O premiê do Japão, Shinzo Abe, reúne-se com mulheres embaixadoras em Tóquio (Kimimasa Mayama/AFP)
Da Redação
Publicado em 10 de setembro de 2014 às 14h18.
Tóquio - Com as mulheres durante muito tempo relegadas à vida de dona casa, a mão de obra feminina se tornou prioridade para o governo japonês diante da falta de trabalhadores disponíveis para as empresas, que deverão, agora, superar seus preconceitos sexistas.
"Uma sociedade em que as mulheres brilhem". Este é desejo do primeiro-ministro conservador Shinzo Abe.
Entretanto, será necessário mais do que boa vontade, acredita a socióloga Muriel Jolivet, especialista em Japão.
"É preciso, sobretudo, uma revolução em um país que não se caracteriza exatamente pela rebeldia".
Sob o impulso de um governo que acaba de nomear cinco mulheres para o seu gabinete, um movimento favorável parece tomar forma.
Várias empresas se comprometeram recentemente a promover mais mulheres a cargos de maior responsabilidade.
Foi o caso da Panasonic e da Toyota, por exemplo.
Os obstáculos, no entanto, são muitos. "É melhor avançar passo a passo para evitar fracassos contraprodutivos", disse o executivo da Nissan, o brasileiro Carlos Ghosn, que considera bastante "ambicioso" o objetivo do primeiro-ministro de, em 2020, 30% das mulheres ocuparem postos altos nas empresas.
Atualmente, esse percentual é de 11%.
O fabricante de automóveis projeta aumentar seus atuais 7% para 10% em 2017. "Não quero correr riscos", assegura o diretor que afirma "rejeitar uma decisão artificial para entrar na moda do momento".
Jolivet alerta para o risco de se promover as mulheres para cumprir metas, a qualquer preço. "Sempre fica a dúvida sobre quem ocupa o cargo por mérito próprio e quem ocupa por cota".
Casamento, uma boa solução
As interessadas não têm necessariamente muita vontade de ocupar esses postos, que costumam oferecer "condições de trabalho desumanas".
Aquelas que conciliam trabalho e vida familiar podem viver um pesadelo caso tenham um chefe pouco compreensivo.
Comentários grosseiros, sobrecarga de trabalho e até rompimento de contrato são habituais no mercado de trabalho japonês. A ponto de, por medo de "incomodar", uma preocupação constante da sociedade nipônica, muitas mulheres nem sequer tiram a licença maternidade que têm direito.
Apesar da adoção em 1985 de uma lei sobre igualdade de oportunidades no emprego, "o mundo empresarial é muito masculino, igual ao mundo da política", explica a socióloga.
Símbolo do sexismo, as "O.L." (office lady), que há algum tempo viravam esposas de jovens funcionários, podem agora ter maiores ambições, como a de construir uma carreira em igualdade de condições com os homens.
"Mas ao custo de muitos sacrifícios, como aceitar voltar para casa todos os dias à meia-noite ou ser transferidas sem aviso prévio para outra ponta do país, lamenta Muriel Jolivet. "Por isso que o casamento ainda é visto como uma boa solução", opina.
Mudar a forma de trabalhar
São muitas as que deixam o emprego quando se casam e têm filhos e só voltam a trabalhar, geralmente por meio período, quando eles já estão maiores.
O resultado é que a taxa de atividade média da mulher costuma ser em torno de 63%, longe dos 80% dos homens.
Kimie Iwata, presidente do Instituto do Japão para a Promoção das Mulheres e da Diversidade, espera pelo menos que a mentalidade do país mude, não só pela preocupação pela igualdade, mas também pelo imperativo econômico.
"Muitas empresas tomam iniciativas como a de proibir horas extras na quarta-feira ou de apagar as luzes às 20H00", diz Iwata, reconhecendo que é necessário ir além. Trata-se de "mudar a forma de trabalhar" para melhorar a produtividade, que é muito mais baixa no Japão do que em outros países, e deixar tempo para a vida privada.
Em um país onde a população em idade de trabalhar diminui significativamente - 87 milhões em 1995, 66 milhões em 2013 e segundo as projeções serão 57 milhões em 2030 (quase o número de trabalhadores ao fim da Segunda Guerra Mundial)-, é urgente tomar uma atitude.