Caminhão estaciona para ser carregado com soja em uma fazenda na cidade de Primavera do Leste, no Mato Grosso (Paulo Whitaker/Reuters)
Da Redação
Publicado em 31 de janeiro de 2014 às 15h58.
Sapezal - Sentado no alto de uma colheitadeira em Mato Grosso, o gerente de fazenda André Seibeneichler espera a lavoura secar após uma pancada de chuva para retomar a colheita da soja.
Satisfeito com os resultados até o momento, ele comemora: "Vai ser a melhor média já colhida aqui!".
Assim como nos 3.600 hectares administrados por Seibeneichler em Campos de Júlio, noroeste do Estado, são muitas as áreas de Mato Grosso que estão obtendo produtividades elevadas, acima da média nacional, e em alguns casos com impressionantes 70 sacas colhidas por hectare, devido a um clima ideal para as plantas e investimentos em tecnologia.
A média nacional de produtividade gira em torno de 50 sacas por hectare, segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) e consultorias.
Não muito longe dali, em Sapezal, a fazenda Tucunaré --com 38 mil hectares cultivados, do empresário e senador Blairo Maggi-- deve colher média de até 66 sacas por hectare, 10 sacas acima do esperado inicialmente, revelou um funcionário à Reuters.
"Houve áreas com boas chuvas. E a escolha de variedades tradicionais (não transgênicas) ajuda muito", disse ele.
Para se ter um exemplo, em amostras coletadas em oito fazendas visitadas por uma equipe da expedição técnica Rally da Safra na quinta-feira, na região de Sapezal, duas tiveram produtividade estimada em 70 sacas por hectare e outras três entre 60 e 62 hectares.
"Foi uma combinação de coisas. As medidas preventivas foram bem feitas, com aplicações de inseticidas e fungicidas. A combinação de clima foi bem distribuída, bem dentro do que a planta necessita. Bastante sol, calor e chuvas na medida", disse o analista Alan Malinski, que coordena uma das equipes do Rally.
A consultoria Agroconsult, que organiza o Rally da Safra, estimou, em meados de janeiro, a produtividade média de Mato Grosso em 52 sacas por hectare, mas os dados obtidos até agora indicam que este valor deve ser revisado para cima.
Primeiras Colheitas
Seibeneichler conta que apostou em variedades precoces de soja, de ciclo curto, para reduzir os riscos de incidência da doença fúngica conhecida como ferrugem asiática.
Com a soja menos tempo no campo, as plantas ficam menos expostas ao fungo, que se prolifera em clima úmido. "Quanto antes plantar e antes colher, maior é a chance de alta produtividade", disse o agricultor.
"Historicamente a soja precoce colhe menos. E se a precoce começou deste jeito (com alta produtividade em meio a um clima favorável), a tendência é melhorar ainda mais daqui para a frente", disse Malinski, lembrando que os resultados ainda dependem das chuvas no restante da temporada, já que um terço da soja ainda está em fases de desenvolvimento vulneráveis a clima adverso.
A Agroconsult estimou a colheita brasileira em 91,6 milhões de toneladas, antes do Rally. O número deverá ser revisado ao final da expedição, mas os bons resultados de Mato Grosso deverão garantir pelo menos 90 milhões de toneladas colhidas.
Também colabora para o ganho de produtividade o investimento em inovação, segundo os especialistas.
Os produtores de Mato Grosso têm o hábito de testar novas variedades de soja, lembrou o engenheiro agrônomo Eliandro Zaffari, da Aprosoja, que presta consultoria a agricultores da região norte de Mato Grosso.
"O produtor aqui faz mais experimentos. Todo ano ele planta uma parcela pequena com uma nova variedade de soja, para testar, de olho na produtividade da safra seguinte", disse.