Dilma Rousseff: milhões de dólares em contratos da Petrobras foram para executivos, empreiteiras e partidos políticos (Ueslei Marcelino/Reuters)
Da Redação
Publicado em 19 de dezembro de 2014 às 16h29.
Rio de Janeiro/Brasília - Quando a presidente Dilma Rousseff foi reeleita em outubro, as dificuldades econômicas do Brasil pareciam ser o maior desafio de seu segundo mandato. Não são mais.
O maior escândalo de corrupção da história do país agora ameaça travar o Congresso, minar a influência política de Dilma e prejudicar os esforços da presidente para colocar a economia de volta nos trilhos.
Centenas de milhões de dólares em contratos da Petrobras, controlada pelo Estado, foram para executivos, empreiteiras e partidos políticos, segundo o Ministério Público Federal e testemunhas. A polícia prendeu funcionários de empresas construtoras acusados de suborno e lavagem de dinheiro.
Com as maiores construtoras do Brasil envolvidas no caso, projetos de obras públicas fundamentais para a recuperação econômica podem ser paralisados. E Dilma, que presidiu o Conselho de Administração da Petrobras durante parte da suposta operação corrupta, enfrenta uma oposição mais forte em um Congresso em que muitos membros provavelmente estejam envolvidos no escândalo.
Isso fará com que seja mais difícil ganhar aprovação para suas propostas, o que inclui mudanças nas estruturas tributária e eleitoral.
“Sem dúvida esse escândalo criará uma crise institucional, fazendo com que o Congresso se mova a passo de tartaruga sobre outros assuntos”, disse Humberto Costa, líder do PT, o partido do governo e de Dilma, no Senado, em entrevista concedida no dia 9 de dezembro. “Esse escândalo dominará a agenda no ano que vem”.
Séculos de corrupção
Dilma disse ontem em uma cerimônia em Brasília que a corrupção é um mal que existe há séculos no país e propôs um “grande pacto nacional” para acabar com ela. A presidente prometeu recuperar a Petrobras sem enfraquecer a empresa.
“Temos que saber punir os crimes e não prejudicar o país ou sua economia”, disse ela. “Temos que fechar as portas -- todas as portas -- para a corrupção. Não temos que fechá-las para o crescimento, o progresso e o emprego”. A assessoria de imprensa da presidente preferiu não comentar essa reportagem.
O caso, chamado de Lava Jato, surgiu em março passado, quando a polícia começou a prender pessoas suspeitas de lavagem de dinheiro e outros crimes. Várias pessoas depois se tornaram testemunhas do Estado.
Em seus depoimentos, muitos deles divulgados pelo tribunal a cargo do caso, elas descrevem um cartel de empresas construtoras que durante anos fixou propostas para contratos com a Petrobras, pagou subornos para executivos da empresa e canalizou dinheiro para membros do Congresso e de partidos políticos, incluindo o Partido dos Trabalhadores.
O montante de dinheiro envolvido é muito superior ao de todos os escândalos de corrupção anteriores no Brasil. Uma unidade do Ministério da Fazenda está tentando reaver R$ 23,7 bilhões (US$ 8,9 bilhões) em transações consideradas suspeitas realizadas de 2011 para cá por pessoas e empresas citadas na Lava Jato para determinar o volume de fundos lavados ilegalmente.
Pedro Barusco, executivo da Petrobras que se tornou testemunha do Estado, concordou em devolver US$ 100 milhões, grande parte deles guardados em contas em bancos estrangeiros.
Computadores, telefones
As ações da Petrobras caíram 54 por cento nos últimos três meses, contra 15 por cento do índice de referência do país, o Ibovespa. A Petrobras disse no dia 27 de outubro que é uma “vítima” no caso e que está cooperando com as autoridades.
Os gerentes-executivos da empresa, incluindo a CEO Maria das Graças Foster, deram acesso aos seus computadores, telefones e escritórios a investigadores independentes, que têm um contrato de um ano para apurar as acusações de corrupção, disse Foster a repórteres no dia 17 de dezembro.
“Isso é bom para a empresa”, disse ela. “Nós não temos medo da verdade”. A empresa não respondeu a novos pedidos de comentários.
Rede de corrupção
Dilma foi presidente do Conselho de Administração da Petrobras entre 2003 e 2010. Em seu depoimento, Barusco disse que a rede de corrupção existia antes e durante o mandato dela. O conselho aprova todos os comunicados financeiros e grandes projetos. O presidente do Conselho não se envolve na administração cotidiana da empresa. Dilma disse no dia 8 de setembro que não teve conhecimento de corrupção na Petrobras quando era presidente do Conselho.
José Agripino, líder do partido de oposição DEM no Senado, disse em uma entrevista que a responsabilidade de Dilma é clara. “Ela terá que responder à Justiça, e não à oposição, pela perda de ativos públicos”, disse ele, no dia 9 de dezembro.
Fora dos corredores do governo, 68 por cento dos brasileiros dizem que Dilma tem alguma responsabilidade no escândalo de corrupção da Petrobras, segundo uma pesquisa do Datafolha com 2.896 pessoas, realizada no dias 2 e 3 de dezembro, com uma margem de erro de dois pontos porcentuais para mais ou para menos.
A aprovação do governo subiu de 48 por cento para 52 por cento em setembro, segundo pesquisa CNI/Ibope com 2.002 pessoas realizada entre 5 e 8 de dezembro, com uma margem de erro de dois pontos porcentuais para mais ou para menos.
O apoio continua 11 pontos porcentuais abaixo do nível anterior aos protestos de 2013, segundo a pesquisa. Aquelas foram as maiores manifestações do país nas últimas duas décadas.
Considerando a expansão do escândalo e a economia lenta, a taxa de aprovação do governo Dilma deverá cair, segundo João Augusto de Castro Neves, analista da firma de consultoria de risco político Eurasia Group. E depois do primeiro semestre de 2015, a capacidade da presidente de aprovar projetos de lei no Congresso diminuirá, disse ele.
“Ela pagou boa parte do preço político pelo escândalo de corrupção e ainda há mais por pagar”, disse ele.