Economia

Liberação do FGTS deve impulsionar PIB de 2025 em até 0,2% e pressionar inflação, dizem economistas

Para além da liberação em si, a avaliação dos especialistas é que o governo sinaliza para medidas de estímulo em um momento de economia já aquecida — o que pode pressionar ainda mais a taxa de juros

André Martins
André Martins

Repórter de Brasil e Economia

Publicado em 6 de março de 2025 às 06h09.

Milhões de brasileiros vão sacar a partir desta quinta-feira, 6, o saldo remanescente do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) retido por participarem da modalidade de saque-aniversário.

Segundo estimativas do governo, 12 milhões de trabalhadores demitidos entre janeiro de 2020 serão beneficiados. Ao todo, serão injetados na economia R$ 12,1 bilhões.

O governo editou na última sexta-feira uma Medida Provisória que permite que trabalhadores demitidos desde 2020 e que aderiram ao saque-aniversário retirem o saldo remanescente de suas contas.

Segundo economistas e relatórios consultados pela EXAME, a medida terá impacto no PIB de até 0,2%, vai estimular o consumo e pode dificultar a queda da inflação.

Para além da liberação em si, a avaliação dos especialistas é que o governo sinaliza para medidas de estímulo em um momento de economia já aquecida — o que pode pressionar ainda mais a taxa de juros.

"O impacto no PIB não será grande, no máximo 0,1% a 0,2% de crescimento adicional neste ano, que já se prevê como um ano de crescimento mais baixo", afirma Sérgio Vale, economista-chefe da MB associados.

Vale também ressalta que, em geral, as medidas de estímulo, como o saque do FGTS, têm um impacto diluído na economia. "Essas coisas são diluídas e acabam aparecendo muito pouco, sendo difíceis de contabilizar”, diz.

O economista destaca que o problema central não é apenas o saque do FGTS, mas um conjunto de medidas que devem ser adotadas pelo governo para estimular a economia, entre elas a ampliação do consignado no setor privado e a isenção do imposto de renda.

"O governo está tentando impulsionar o crescimento, apesar do espaço fiscal estar encurtado", afirma Vale, apontando que o governo busca responder à baixa popularidade do presidente, em um movimento para garantir melhores resultados até 2026.

As últimas pesquisas de avaliação de governo mostram a queda da aprovação e alta da reprovação da gestão petista. A pesquisa Datafolha divulgada em fevereiro revelou a menor aprovação de Lula no histórico de seus três mandatos.

Vale também menciona a contradição no cenário atual, no qual o governo tenta estimular a economia em um momento em que a inflação está pressionada.

"Isso vai atrasar a política monetária, dificultando uma possível queda de juros no futuro e agravando o cenário econômico para 2026", diz

Para Vale, quanto mais o governo pressionar agora, mais difícil será o cenário de crescimento e a reeleição do presidente no futuro.

Em relatório da Warren Rena, os economistas Felipe Salto, Josué Pellegrini e Gabriel Garrote afirmam que a liberação pode indicar um aceno do governo a medidas de estímulo, em um momento que exige cautela fiscal e monetária. A avaliação é que a medida pode “penalizar” um ambiente já frágil.

"Com a economia operando acima do potencial, a decisão pode comprometer a trajetória da inflação e elevar a incerteza no ambiente macroeconômico", afirmam os economistas.

Os economistas apontaram ainda que na comparação com outros saques extraordinários realizados em anos anteriores, o valor é menor e pode reduzir o impacto real da liberação em 2025.

O levantamento da Warren Rena mostra que saques extraordinários do FGTS ocorreram em metade dos anos desde 2017, sempre com valores superiores ao projetado para 2025. Veja os principais:

  • 2017 (Contas inativas): R$ 43,6 bilhões (0,7% do PIB)
  • 2019 (Saque imediato): R$ 42,6 bilhões (0,6% do PIB)
  • 2020 (Saque emergencial): R$ 37,8 bilhões (0,5% do PIB)
  • 2022 (Saque extraordinário): R$ 30 bilhões (0,3% do PIB)
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