Sede do BC: projetar os passos do Copom é a difícil missão dos economistas (Divulgação/Banco Central)
Da Redação
Publicado em 19 de julho de 2011 às 08h33.
São Paulo – Embora a mediana das projeções dos analistas divulgada pelo boletim Focus mostre que o Banco Central (BC) deve encerrar o ciclo de aperto monetário em agosto, com a Selic chegando a 12,75%, há instituições que têm percepção distinta da maioria.
EXAME.com ouviu dois economistas que estão em pontas opostas no mercado para entender quais são os fatores que embasam as suas respectivas avaliações.
Flávio Serrano, do BES Investimento, acredita que os diretores do Comitê de Política Monetária (Copom) vão encerrar o ajuste dos juros nesta quarta-feira (20), com a Selic passando de 12,25% para 12,50%.
Já Mauro Schneider, do Banif Investment Bank, vislumbra mais cinco altas de 0,25 ponto, com a Selic atingindo 13,50% no começo do ano que vem.
Em resumo:
Instituições | Selic ao término do aperto |
---|---|
Boletim Focus (mercado) | 12,75% |
BES Investimento | 12,50% |
Banif Investment Bank | 13,50% |
O Banco Central jamais dirá com antecedência o momento exato em que pretende encerrar o ciclo de aperto monetário. Porém, uma boa comunicação com o mercado evita ruídos e ajuda a trazer as projeções inflacionárias para o centro da meta.
Para isso, a instituição pública possui diversos canais de comunicação, como a ata do Copom, o relatório trimestral de inflação e os discursos de seu presidente, Alexandre Tombini.
Os recentes sinais emitidos pelos BC ajudaram a formar um consenso de que a reunião desta quarta-feira será uma repetição da anterior, com mais um aumento de 0,25 ponto percentual. A partir daí, há divergências sobre o que será feito.
“O Banco Central encerra o ciclo nesta quarta-feira muito mais pelos sinais que foram emitidos do que pelo cenário inflacionário”, avalia o economista do BES Investimento, Flávio Serrano.
“O BC acha que as medidas já adotadas ainda vão surtir efeito na economia. Além disso, até o final do ano, os índices mensais de inflação vão rodar dentro de uma banda de 0,35% a 0,40%, o que estaria em linha com a meta anual de 4,5%”, diz Serrano.
Uma boa pista sobre os próximos passos do Copom estará no comunicado a ser divulgado após a reunião, que pode ou não trazer a expressão “suficientemente prolongado” utilizada nos dois últimos encontros do colegiado para destacar o rumo da política monetária.
O economista-chefe do Banif Investment Bank, Mauro Schneider, considera “pouco razoável” que o Banco Central "abra mão do grau de liberdade que a expressão 'suficientemente prolongado' proporciona em meio a tantas incertezas externas".
“O comunicado da reunião passada continua muito atual. A não ser que aconteça um cenário de crise semelhante a 2008, que esfriou a economia brasileira, eu acredito que o ciclo de aperto monetário precisará ser mais longo que o previsto pelo mercado. Caso contrário, fica difícil cumprir a meta de inflação em 2012”, diz Schneider.
Inflação
O economista do Banif vê com preocupação os aumentos salariais acima da inflação. “O mercado de trabalho ainda está apertado e o salário mínimo de 2012 (deve ter reajuste de 14%) é um farol para as negociações sindicais. Além disso, o crescimento da massa salarial acima dos ganhos de produtividade cria um ambiente propício para elevação de preços. Eu acho que o risco é grande de o BC ficar muito distante da meta no próximo ano.”
Na visão de Flávio Serrano, o Banco Central está com um horizonte maior do que simplesmente a inflação de 2012. “Nas simulações do BC, a inflação já está rodando abaixo de 4,5% em 2013. Então, para não exagerar nos juros agora, ele abriria mão de cumprir a meta à risca em 2012 porque ele sabe que a inflação está convergindo para 4,5% ao longo do processo. O horizonte relevante de tempo para ele aumentou, agora é de 24 meses. Portanto, se ele vê que não haverá estouro da meta em 2012 e avalia que a inflação está convergindo para o centro da meta em 2013, ele pode se sentir mais confortável e parar agora.”
Embora tenha a leitura de que o Copom encerrará o ciclo de alta dos juros nesta quarta-feira, Flávio Serrano salienta que o ideal seria mais uma ou duas elevações de 0,25 ponto. “A inflação de serviços só vai ceder quando piorar o mercado de trabalho”, diz o economista do BES Investimento.