerada pela pandemia do novo coronavírus.

"Acho que essa [decisão] do financiamento, que eu não acho ruim, porque, pela informação que eu tenho, a taxa de captação é a mesma do empréstimo. [Tem] uma carência, um prazo para pagar, [e] a garantia majoritária do governo, ainda é tímida - 20 bilhões por mês - não vai resolver nada", afirmou Maia a um grupo de empresários do grupo Lide, em evento realizado por videoconferência.

A linha de crédito anunciada é voltada para empresas com faturamento anual entre R$ 360 mil e R$ 10 milhões. Para Maia, o governo precisa pensar logo em medidas destinadas também a empresas que estão fora dessa faixa de faturamento. "Como é que faz com o resto? Porque tem empresas maiores, que também vão ter dificuldade. Tem microempresas que ficaram de fora", afirmou.

Feito no Palácio do Planalto, o anúncio do pacote ocorre após o aumento da pressão sobre Bolsonaro para que adote medidas semelhantes às vistas em outros países para facilitar medidas como o isolamento recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para reduzir a disseminação do novo coronavírus.

Bolsonaro tem dado declarações diminuindo os riscos da covid-19 e defendendo a redução das restrições ao movimento de pessoas e a volta ao trabalho devido aos prejuízos econômicos das medidas de isolamento. No entanto, o isolamento social é recomendado pela OMS para evitar a propagação do vírus quando não se sabe mais a origem da infecção, estágio que está no Brasil.

Isolamento

Maia voltou a defender o isolamento durante o período de crise provocado pelo surto do novo coronavírus. Em evento com empresários do grupo Lide, ele citou o exemplo da Itália e falou em "tragédia" semelhante ao país europeu caso haja uma recomendação contra a quarentena. "Liberar agora vai ser uma tragédia", afirmou.

"O que vimos em países em que o isolamento acabou rápido foi uma tragédia. Vamos rezar para que a população brasileira tenha um nível de resistência maior que a de outros países", disse.

Maia destacou a necessidade de evitar o colapso do sistema de saúde. Ele demonstrou preocupação com as classes sociais menos favorecidas, que enfrentam dificuldades de manter o isolamento em residências com muitas pessoas.

Durante a conversa, empresários reclamaram da falta de agilidade do governo. Para Maia, é preciso união dos poderes públicos. "Nesse momento de crise, é ruim atropelar o outro", comentou. Ele sugeriu uma conversa entre as lideranças políticas do País.

"Vamos sentar todos numa mesa, presidentes dos três Poderes, talvez um governador por região, para que a gente possa abrir um diálogo e construir algo com o que nos une e não com o que nos divide" afirmou.

O presidente da Câmara comentou ainda medida recente do governo de garantir empréstimos para pequenas empresas. A decisão foi considerada boa, mas "tímida", segundo Maia, que defendeu quantia maior para financiar os salários de médias e pequenas empresas.

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