Catalunha: "Se a incerteza continuar, isso poderia ter um peso sobre o crescimento", diz o FMI (Pau Barrena/AFP)
AFP
Publicado em 13 de outubro de 2017 às 16h51.
Última atualização em 13 de outubro de 2017 às 18h10.
O governo espanhol alertou, nesta sexta-feira (13), que a crise catalã pode prejudicar o crescimento econômico em 2018, aumentando a pressão sobre o presidente regional Carles Puigdemont, que também é apressado pelos separatistas mais radicais para que a independência entre logo em vigor.
"Vamos ter uma taxa de crescimento inferior, que estamos acabando de estimar durante este fim de semana, inferior à que tínhamos projetado inicialmente" para 2018, que era de 2,6%, afirmou o ministro espanhol da Economia, Luis de Guindos, em Washington, mas sem especificar quanto poderia cair.
"Isso não sai de graça do ponto de vista da evolução econômica", afirmou De Guindos, sobre a "incerteza e a preocupação que a Catalunha gerou".
O Fundo Monetário Internacional (FMI) não demorou a confirmar essa projeção de cenário.
"Se a incerteza continuar, isso pode ter um peso sobre o crescimento e, obviamente, queremos evitar isso", disse o diretor do FMI para a Europa, Poul Thomsen.
Na véspera, a agência classificadora Standard & Poors havia alertado para o risco de "recessão" na Catalunha.
Em discurso no Parlamento regional na última terça (10), Puigdemont deixou em suspenso a declaração de independência da Catalunha para favorecer uma mediação internacional em sua relação com Madri.
Sua manobra se chocou com a posição do presidente do governo espanhol, Mariano Rajoy, que se opõe a qualquer mediação e que enviou, no dia seguinte, um requerimento ao dirigente catalão para que esclareça se declarou, ou não, a separação.
Puigdemont tem até a próxima segunda (16) para responder. Se não o fizer, deverá retificar antes de quinta-feira, 19 de outubro, ou o Executivo central aplicará o artigo 155 da Constituição, que permite inclusive a suspensão temporária da autonomia da região.
Desde o ultimato, Puigdemont está no meio de um fogo cruzado: de um lado, os empresários, que preveem uma "catástrofe" econômica no caso de independência, e, do outro, a ala dura do separatismo.
Nesta sexta, o partido de extrema-esquerda CUP - aliado-chave do governo separatista catalão - instou o presidente regional a manter a declaração de independência da Catalunha, diante da ameaça de Madri de suspender suas funções.
"Apenas por meio da proclamação da República seremos capazes de respeitar o que a maioria expressou nas urnas", indicou o partido em carta ao presidente regional, em alusão ao referendo de 1º de outubro.
De acordo com os separatistas, nessa consulta, proibida pela Justiça, 90% dos eleitores votaram "sim" e, apesar da taxa de participação de 43% do eleitorado, Puigdemont se comprometeu a aplicar o resultado.
O líder regional recebeu ontem uma advertência similar da Assembleia Nacional Catalã, uma associação separatista com forte poder mobilizador nas ruas.
"Diante da negativa do Estado espanhol a qualquer proposta de diálogo, já não faz qualquer sentido manter suspensa a declaração de independência", afirmaram, em um comunicado.
Nos últimos dias, diante do cenário de incertezas, diversas empresas tiraram suas sedes sociais da Catalunha. Entre elas, os bancos CaixaBank e Sabadell, Gas Natural, Abertis e Planeta.
De acordo com o Registro Público de empresas da Espanha, 540 companhias pediram para sair da Catalunha desde 2 de outubro.
O impacto também foi sentido no turismo, em uma região que recebe um em cada quatro visitantes que vão à Espanha, terceiro destino turístico mundial.
As operadoras notaram uma disponibilidade muito maior nos hotéis de Barcelona, quase cheios até 1º de outubro. Em alguns estabelecimentos, os preços dos quartos caíram à metade em apenas uma semana.
Região de 7,5 milhões de habitantes, a Catalunha representa 19% do PIB espanhol e está dividida sobre a independência.
Mesmo assim, a ampla maioria da população defende a realização de um referendo de autodeterminação acertado com o governo de Madri.