Homem rezando com um terço árabe na Bolsa de Valores de Dubai, nos Emirados Árabes Unidos (Duncan Chard/Bloomberg)
João Pedro Caleiro
Publicado em 16 de setembro de 2014 às 16h11.
São Paulo - A liberdade de praticar uma (ou nenhuma) religião é um dos pilares da democracia, mas ela também pode levar a consequências econômicas negativas e crescimento menor se não tiver seus excessos contidos.
Esta é a conclusão de um estudo que será apresentado este mês na Georgetown University por Shaomin Li, da Old Dominion University, Ilan Alon, da Rollins College, e Jun Wu, da Savannah State University.
Primeiro, os autores definem liberdade religiosa com uma perspectiva de custo: se fica mais difícil acreditar, praticar e disseminar alguma crença, isso significa que a liberdade está sendo restringida.
Estes obstáculos podem ser de duas naturezas: social (a hostilidade das pessoas) ou governamental (leis e políticas do estado).
Para medir estas duas variáveis, eles utilizaram uma pesquisa de diversidade religiosa do Pew Research Center realizada em 200 países e cruzaram com dados de crescimento do PIB e do PIB per capita.
Resultados
Em relação à dimensão social, o que eles descobriram não surpreende: a falta de tolerância religiosa entre a população semeia a violência e a disputa entre grupos, o que atrapalha a capacidade que um país tem de fazer sua economia crescer.
Em relação à atuação do estado, a conclusão é outra: países com restrições mais fortes à religião tendem a ter crescimento econômico mais acelerado.
Para entender como isso acontece, os autores foram além e separaram estas "restrições religiosas" em dois lados: o quanto o governo restringe a religião como um todo e o quanto o governo favorece uma (ou mais) religiões em detrimento de outra(s).
No primeiro lado, estão fatores como o controle do proselitismo, da reza e do uso de símbolos religiosos no espaço público. No segundo, itens como ensino religioso nas escolas e a submissão do governo a interesses religiosos em questões legais.
O resultado? Os dois tipos de restrições tem efeitos opostos. Quanto maior a restrição geral e horizontal e menor a discriminação do governo entre as diferentes religiões, maior é o crescimento econômico.
Mecanismos
No estudo, os autores fazem uma analogia com o funcionamento do livre mercado em uma economia capitalista: "Em um mercado onde diferentes religiões competem por seguidores e recursos econômicos e sociais, uma liberdade sem regulação ou freio pode eventualmente levar a uma 'guerra de todos contra todos' (...) em certas circunstâncias as restrições governamentais à religião podem exercer uma influência positiva na performance econômica, análoga a uma economia livre que é regulada de forma justa e eficiente pelo governo".
Em resposta a EXAME.com sobre se isso se aplica ao caso brasileiro, Shaomin Li diz que "se a religião dominante ganha tratamento preferencial do governo e algumas religiões minoritárias são discriminadas, isso seria considerado 'liberdade de religião desenfreada'. Baseado no nosso estudo, hostilidades sociais envolvendo religião ou políticas e leis do governo que discriminam ou favorecem certas religiões são ruins para o crescimento."
A discussão entre religião e crescimento econômico vem dos tempos de Max Weber e seu clássico "A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo", mas está voltando para o meio acadêmico.
No início do ano, um estudo da Universidade de Harvard com base na prática islâmica do Ramadã concluiu que ela tem um efeito claro de diminuição do crescimento do PIB nos países analisados.