Primeiro-ministro do Japão, Shinzo Abe: agenda neste ano foi marcada por medidas polêmicas (Toru Hanai/Reuters)
Da Redação
Publicado em 19 de dezembro de 2014 às 20h09.
Tóquio - Com as eleições deste mês de dezembro, o Japão apostou mais uma vez no "Abenomics", fórmula para revitalizar a economia criada pelo primeiro-ministro Shinzo Abe, cuja agenda neste ano também foi marcada por medidas polêmicas, como a reinterpretação da Constituição pacifista e a reativação das usinas nucleares.
O mês de abril, início do ano fiscal no Japão, trouxe o primeiro aumento de impostos sobre o consumo no país em 17 anos, medida especialmente temida em uma nação muito sensível a este tema.
As piores previsões foram cumpridas, já que o aumento do IVA atingiu o motor da terceira maior economia do mundo, o consumo, e dissipou boa parte dos lucros colhidos - pelo menos no terreno macroeconômico - pelo "Abenomics" desde a chegada ao poder do chefe de Governo japonês no final de 2012.
Diante desta conjuntura, Abe atrasou um segundo aumento dos encargos pactuado pelo Parlamento para 2015 e optou por uma manobra que desconcertou tanto fora quanto dentro do Japão: convocou eleições para a metade do mandato, sem nenhum tipo de assédio da opinião pública ou do Congresso.
Deste modo, o pleito, convocado em um momento no qual a oposição no Japão estava fraca, foi tomado como um referendo sobre sua gestão.
A manobra, legitimada finalmente pelo voto dos japoneses, lhe outorgou carta branca para executar a segunda fase de seu experimento monetário, que caso fosse bem-sucedido, o manteria no poder até 2016, uma proeza no Japão, onde na última década foram vividas oito mudanças de primeiro-ministro.
Mas para tirar definitivamente o país da deflação que sofre há duas décadas, o "Abenomics" deverá encarar neste ano seu teste mais difícil: ativar uma série de ansiadas reformas estruturais para estimular a competitividade.
A verdadeira "arte" política de Abe será medida em 2015 por sua capacidade de conseguir acordos dentro de seu partido - composto por uma dezena de facções movidas por interesses e grupos de pressão diversos - que permitam liberalizar setores como o agrícola e o de serviços.
Abe e sua legenda, o conservador Partido Liberal-Democrata (PLD), se esforçaram para focar exclusivamente a recente campanha eleitoral neste tema econômico e para evitar assim outras políticas que marcaram sua agenda neste ano e que dividiram muito mais a opinião pública japonesa.
Um deles foi a reinterpretação da Constituição pacifista do país para poder ajudar militarmente seus aliados se estes forem atacados, algo que até agora era limitado pelo artigo 9, que impede o país de usar a força para resolver conflitos internacionais.
A decisão divide os que defendem que Tóquio deve ter um papel mais preponderante na cena internacional e resistir à pujança chinesa e àqueles que sustentam que isso abre a porta para uma nova militarização do país.
Em matéria de política externa, Abe conseguiu pelo menos o apoio de Obama, que visitou a região em abril e em Tóquio verbalizou pela primeira vez o apoio de Washington perante uma hipotética tentativa de Pequim de tomar o controle de ilhas administradas pelo Japão e que são reivindicadas pelo governo de Xi Jingpin.
O outro tema que contrariou a maioria do povo é a intenção do governo Abe de voltar a reativar a energia nuclear no país após o acidente na usina de Fukushima, provocado pelo terremoto e tsunami de março de 2011.
O plano teve importantes avanços em 2014, já que a Autoridade de Regulação Nuclear apresentou no verão novos padrões de segurança mais estritos para as usinas que queiram voltar a operar.
Duas delas, a de Sendai (sudoeste) e Takahama (oeste), já conseguiram a aprovação do organismo e, provavelmente, devem voltar a funcionar em 2015, pondo um ponto final ao blecaute nuclear no Japão.