Gustavo Loyola: Para o economista, o Brasil perdeu o momento de euforia com o país (Wikimedia Commons/Wikimedia Commons)
Da Redação
Publicado em 8 de agosto de 2013 às 13h23.
São Paulo - Para Gustavo Loyola, a inflação não está fora do controle, mas é incômoda. O ex-presidente do Banco Central (1992-1993 e 1995-1997) não espera uma convergência da inflação para o centro da meta (4,5%) nesse e nos próximos anos e vê certa perda de credibilidade do Banco Central. “Na prática, a meta de inflação brasileira não é 4,5% mas algo mais próximo de 6% é um certo relaxamento no campo inflacionário”, afirmou.
O IPCA de julho, divulgado ontem, apresentou variação de 0,03% - o resultado mais baixo desde julho de 2010 (0,01%). Considerando os últimos doze meses o índice foi para 6,27%, abaixo dos 6,70% relativos aos doze meses anteriores e abaixo do teto da meta, 6,50% - mas bem longe do centro da meta, 4,5%.
Loyola prevê que a taxa de juros vai encerrar o ano em 9% e será mantida em 2014 – mas pode subir mais, dependendo do comportamento da inflação nos próximos meses. “Não acredito que o BC sofra muitas pressões para queda de juros, há a percepção de que a inflação é muito ruim para a economia e para a popularidade”, disse, no evento “Planejamento internacional e proteção de ativos”, realizado hoje pelo Westchester Financial Group.
“A economia brasileira está em uma dinâmica de recuperação, mas uma recuperação vagarosa e cheia de incertezas”, afirmou. A Tendências Consultoria, da qual Loyola é sócio, projeta que o PIB crescerá 0,5% no segundo trimestre e menos que isso no terceiro. A consultoria projeta que, no ano, o PIB crescerá 2,1% - e 2% em 2014, ante projeção anterior de 3%.
Segundo Loyola, o PIB potencial brasileiro está em 3,1% - abaixo dos 4% a que já chegou. “Metade do problema ter a ver com o Brasil mesmo”, se fosse um problema generalizado, outros países também sentiriam, segundo Loyola, para quem cerca de 70% da situação estaria relacionada a condução da política macroeconômica brasileira e não ao cenário externo.
Para Loyola, o Brasil perdeu o momento de euforia com o país. “É como ganhar na loteria e gastar todo o dinheiro em farra; não fez nada para gerar novas receitas no futuro. Nós consumimos os nossos ganhos ao invés de investir, por exemplo, o governo não aproveitou para fazer reformas, avançar na agenda de concessões, privatizações, só no ano passado caiu a ficha que teria que ser feito algo mais forte nessa área”, afirmou.
Loyola vê uma melhora temporária da política monetária e cambial e vê a parte fiscal como a que está pior no tripé de política macroeconômica. “É necessário mudar as mentes para mudar a politica macroeconômica”, afirmou. Para Loyola, a substituição do ministro Mantega, especulada há algumas semanas, não seria, necessariamente, a solução. “A politica econômica hoje tem um perfil ideológico que reflete muito o pensamento da presidente Dilma. Não adianta substituir o Mantega se não houver mudança desse eixo”, afirmou. Loyola não prevê a adoção de uma política mais austera em um ano eleitoral como 2014.
O economista afirmou que a Tendências já retirou qualquer previsão de aumento de tarifa de serviços públicos até a eleição – nem aumento de gasolina. “Ano que vem é ano da ‘bolsa eleição’, que, normalmente, é ajustar tabela de imposto de renda pessoa física, aumentar benefícios da previdência, aumentar o salário mínimo...”, disse.
Deslocamento
Para Gustavo Loyola, apesar da melhora da questão monetária, hoje está claro que o Brasil se deslocou dos países da América Latina que seguem boas praticas macroeconômicas (como Chile, Colômbia, Peru e México) e vai na direção de Argentina e Venezuela.
Para Loyola, o Brasil se deslocou, além da nova matriz macroeconômica, por elementos como protecionismo, elevação de incertezas da economia, controle de tarifas e preços (como o da gasolina) confronto com o setor privado, perda de credibilidade de indicadores da economia e contabilidade criativa em resultados fiscais, entre outros. Todos esses elementos estão presentes na Argentina e Venezuela, segundo Loyola. “No Brasil, estão presentes de maneira mais light”, afirmou.