Economia

Lobby climático é um grande negócio, mostra estudo

Investidas do setor de combustíveis fósseis para influenciar regulações climáticas nos EUA superam as de organizações ambientais e do setor de renováveis

Emissões saindo de uma usina de energia. (Digital Vision/Thinkstock)

Emissões saindo de uma usina de energia. (Digital Vision/Thinkstock)

Vanessa Barbosa

Vanessa Barbosa

Publicado em 20 de julho de 2018 às 16h42.

São Paulo - Lobistas gastaram entre 2000 e 2016 mais de dois bilhões de dólares para influenciar legislações e políticas relativas às mudanças climáticas no Congresso americano, de acordo com um novo estudo realizado por pesquisadores da Universidade Drexel, nos Estados Unidos.

Setores que poderiam ser afetados negativamente por projetos de lei que limitam as emissões de dióxido de carbono (gás de efeito estufa vilão do clima), como o setor de eletricidade, as empresas de combustíveis fósseis e as empresas de transporte, desembolsaram as maiores quantias.

Os esforços de lobby dessas indústrias superaram as investidas somadas das organizações ambientais, da indústria de energia renovável e de grupos de voluntários.

Os resultados do estudo foram publicados na revista Climatic Change, da Springer. Para chegar a esse número, os pesquisadores analisaram dados de relatórios obrigatórios de lobby nos EUA compilados pelo Centro de Política Responsiva (organização de transparência política) e disponibilizados no site Open Secrets.

Eles descobriram que os dois bilhões de dólares gastos no período de 2000 e 2016 em questões relacionadas ao clima representavam 3,9% dos 53 bilhões de dólares gastos no mesmo período em lobby sobre outras questões nos EUA.

“A opinião pública é um fator muito importante para decidir o que o Congresso fará”, disse Robert J. Brulle, principal pesquisador do estudo e sociólogo da Universidade Drexel.

Porém, segundo ele, o dinheiro gasto em lobby tem uma influência muito maior em Washington do que a opinião da maioria dos americanos que apoiam a ação do governo para lidar com o impacto do aquecimento global e da mudança climática.

O setor de utilidades elétricas gastou cerca de 554 milhões de dólares em lobby durante o período de 16 anos examinado pelo estudo (26,4% de todas as despesas de lobby relativas às mudanças climáticas).

De acordo com Brulle, esses números não cobrem o dinheiro gasto em atividades como publicar artigos em mídia eletrônica ou impressa ou campanhas de relações públicas.

O estudo também mostrou que a quantia gasta em lobby sobre mudanças climáticas variava dependendo do cronograma da legislação proposta e das audiências do Congresso.

Entre 2000 e 2006, apenas cerca de 50 milhões de dólares (2% do total de lobby) foram gastos. Mas as despesas aumentaram significativamente nos anos seguintes, atingindo um pico em 2009 de 362 milhões de dólares - 9% do total gasto em lobby naquele ano.

Após um ligeiro decréscimo em 2010, os esforços de petição climática caíram drasticamente para cerca de 3% dos esforços gerais de lobby após 2011. O setor de combustíveis fósseis gastou 370 milhões de dólares e o setor de transportes gastou 252 milhões de dólares durante esse período.

Em contraste, os esforços das organizações ambientais e do setor de energia renovável constituíram, cada um, apenas cerca de 3% dos gastos com lobby climático.

Brulle diz que isso tem implicações importantes para o destino, o resultado e a natureza da futura legislação climática, que é amplamente determinada pela concorrência intrassetorial e interindustrial.

Ele diz que as atividades de organizações ambientais e organizações sem fins lucrativos frequentemente constituem esforços de mobilização de curto prazo e que isto é uma lacuna, dados os vastos gastos e a presença contínua de lobistas "profissionais".

Outro fator que torna mais sensível essa questão é fato do lobby ser conduzido longe dos olhos do público.

A pesquisa conclui que o controle sobre a natureza e o fluxo de informações para os tomadores de decisão do governo pode ser significativamente alterado pelo processo de lobby e criar uma situação de comunicação distorcida , que limita inclusive informações científicas precisas no processo de tomada de decisão.

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