Christine Lagarde: futura presidente do BCE falou sobre as medidas a frente do banco (Denis Balibouse/Reuters)
AFP
Publicado em 29 de agosto de 2019 às 17h55.
A futura presidente do Banco Central Europeu, Christine Lagarde, disse nesta quinta-feira (29) que deseja manter as medidas de apoio à economia da zona do euro do italiano Mario Draghi - apesar de o atual presidente ser alvo de muitas críticas.
"Está claro que a política monetária precisa se manter muito acomodatícia em um futuro próximo", disse ela às respostas escritas ao Parlamento europeu publicadas nesta quinta-feira, no âmbito do processo de validação de sua nomeação à frente do BCE, que deve ser efetivada em 1º de novembro.
Ela indicou novos cortes nas taxas de juros para os bancos, que já estão em níveis historicamente baixos na zona do euro devido ao crescimento lento.
"Não acho que o BCE tenha chegado ao fundo do poço", afirmou a atual diretora-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI) e ex-ministra da Economia da França.
Portanto, Lagarde está alinhada com a política adotada até o momento pelo atual presidente do BCE, Mario Draghi, que decidiu por vários anos evitar uma queda para a deflação e uma nova crise na zona do euro, por meio de uma generosa provisão de liquidez no mercado e juros muito baixos.
Suas observações provavelmente serão mal percebidas, sobretudo na Alemanha, onde vários partidos políticos e especialmente o setor bancário acusam o BCE de arruinar os poupadores do país, colocando suas economias em contas de poupança.
Alguns bancos alemães já começaram a tributar seus clientes por suas contas de depósito. Outros ameaçam fazê-lo, como fez nesta semana a Federação de Bancos de Poupança.
Muitos alemães acreditam que a política generosa do BCE é feita para países problemáticos do sul da Europa, como Itália, Espanha, ou Grécia, mas não corresponde às necessidades de seu país.
Oliver Bäte, diretor da gigante alemã de seguros Allianz, disse que o BCE está errado, porque sua política "retira pressão sobre os governos da zona do euro para sanar suas finanças", disse ele na terça-feira em Frankfurt, diante do clube de imprensa econômica. Ele se refere aos países do sul da Europa que registram déficits fiscais, enquanto a Alemanha continua registrando superávits orçamentários confortáveis.
Até agora, Mario Draghi defendeu essa política, que oficialmente visa a estimular a inflação, hoje muito fraca, e que, por sua vez, apoiou o crescimento e o emprego.
Para Lagarde, Draghi tem razão. O BCE ainda está longe de ter ganhado sua aposta inflacionária, cujo índice se manteve nos últimos anos "consistentemente abaixo de níveis convergentes com a meta" da instituição, que é um pouco menos de 2%, destacou ela.
Como ele, Lagarde se preocupa com a conjuntura geral da área da moeda única. "A expansão econômica da zona do euro desacelerou recentemente", e "as perspectivas de crescimento são baixas", justificando a necessidade de medidas de apoio, afirmou nas respostas.
Ao mesmo tempo, está "claro que os juros baixos têm implicações para o setor bancário e a estabilidade financeira em geral", afirmou ela. Essa é uma forma de tentar apoiar a Alemanha e seu setor bancário.
O conselho dos governadores de 25 membros do BCE está dividido sobre este tópico.
O governador do Banco da Holanda, Klaas Knot, declarou nesta quinta que a economia da zona do euro não está fraca o suficiente para justificar a retomada das compras de dívidas.
O presidente do alemão Bundesbank, Jens Weidmann, candidato malsucedido à presidência do BCE, não vê "qualquer razão para entrar em pânico".
A próxima reunião de política monetária da instituição alemã, em 12 de setembro, será acompanhada de perto, pois pode desaguar em medidas de apoio, com o relançamento do programa de compra da dívida do mercado, interrompido no fim do ano passado.