A entrevista foi conduzida por Antonio Temóteo, repórter especial da EXAME em Brasília para o programa Macro em Pauta (YouTube/Reprodução)
Publicado em 15 de fevereiro de 2024 às 12h01.
Última atualização em 27 de fevereiro de 2024 às 10h08.
O CEO da SulAmérica Vida, Previdência e Investimentos, Marcelo Mello, afirmou nesta quinta-feira, 15, que o cenário macroeconômico do Brasil pode caminhar de forma otimista. Na visão dele, em 2024, a previsão de investimentos no país tem a seu favaor taxas inflacionárias mais baixas e queda de juros que podem abrir uma janela para a retomada de investimento em renda variável.
"O Brasil fez o processo de aperto monetário antes [dos EUA] e já está reduzindo juros. Esse cenário tende a beneficiar ativos de riscos, como bolsa, por exemplo, mas ainda não está exatamente concretizado, porque a gente é passageiro dos Estados Unidos e depende da regularização da taxa de juros americana. Enquanto não tivemos uma previsão clara de quando vai ter a redução de fluxo dos EUA, isso não vai se estabilizar de vez", disse o executivo, em entrevista ao programa Macro em Pauta.
Mello apontou ainda que o cenário macroeconômico do mundo, que surpreendeu economistas, deve abrir janelas de oportunidades no Brasil. "Quando a gente olha 2024 no curto prazo, fica difícil ter uma visão pessimista. O pior já passou, aquele cenário de aperto monetário no mundo inteiro, de taxa alta de juros, isso ficou para trás. A inflação começa a desacelerar, a força do mercado de trabalho fez com que os economistas errassem suas previsões, isso sobretudo nos Estados Unido", explica ele.
"Contrariando todas as previsões, o que aconteceu foi que o mercado de trabalho continuou muito forte e a inflação começou a ceder. O cenário de hoje é de quando a taxa de juros americana vai cair. Não existe mais aquela discussão de uma taxa de juros americana super elevada. Eu prevejo que essa estabilização deva acontecer ao final do segundo trimestre de 2024, o que é muito bom para a bolsa aqui, para abertura de IPOs. Em termos de cenário de investimento, estamos otimistas para 2024", declarou.
Segundo ele, economia brasileira caminha para um ano desafiador, mas a tendência é de que o ano seja positivo. O processo de queda de juros conduzido pelo Banco Central (BC) deve aumentar a oferta de crédito e impulsionar projetos do setor privado que estavam em compasso de espera diante das baixas taxas de retorno. Entretanto, as incertezas fiscais no país, as tensões geopolíticas no exterior, as mudanças climáticas e eventuais pressões inflacionárias são riscos não desprezíveis.
Durante a entrevista, Mello salientou a importância das reformas econômicas feitas nos governos passados para ampliar as janelas de oportunidades para a economia brasileira, sobretudo voltadas para os ativos de risco. "Temos um cenário e uma situação regulatória que deve ajudar em fundos de risco. Esse mercado saiu de R$ 200 bilhões, R$ 300 milhões bilhões pra R$ 1,4 trilhão. Como a legislação mudou, não só a redução da taxa de juros como uma regulamentação nova de crédito deve fazer com que o investidor busque esse diferencial em outros mercados, como a renda variável", comenta.
Em termos de mercados em ascensão, que se beneficiaram com a redução das taxas de juros e desaceração da inflação, Mello destacou que "devem avançar o agronegócio, o setor de serviços, varejo e o setor bancário".
Segundo ele, a tendência é de que 2024 seja um ano positivo, assim como foi 2023. "Quando abrimos 2023, o mercado tinha uma expectativa de crescimento de 0,8% no PIB. O que aconteceu de lá para cá foi que as reformas foram aprovadas, o mercado de trabalho continuou forte e o crescimento foi sendo ajustado, o PIB vai ser superior a 3%. A gente tem um conjunto de informações no curto prazo muito positivo".
Mello destacou, também, que 2024 pode ser um ótimo ano para novos IPOs. "Há uma grande janela de oportnuidades de IPOs esse ano. Com esse cenário mais otimista, as empresas veem a mercado mais favorável nesse segundo semestre. Teremos um volume importante de emissão de dívida de empresas já listadas".
Além da discussão sobre as reformas e o avanço econômico do Brasil, o bate-papo com Marcelo Mello também esclareceu os motivos pelos quais as mudanças econômicas no Brasil não têm sido bem lidas pelos economistas.
"Os economistas erraram no mundo inteiro, até mesmo nos EUA. Ninguém esperava que a taxa de juros fosse chegar no patamar de 5%, nem que ela ficaria estagnada nesse patamar por um período prolongado; todo mundo esperava que o crescimento fosse muito baixo com inflação alta. Todo mundo errou", salientou Mello. "O que explica são os efeitos da covid-19, que mudou muito o mercado de trabalho, assim como houveram reformas econômicas inéditas. Nenhum modelo que previsão vai pegar isso, porque é algo novo. Precisa de tempo para analisar".
Apesar da mudança, destacou o executivo, o resultado das últimas reformas e movimentações da economia brasileira foram positivos, apesar do déficit fiscal. "O mundo inteiro está muito mais intimidado, justamente por causa da covid-19. O endividamento do Brasil é próximo de 100% do PIB, é uma situação delicada, que demanda atenção", alerta Mello. "Mas do ponto de vista relativo, o saldo é positivo. O Brasil é um país emergente, precisa fazer o dever de casa. Precisa de mais reformas, como da previdência. Mas no curto prazo, o mercado entende que terá um déficit, mas não é um problema".
Quanto aos riscos que podem desacelerar ou impactar negativamente a economia brasileira, Marcelo Mello destacou dois possíveis riscos de curto, médio e longo prazo. O primeiro deles tem relação com China. "Existe um grande ponto de interrogação em relação à China, vimos como foi com o mercado imobiliário deles, o que é um risco por si só. Mas além disso, existe também muita coisa não regulada que chega até o Brasil. A China é uma preocupação, um ajuste mais relevante pode nos ajudar, inclusive via câmbio", explica.
A médio e longo prazo, o risco fica mais voltado à situação econômica dos Estados Unidos, sobretudo no que tange a taxa de juros. "A reprecificação de ativos dos EUA eu encaro como um risco a longo prazo. Se você tem uma economia com uma dívida crescente e acelerada, mas estável, nos Estados Unidos não vai faltar comprador, mas eles vão pedir um prêmio diferente se as taxas todas mudarem. Essa reprecificação pode trazer muita volatilidade para o Brasil, por exemplo".
Mello é graduado em Administração pela FAAP, com MBA em Gestão Empresarial pelo ITA. Em 2019, cursou o Advanced Management Program (AMP196) da Harvard Business School.O executivo está na SulAmérica desde 1997, com passagens por diversas áreas. Em 2005, assumiu o comando da SulAmérica Investimentos. Em 2015, passou a liderar também as operações de Vida e Previdência. Com mais de 25 anos de experiência no mercado financeiro, ele teve passagens pelo Lloyds Bank e pelo Banco Multiplic.