Itália: a UE calcula que o orçamento pode aumentar o déficit em 2,9% em 2019 (Elisabetta A. Villa/Getty Images)
AFP
Publicado em 14 de novembro de 2018 às 15h53.
O governo italiano pediu a Bruxelas "flexibilidade", alegando "gastos excepcionais" vinculados ao desabamento da ponte Morandi, em Gênova, e a fenômenos climáticos - argumento que não convenceu a Comissão Europeia, irritada com a política anti-austeridade de Roma.
Em 23 de outubro, Bruxelas já havia rejeitado o plano orçamentário italiano e pediu ao governo para corrigi-lo antes da meia-noite de terça-feira, mas Roma decidiu manter suas mudanças, com uma previsão de déficit de 2,4% do PIB para o ano que vem.
Em uma carta enviada à Comissão Europeia, o ministro da Economia, Giovanni Tria, destaca que sua previsão de déficit de 2,4% do PIB para o próximo ano representa um "limite intransponível".
Também explica que os orçamentos dos três próximos anos serão afetados por gastos "excepcionais" equivalentes a 0,2% do PIB por causa das tempestades que afetaram a Itália em outubro e novembro, assim como pelas consequências do desabamento da ponte Morandi.
"Com este objetivo, a lei de finanças destina um bilhão de euros em 2019 especificamente para a segurança e manutenção das infraestruturas da rede viária, incluindo viadutos, pontes e túneis", indica Giovanni Tria.
As intempéries, com ventos violentos e inundações, causaram 30 mortes no país no final de outubro.
Somou-se a isso a tragédia em agosto do viaduto de Gênova, que deixou 43 mortos, que também forçou um "plano de manutenção extraordinária" para garantir a segurança da rede rodoviária. A lei de finanças vai lhe destinar 1 bilhão de euros em 2019, explica Tria.
O ministro também defende a lógica de sua lei de orçamento, considerando "prioritárias" a "reativação do crescimento" da terceira maior economia da zona do euro e a "desaceleração" da economia observada nos últimos meses.
É também "prioritário e urgente", segundo ele, enfrentar as consequências sociais: Roma quer lançar uma renda básica de 780 euros para ajudar as pessoas mais pobres e sua inserção no mercado de trabalho.
Os argumentos da Itália foram criticados pelo ministro holandês de Finanças, Wopke Hoekstra, que considera "surpreendente e decepcionante" que a Itália modifique seus orçamentos quando suas contas públicas não vão bem.
Para o economista Rabobank, Maartje Wijffelaars, "investidores têm razão de estar preocupados", já que a Itália "não pode se permitir expandir seu orçamento com um crescimento tão fraco e lucros limitados".
Para reduzir sua dívida, o governo decidiu privatizar uma éqiema árte de su patrimônio público. Com isso, Roma espera reduzir sua dívida de 131,2% do PIB, em 2017, para 126%, em 2021.
É improvável, no entanto, que os mercados e a Comissão se sensibilizem com esses argumentos.
A Comissão calcula que as medidas previstas no orçamento podem aumentar o déficit em 2,9% no próximo ano e, em 3,1%, em 2020. Portanto, prevê um crescimento de 1,2%, enquanto Roma prevê 1,5%.
Ao se recusar a alterar seu orçamento, Roma está exposta à abertura de um "procedimento de déficit excessivo", que pode gerar multas financeiras correspondentes a 0,2% de seu PIB (cerca de 3,4 bilhões de euros).
De acordo com Lorenzo Codogno, fundador da empresa LC Macro Advisors, "a Comissão cumprirá o primeiro passo para levar a Itália ao procedimento de déficit excessivo quando divulgar uma atualização do relatório da dívida em 21 de novembro", explicou.
Até o fim de janeiro, a Itália entrará no procedimento de déficit excessivo e terá um prazo de três a seis meses para preparar o plano de correção, que lhe permitirá participar das eleições europeias sem obstáculos, disse o economista.
"Nada vai acontecer antes da eleição da nova Comissão Europeia", no outono de 2019, garantiu.
Depois de mostrar sinais de nervosismo de manhã, a Bolsa de Milão registrou queda limita de 0,74% em meados da sessão, enquanto o prêmio de risco (spread) chegou a 309 pontos de base, contra 304 na noite de terça.