Rebeldes comemoram a tomada da capital Trípoli (Patrick Baz/AFP)
Da Redação
Publicado em 2 de setembro de 2011 às 20h28.
Trípoli - As novas autoridades líbias, fortalecidas pelo apoio financeiro e político internacional, anunciaram esta sexta-feira a realização de eleições gerais dentro de 20 meses e a transferência do Conselho Nacional de Transição (CNT) para Trípoli na próxima semana.
Mustafá Abdul Jalil, presidente do Conselho Nacional de Transição líbio (CNT), afirmou em Benghazi (sul) que o órgão executivo encarregado da transição no país será transferido "na próxima semana" para Trípoli, sob controle das novas autoridades.
"Vamos a Trípoli na próxima semana. Trípoli é a nossa capital", declarou Abdul Jalil diante de líderes tribais e militares em Benghazi, agradecendo o apoio dado aos rebeldes por esta cidade, a segunda do país, situada mil quilômetros ao leste da capital.
O representante do CNT no Reino Unido, Guma al-Gamaty, disse ainda que foi "estabelecido um mapa do caminho preciso com um período de transição de 20 meses", um dia depois de a ONU e as grandes potências decidirem desbloquear 15 bilhões de dólares para ajudar o novo poder líbio a reconstruir o país.
"Durante oito meses, o CNT governará a Líbia até que uma assembleia eleita pelo povo" assuma o poder no país para redigir uma Constituição, e "no prazo de um ano (...) serão realizadas eleições", destacou o representante à BBC.
Quanto ao paradeiro de Kadhafi, Al-Gamaty disse que ele "se esconde, está isolado. É só questão de tempo antes que seja detido, a não ser que o matem, se resistir".
Carros com rebeldes da Brigada Mártir Zintan circulam perto do campo de batalha, no deserto próximo a Umm Qandil
O ex-homem forte da Líbia manifestou a intenção de continuar lutando. Em duas mensagens de áudio, divulgadas pela emissora Arrai, afirmou querer lançar uma "guerrilha" e descartou totalmente a possibilidade de se render.
"Preparem-se para uma guerra de bandos e guerrilhas, para a guerra urbana, e para uma resistência popular em cada cidade (...), para vencer o inimigo em todas as partes", disse em mensagem difundida na noite de quinta-feira.
Com o objetivo de reorganizar a mobilização de suas tropas, o CNT pediu a combatentes presentes na capital que voltem para casa porque "Trípoli está livre" desde 23 de agosto, quando conseguiram tomar o controle da cidade.
De qualquer forma, o CNT mantém suas tropas em algumas regiões do país, particularmente em Sirte, um dos grandes bastiões dos leais a Kadhafi e cidade natal do líder deposto, 360 km ao leste de Trípoli.
Mas, para dar uma chance às negociações com os líderes tribais com vistas a uma rendição da cidade, o CNT prorrogou em uma semana o ultimato, dando como prazo até 10 de setembro aos partidários de Kadhafi para que se rendam.
A situação em Sirte era tranquila esta sexta-feira e não foram registrados enfrentamentos, segundo um jornalista da AFP.
Os combatentes do CNT asseguraram, no entanto, que estão preparados para lançar uma ofensiva em Bani Walid, reduto pró-Kadhafi a sudeste da capital, assegurando que a prorrogação do ultimato só diz respeito a Sirte.
Tanto na linha de frente quanto nas aldeias vizinhas que ocupam, os combatentes aproveitam a semana de pausa e os três dias de celebração do Eid el Fitr, festa que marca o fim do mês de jejum muçulmano do Ramadã.
Kadhafi acusa os países participantes das operações da Otan de "quererem colonizar a Líbia e se apropriarem de seus recursos petroleiros".
Paris, Londres e a Otan afirmaram que as operações militares internacionais serão mantidas enquanto Kadhafi for uma ameaça.
Durante entrevista coletiva na quinta-feira, em Paris, a ONU e as grandes potências estabeleceram um mapa do caminho para o CNT, liberando imediatamente os 15 bilhões de dólares diante da promessa de democracia e reconciliação.
A União Europeia suspendeu as sanções contra 28 "entidades econômicas" líbias para ajudar a retomada da economia.
Segundo um diplomata, na próxima semana, o Conselho de Segurança da ONU poderia adotar uma resolução, suspendendo certas sanções contra a Líbia.
60 países apoiam a transição líbia
No entanto, a ajuda financeira e o apoio político têm sua contrapartida. A secretária de Estado americana, Hillary Clinton, pediu aos dirigentes da "nova Líbia" para "combater o extremismo", depois que surgiram dúvidas de que certos membros do CNT teriam vínculos com os islamitas da rede Al-Qaeda.
"Dizer que há extremistas armados na Líbia é repetir o que dizia Kadhafi", rebateu o "ministro" do Interior do CNT, Ahmed Darrat.
Em Benghazi, reduto da rebelião durante o conflito, os moradores repetem quase de forma unânime mensagens a favor da unidade e da reconciliação, embora haja vozes que continuem pedindo vingança.
Por outro lado, o país trabalha a duras penas para recuperar sua capacidade de produção de petróleo, que antes do conflito era de 1,7 milhão de barris diários, noticiou esta sexta-feira a revista Middle East Economic Survey (MEES).
Autoridades da Líbia asseguraram à publicação que antes de outubro o país estará produzindo entre 100.000 e 120.000 barris diários e, paulatinamente, este volume será aumentado até alcançar o nível anterior ao conflito, embora tenham reconhecido que isto "levará tempo".