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Levy nega brecha na política, mas desafio a orçamento cresce

“Se as medidas de Levy não forem aprovadas, nós veremos todos os ativos se deteriorarem, incluindo os bonds”, diz especialista

EXAME.com (EXAME.com)

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Da Redação

Publicado em 2 de abril de 2015 às 14h39.

Brasília e São Paulo - O ministro da Fazenda Joaquim Levy passou boa parte do último fim de semana explicando que não teve intenção de criticar a presidente Dilma Rousseff em um discurso concedido a estudantes.

Para um ministro e um governo que tentam aprovar aumentos de impostos e cortes de gastos no Congresso para reforçar o orçamento e preservar o grau de investimento do Brasil, esse foi um revés indesejável.

Com os níveis de aprovação da presidente já em uma baixa recorde, a economia rumo à contração e à maior taxa de inflação em uma década, há pouco espaço para erros, segundo o Jefferies Group LLC e o BESI Brasil.

Embora os bonds locais do governo tenham tido um brevíssimo alivio após o fim de semana, eles estão registrando os piores prejuízos do mundo em dólares neste ano.

“Tudo depende da atmosfera política agora”, disse Jankiel Santos, economista-chefe do BESI Brasil em São Paulo, em entrevista. “Se as medidas de Levy não forem aprovadas, nós veremos todos os ativos se deteriorarem, incluindo os bonds”.

Os bonds soberanos locais do Brasil caíram 16 por cento neste ano em dólares, contra um ganho médio de 0,3 por cento das notas de mercados emergentes.

Os declínios foram impulsionados pela queda do real, moeda de pior desempenho entre os países emergentes, no primeiro trimestre, quando registrou a maior queda desde 2008.

Bonds em dólar

Os bonds soberanos em dólares tiveram desempenho pior que o de qualquer outro país emergente, exceto Ucrânia e Venezuela.

Dilma disse, em uma entrevista concedida na terça-feira, que fará o que for necessário para atingir a meta orçamentária do governo e que dava todo o seu apoio a Levy, um economista com doutorado pela Universidade de Chicago, que ganhou os holofotes após sua gafe.

No dia 24 de março, ele disse a estudantes em São Paulo que as medidas do governo nem sempre eram as mais fáceis ou as mais efetivas.

“Obviamente, estão tentando criar intriga em torno do ministro”, disse Dilma. “Levy disse que não há, necessariamente, uma única forma de se chegar a uma medida. Às vezes, eu até prefiro a mais rápida. Às vezes, é preciso construir, politicamente, outro caminho”.

A Moody’s Investors Service colocou o rating de grau de investimento do Brasil em perspectiva negativa em setembro, seis meses depois de a Standard Poor’s reduzir o país para próximo do grau especulativo.

Preocupações dos traders

A S&P reafirmou o rating do Brasil no mês passado, dizendo esperar que Dilma continue implementando medidas fiscais para reduzir o déficit do orçamento, inclusive nos estados e municípios, que subiu para 6,7 por cento do produto interno bruto em 2014.

Contudo, a queda dos preços dos ativos brasileiros mostra as preocupações dos traders de que, em meio à impopularidade de Dilma, o aumento da tensão na base do governo irá comprometer a aprovação das medidas de austeridade econômica, segundo Thais Zara, economista-chefe da Rosenberg Consultores Associados em São Paulo.

“A maior preocupação é a política”, disse ela em entrevista. “As pessoas realmente precisarão ver Levy entregando resultados compatíveis com as metas fiscais”.

O governo registrou um déficit orçamentário de R$ 58,6 bilhões (US$ 18,6 bilhões) em fevereiro, contra uma projeção média de uma diferença de R$ 28 bilhões dos analistas consultados pela Bloomberg.

Considerando a situação política difícil para Dilma, incluindo os pedidos de impeachment em meio à corrupção na Petrobras, Levy pode ter dificuldade para levar adiante medidas que promovam a estabilidade fiscal, segundo Siobhan Morden, chefe de estratégia de renda fixa para a América Latina no Jefferies, em Nova York.

“A má gestão das políticas é a razão dos problemas atuais”, disse Morden.

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