Shein: compras de até US$ 50 terão isenção (Pavlo Gonchar/SOPA/Getty Images)
Repórter de Brasil e Economia
Publicado em 1 de agosto de 2023 às 07h40.
Última atualização em 1 de agosto de 2023 às 10h17.
Começa a valer nesta terça-feira, 1, a portaria que estabelece uma alíquota zero do imposto de importação sobre compras internacionais feitas pela internet de até US$ 50. A medida só vale para empresas que atenderem o plano de conformidade do governo, ou seja, que estiverem em dia com suas obrigações tributárias.
A regra de isenção nas compras de até US$ 50 valia exclusivamente para remessas entre pessoas físicas. Agora, passa a valer de empresa para consumidores. As compras online de até US$ 50, realizadas em empresas que não cumprirem com suas obrigações, continuarão sendo taxadas.
"Fica reduzida para 0% a alíquota do Imposto de Importação incidente sobre os bens integrantes de remessa postal ou de encomenda aérea internacional no valor de até US$ 50, ou o equivalente em outra moeda, destinados a pessoa física, desde que as empresas atendam aos requisitos do programa de conformidade, inclusive o recolhimento do tributo estadual incidente sobre a importação", cita a portaria da Fazenda.
A portaria foi anunciada mais de um mês após o Ministério da Fazenda e a Receita Federal afirmarem que iriam extinguir a isenção para o comércio internacional entre pessoas físicas no valor de até US$ 50. O governo defendeu que a regra era usada de forma irregular por varejistas internacionais, como a Shein e a Shopee, que usavam a opção de pessoa física para não pagar impostos.
Uma semana após o anúncio, o governo voltou atrás e afirmou que não iria acabar com a isenção. Haddad, na época, disse que o governo iria criar regras para endurecer o comércio internacional irregular.
Os consumidores das principais varejistas online podem sentir mudanças nos preços finais com a nova portaria.
Para as compras abaixo de US$ 50, apesar da isenção da taxa de importação, a cobrança do ICMS, com alíquota de 17% deve impactar nos preços. A cobrança não acontecia em muitos casos pela falta de fiscalização, o que vai mudar com os cadastros das empresas na Receita Federal.
Nas compras acima de US$ 50, o consumidor pode sentir diferença no preço mesmo sem aumento de impostos. Com as regras de conformidade, a possibilidade de sonegação diminui, de forma que empresas que antes usavam artifícios para driblar a cobrança, não conseguirão mais fazê-lo.
A Receita Federal estima que a isenção de imposto para compras internacionais de até US$ 50 provocará uma perda de arrecadação de R$ 35 bilhões entre 2023 e 2027, média de R$ 7 bilhões por ano. Os números constam em nota técnica do órgão disponibilizada via Lei de Acesso à Informação (LAI).
O Centro de Estudos Tributários e Aduaneiros (Cetad) da Receita calculou que a perda estimada, em valores arredondados, é de:
O potencial em 2023 não é exato, uma vez que a área técnica da Receita considerou os meses de julho a dezembro - a portaria do Ministério da Fazenda estabelece que a isenção começa no dia 1º de agosto. O cálculo utilizou informações sobre a quantidade de remessas postais e do frete e das remessas expressas, referentes ao ano de 2022, agrupados por faixas de valor em dólar, produzidas pelos Correios e pela Receita Federal, encaminhados ao Centro de Estudos pela Coordenação Geral de Administração Aduaneira (Coana).
O presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Robson Andrade, e o presidente do IDV, Jorge Gonçalves Filho, se reuniram com ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e afirmaram que a isenção poderá causar até 2,5 milhões de demissões.
Segundo o levantamento, o varejo demitiria 2 milhões de trabalhadores até o fim do ano; e a indústria, 500 mil. As entidades pediram a retomada da taxação dessa faixa de compra, para evitar prejuízos à economia e garantir isonomia entre os produtos importados e os produtos nacionais.