Joaquim Levy, ministro da Fazenda: sua prioridade é conter despesas (Wilson Dias/Agência Brasil)
Da Redação
Publicado em 17 de dezembro de 2014 às 14h30.
Brasília - O futuro ministro da Fazenda, Joaquim Levy, atuou como "zagueiro" e foi ao Congresso para frear a aprovação de uma medida que, em algum momento, teria impacto no caixa federal.
Após reunião no gabinete do presidente do Senado Federal, Renan Calheiros (PMDB-AL), com uma dezena de senadores, ele conseguiu o compromisso de que o projeto de lei que "perdoa" os incentivos fiscais do ICMS concedidos pelos estados como parte da guerra fiscal só será votado no ano que vem.
A proposta estava pronta para ser votada em plenário.
O perdão - ou, no termo técnico, remissão - dos incentivos em si não teria impacto no caixa federal.
Ocorre que o está perdão está, conforme acordo amarrado entre os Estados, condicionado pela redução da alíquota do ICMS nas operações interestaduais.
E essa, por sua vez, só ocorrerá se o governo federal liberar recursos para dois fundos: o primeiro, que cobre perdas dos estados com redução do ICMS e o segundo, que financia projetos de desenvolvimento nas unidades da Federação mais dependentes da "guerra fiscal".
No entendimento dos senadores, é esse gasto extra com os fundos atrelados à reforma do ICMS que Levy procurou brecar, diante da difícil situação das contas públicas em 2015.
Sua prioridade é conter despesas, e há diversas propostas em tramitação no Congresso Nacional caminhando na direção contrária.
Em uma hora e meia de conversa, Levy conseguiu que os senadores colocassem a discussão em banho-maria. "Demos um voto de confiança", disse o senador Gim Argello (PTB-DF).
"Demos o voto de confiança, mas que a convalidação vai ser votada, vai", completou a senadora Lúcia Vânia (PSDB-GO), relatora da proposta.
"Há novas equipes, novos governadores, novos senadores, novos secretários de Fazenda", comentou o senador Luiz Henrique (PMDB-SC), ao explicar por que os parlamentares concordaram em adiar a discussão para 2015.
A ideia, disse, é retomar as discussões após o carnaval, "a partir do já avançado." Levy se comprometeu a voltar ao Senado para dialogar.
O senador Eduardo Braga (PMDB-AM) disse que essa constatação da troca de equipes pesou no adiamento. "Não seria justo votar a matéria no Senado às vésperas da posse das novas equipes".
Os congressistas também acharam prudente dar um tempo para que Levy tenha uma visão global das complexas discussões sobre a reforma do ICMS que tramitam na Casa, já que ele é "novato" no posto de chefe da Fazenda.
"Vamos retomar as discussões a partir de fevereiro ou março", disse o senador Walter Pinheiro (PT-BA).
O curioso, notou um parlamentar, é que boa parte do desenho do pacote de reforma do ICMS, que Levy pediu para adiar, foi costurado com a bênção de seu colega de gabinete de transição - o futuro ministro do Planejamento, Nelson Barbosa.
Negociador do tema pelo governo federal até junho de 2013, quando deixou o posto de secretário executivo do Ministério da Fazenda, Barbosa não esteve ontem no Senado.
Como parte do voto de confiança, os senadores avaliam que Levy pediu o tempo para ter uma visão do conjunto em discussão e suas implicações econômicas. Não ficou claro se ele é a favor ou contra a proposta.
"Ele é um enrolão de primeira", comentou um parlamentar. "Fala, fala, fala e você não sabe o que está pensando."