Economia

Kawall, do Safra: impopular é não ter emprego

Não é de hoje que o economista Carlos Kawall defende um limite para o crescimento dos gastos públicos. O atual economista-chefe do Banco Safra foi secretário do Tesouro Nacional durante a gestão do ex-ministro da Fazenda, Guido Mantega, em 2006. A passagem durou apenas 9 meses. Kawall diz que pediu demissão por razões pessoais, mas a suspeita é […]

CARLOS KAWALL: a dívida só voltará ao patamar atual em 2030 / Divulgação (Divulgação/Divulgação)

CARLOS KAWALL: a dívida só voltará ao patamar atual em 2030 / Divulgação (Divulgação/Divulgação)

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Letícia Toledo

Publicado em 16 de junho de 2016 às 12h44.

Última atualização em 22 de junho de 2017 às 18h48.

Não é de hoje que o economista Carlos Kawall defende um limite para o crescimento dos gastos públicos. O atual economista-chefe do Banco Safra foi secretário do Tesouro Nacional durante a gestão do ex-ministro da Fazenda, Guido Mantega, em 2006. A passagem durou apenas 9 meses. Kawall diz que pediu demissão por razões pessoais, mas a suspeita é que ele deixou o cargo por se sentir desconfortável com o aumento de gastos do Governo. Durante a formação da equipe econômica do governo Michel temer, ele foi um dos nomes mais cotados para assumir a presidência do Banco Central. Em entrevista a EXAME Hoje, Kawall elogia o projeto que limita os gastos do governo, mas afirma que isso não é suficiente para conter os gastos públicos.

A PEC do teto é o maior projeto econômico do atual governo até aqui. Mesmo assim, ela foi entregue ao Congresso sem muito alarde e com apenas três páginas. A proposta veio conforme o esperado?
O que a gente sabe é que tentou-se incluir alguns pontos importantes na PEC – como questões ligadas aos benefícios sociais e ao abono salarial. São coisas que evidentemente foram colocadas para os líderes políticos, para o presidente. Eu gostaria que conseguíssemos avançar em muitas frentes ao mesmo tempo, mas tem uma avaliação política nessas medidas. Na previdência social, por exemplo, no ano 2000 o governo Fernando Henrique apresentou uma proposta muito bem desenhada e que não passou no Congresso. Aí não adianta.

O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, tem defendido que conter a dívida é o mais importante. A PEC é capaz de resolver esse problema?
A medida traz uma mudança radical na relação dívida/PIB. Nas nossas contas, em 2025, o gasto da União pode cair em até seis pontos percentuais do PIB em relação ao que ele seria na ausência do teto. Agora, mesmo com o teto, a relação entre dívida e PIB só se estabilizaria em 2022. Até lá, a dívida vai alcançar 86,5% do PIB do país. A PEC não é a solução definitiva para o endividamento público. Pelas minhas contas, a dívida só vai voltar aos 67% do PIB, que temos esse ano, em 2030. Esse é o tamanho do problema em que o país se encontra.

O que o Governo precisa fazer para acelerar a redução da dívida?
A gente precisa da reforma previdenciária, que já está anunciada. Sem ela, a queda da dívida não virá porque os gastos com previdência só aumentam e tornam a redução da dívida inviável. É preciso atacar também os gastos com a Lei Orgânica de Assistência Social e o abono salarial, que crescem em um ritmo preocupante.

A PEC do teto pode encontrar dificuldades no Congresso. Reformas assistenciais e da previdência não são ainda mais impopulares?
Impopular é não ter emprego, é pagar muito imposto. Então, dizer que uma reforma da previdência é impopular é muito relativo, tem que ver pra quem é impopular. Para a população em geral, que sofre com desemprego e impostos altos essas reformas talvez não sejam tão impopulares, ainda mais se isso ajudar a diminuir da carga tributário ou ainda no desemprego.

(Letícia Toledo)

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