Gustavo Loyola: "decisão visa frear a inflação que, ao contrário do que o Bando Central esperava, mostra resistência" (José Cruz/ABr)
Da Redação
Publicado em 29 de outubro de 2014 às 20h56.
O ex-presidente do Banco Central e sócio da Tendências Consultoria, Gustavo Loyola, avaliou nesta quarta-feira, 29, que a alta de 0,25 ponto porcentual na taxa básica de juros (Selic), para 11,25% ao ano, determinada pelo Comitê de Política Monetária (Copom) é um sinal de que o órgão busca "recuperar a credibilidade da política monetária após o embate eleitoral", numa sinalização ao mercado de uma maior rigor da política monetária.
Para Loyola, outro fator determinante para o aumento da Selic foi a inflação ainda resistente e acima do teto da meta de 6,5% ao ano determinada pelo governo.
"A decisão visa frear a inflação que, ao contrário do que o Bando Central esperava, mostra resistência, e tem ainda como e objetivo de recuperar a credibilidade da política monetária para recobrar as expectativas positivas após os embates", disse Loyola ao Broadcast, serviço de notícias em tempo real da Agência Estado.
Loyola lembrou que a comunicação feita recentemente pelo o BC sinalizava que a "porta não estava totalmente fechada" para novas altas. O ex-presidente da autoridade monetária, no entanto, considerou que a decisão do aumento na Selic era esperada pelo mercado para um médio prazo, entre o final deste ano e 2015.
"Tinha um campo minoritário que apostava nisso (alta ainda este ano) e um número maior achava que viria mais adiante. Na Tendências tínhamos um 'call' do aumento para ano que vem", concluiu
Bersi Brasil
O aumento decidido na 186ª reunião do Copom , indica que o Banco Central (BC) retomou o ciclo de alta, disse ao Broadcast o economista-chefe do Besi Brasil, Jankiel Santos.
De acordo com ele, em dezembro a Selic deve ter nova elevação porque, se o BC está mirando a inflação, 0,25 ponto não será suficiente para conter a taxa.
Sobre o placar dos votos, que contou com três contrários à elevação da Selic de 11% para 11,25% ao ano, o economista entende que há no board do BC gente que discorda que a inflação estaria descontrolada.
Fecomércio - RJ
A alta surpreendeu a Federação do Comércio do Estado do Rio de Janeiro (Fecomércio RJ).
"O Copom (Comitê de Política Monetária) parece não ter dimensionado bem o momento vivido pela economia doméstica ao elevar os juros básicos. Diante dos comportamentos recentes da atividade econômica, das contas públicas e dos índices de preços, o Banco Central preferiu não reconhecer a limitação do arrocho monetário como estratégia de controle da inflação a todo custo", cita a entidade, em nota.
Para a Fecomércio RJ, a alta dos juros já cumpriu seu papel na ponta.
"Com 70% da dívida do país atrelados à Selic, elevações dos juros já observadas, além de terem inibido o consumo das famílias, o giro das empresas e investimentos em geral, ainda impactaram a condição das contas públicas. O aumento da Selic prejudica, portanto, o reaquecimento da economia e a saúde das finanças públicas", destaca a nota.
A nota da Fecomércio RJ diz, ainda, que uma vez concluído o processo eleitoral, "uma agenda estrutural e ampla se desenha".
"Hora de entender as raízes dos desafios em jogo e avançar em reformas, como a tributária, em detrimento de ações pontuais, limitadas no tempo e em sua abrangência, por um círculo virtuoso de desenvolvimento no Brasil".
Global Invx Partners
O mercado recebeu positivamente a alta de 0,25 ponto porcentual na Selic. Para Eduardo Velho, economista-chefe da Global Invx Partners, a elevação para 11,25% ao ano surpreendeu, mas foi também uma sinalização importante e positiva para os agentes do mercado.
"Achávamos que o BC ia esperar o câmbio flutuar e que subisse a taxa apenas em dezembro, não agora. É um sinal muito positivo para o início do segundo mandato", observou.
Segundo Velho, é até possível que depois dessa alta de hoje as taxas futuras médias e longas, amanhã, passem por uma correção para baixo.
"O governo, com isso, parece querer converter as expectativas", disse. "É um sinal de que âncora fiscal e monetária devem surpreender. O governo indica que quer restabelecer o tripé macroeconômico e a confiança."