Economia

Kirchner enfrenta o desafio de lidar com a moratória parcial

A magnitude das consequências causadas moratória na economia está relacionada ao tempo que a Argentina levará para sair do atoleiro


	Protesto na Argentina: central sindical já adiantou que estuda organizar greve geral em meados de agosto
 (Marcos Brindicci/Reuters)

Protesto na Argentina: central sindical já adiantou que estuda organizar greve geral em meados de agosto (Marcos Brindicci/Reuters)

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Da Redação

Publicado em 31 de julho de 2014 às 19h10.

A presidente argentina, Cristina Kirchner, deve lidar com os efeitos do default seletivo declarado por duas agências de classificação de risco sobre a economia, já abalada pela recessão e pela inflação, em um momento em que aumenta a tensão social a um ano das eleições presidenciais.

A magnitude das consequências causadas moratória na economia está relacionada ao tempo que a Argentina levará para sair do atoleiro. Isso, segundo analistas consultados pela AFP, dependerá capital político do governo.

"Há um discurso épico que ajudou o governo nesta etapa de negociação com os fundos especulativos e que, com um resultado bem-sucedido, deixaria um capital político importante", disse Mariel Fornoni, diretora da consultoria Managment & Fit.

Esta oportunidade foi afastada na quarta-feira, quando uma agência de classificação de risco declarou o default parcial da Argentina após o fracasso das negociações entre o governo e os fundos especulativos que ganharam o litígio na justiça americana.

Fornoni advertiu que "o governo ainda poderá capitalizar um resultado se o caso se tratar de uma moratória 'express'", ou seja, uma suspensão de pagamentos resolvida em questão de horas ou dias.

Para a socióloga Graciela Romer, para além do nome que se quer dar à moratória, o certo é que haverá consequências na economia, que já se via em crise, e isso está presente nas expectativas negativas dos argentinos em relação ao próximo semestre, disse à AFP baseada em pesquisas de opinião pública em sua empresa homônima é especializada.

Pessimismo com ou sem moratória

"O default não é algo que esteja nas prioridades da agenda da sociedade, a preocupação se concentra em insegurança pública, inflação e queda dramática do poder aquisitivo", estimou Romer, prevendo -em convergência com Fornoni- que essas variáveis serão potencializadas com a moratória.

A socióloga considerou que o pessimismo "tem impacto muito forte sobre a imagem de gestão do governo nacional" e prevê uma tendência para a queda (da aceitação) no que resta do mandato, até as eleições presidenciais de outubro de 2015.

No mesmo sentido Fornoni considerou que "quando a economia sofre, o mau humor social aumenta e portanto a variável econômica é muito sensível no momento do voto".

Em pesquisa realizada neste mês pela Managment & Fit, 34,5% dos entrevistados avaliaram como positiva a conduta do governo na negociação com os fundos especulativos, enquanto 31,6% disseram que foi regular e 28,5% consideraram ruim.

Na hora de buscar os responsáveis pela moratória, 44,2% acreditam que a responsabilidade é do governo. As consequências, de acordo com os pesquisados, serão a maior inflação (38,3%), a recessão (25,3%) e a depreciação da moeda (13,2%).

"Sem dúvida, haverá neste contexto maior desemprego e aumento da tensão social. Veremos se os aliados sindicalistas, com os quais o governo sempre contou, poderão resistir à pressão para abandonar o barco", disse Fornoni.

A Confederação Geral do Trabalho (CGT), central sindical opositora ao governo, já adiantou que estuda organizar uma greve geral para meados de agosto.

Influente, a central reclamará a deterioração dos salários, enquanto os sindicatos aliados devem se manter à margem das paralisações.

Para o analista político Rosendo Fraga, o governo tentará impor daqui em diante uma "euforia nacionalista".

"Mas (a tentativa) pode se tornar antes do fim do ano uma decepção", alertou.

Se o cenário negativo é anterior ao default, a moratória acentuará a retração da economia, "mas a maneira como isso vai impactar as campanhas presidenciais de 2015 é relativa", alertou Fornoni.

"Não se pode esquecer que toda a eleição é, em última instância, um plebiscito entre mudança e continuidade. E em uma crise as pessoas tendem a escolher a continuidade, o voto é sempre conservador", avalia a analista.

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