A proposta dos três países será comunicada em uma semana à Agência Internacional de Energia Atômica
Da Redação
Publicado em 10 de março de 2011 às 19h45.
Teerã - Irã, Brasil e Turquia assinaram nesta segunda-feira um acordo para a troca de urânio iraniano por combustível nuclear enriquecido a 20% em território turco, com o objetivo de superar a crise provocada pela política de enriquecimento de urânio de Teerã.</p>
O acordo foi assinado pelos ministros das Relações Exteriores dos três países na presença dos presidentes iraniano, Mahmud Ahmadinejad, e brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, e do primeiro-ministro turco, Recep Tayyip Erdogan. O projeto, resultado da mediação do Brasil, foi elaborado ao fim de 18 horas de negociações.
O acordo prevê o envio por parte do Irã à Turquia de 1.200 quilos de seu urânio levemente enriquecido (a 3,5%) para uma troca, em um prazo máximo de um ano, por 120 quilos de combustível altamente enriquecido (20%), necessário para o reator experimental de Teerã, anunciou o porta-voz do ministério iraniano das Relações Exteriores, Ramin Mehmanparast.
A proposta dos três países será comunicada em uma semana à Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA). "O local de armazenamento do urânio iraniano será a Turquia, sob a supervisão do Irã e da AIEA", declarou o porta-voz.
Caso as grandes potências aceitem a proposta, o Irã enviará dentro de um mês 1.200 quilos de urânio levemente enriquecido, completou Mehmanparast. A proposta tem como objetivo superar a crise entre o Irã e as grandes potências pelo programa nuclear iraniano e, em particular, o enriquecimento de urânio por Teerã.
O chanceler brasileiro Celso Amorim declarou que o acordo demonstra que "ainda é tempo para diplomacia e negociação".
"É preciso criar confiança entre o Irã, a comunidade internacional e o grupo 5+1" (EUA, Rússia, China, França, Grã-Bretanha e Alemanha), completo Amorim, em referência ao principal interlocutor de Teerã para a questão nuclear.
O ministro também destacou que o acordo "reconhece o direito do Irã de utilizar para fins pacíficos a tecnologia nuclear e o enriquecimento de urânio". Já o ministro turco das Relações Exteriores, Ahmet Davutoglu, afirmou que sanções não são mais necessárias contra o Irã.
"Este acordo deve ser considerado positivo. Hoje, não há mais necessidade de sanções contra o Irã", declarou Davutoglu. O presidente do Irã, Mahmud Ahmadinejad, afirmou esperar que as grandes potências aceitem discutir com honestidade a questão nuclear após a assinatura do acordo com Turquia e Brasil.
"Espero que o grupo 5+1 (Estados Unidos, Rússia, China, França, Grã-Bretanha e Alemanha) aceite discutir com honestidade, respeito e justiça", declarou Ahmadinejad, segundo a agência Irna. "A experiência do encontro entre três partes de Teerã mostra que se a cooperação for baseada na amizade e respeito, não há nenhum problema. Mas o problema das discussões com o grupo 5+1 era que alguns de seus membros não respeitavam estes princípios", acrescentou.
"Por isto não davam resultado", concluiu. Ao mesmo tempo, o porta-voz do ministério iraniano das Relações Exteriores, Ramin Mehmanparast, destacou que o país vai continuar enriquecendo urânio a 20%.
O governo do Irã começou a enriquecer urânio a 20% no dia 9 de fevereiro, uma operação muito criticada pelas grandes potências ocidentais. A comunidade internacional teme que o Irã, apesar dos desmentidos, tente produzir armamento nuclear e ameaçou a república islâmica com novas sanções no caso de prosseguimento da política de enriquecimento de urânio, que foi intensificada nos últimos meses.
Um membro da comitiva brasileira rebateu a acusação em entrevista à AFP por telefone a partir de Madri, onde o presidente Lula deve desembarcar ainda nesta segunda-feira. "Israel tem o direito de dizer o que quiser, mas esta é a primeira vez que o Irã aceita que seu urânio seja enviado para um terceiro país para a troca", declarou a fonte.
O acordo, completou, "está baseado nas propostas do Grupo 5+1, que até agora o Irã rejeitava". O Grupo 5+1 é integrado pelos cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU (EUA, Rússia, China, França e Grã-Bretanha), além da Alemanha.
Brasil e Turquia ocupam atualmente cadeiras de membros não permanentes do Conselho. Mas para um porta-voz da chefe da diplomacia da União Europeia (UE), Catherine Ashton, o acordo "não responde a todas as inquietações" da comunidade internacional.
"O anúncio feito nesta segunda-feira pode constituir um passo na direção correta, caso sejam confirmados os detalhes do acordo, mas isto não responde a todas as inquietações sobre o programa nuclear de Teerã", declarou o porta-voz.
O governo da Alemanha destacou, a respeito do acordo Irã-Brasil-Turquia sobre a questão nuclear iraniana, que nada pode substituir um acordo entre Teerã e a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA).
"Continua sendo importante que Irã e AIEA cheguem a um acordo", declarou o porta-voz adjunto do governo da Alemanha, Christoph Steegmans.
"Isto não pode ser substituído por um acordo com outros países", completou. O ministro francês das Relações Exteriores, Bernard Kouchner, afirmou que a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) é quem deve posicionar-se sobre o acordo.
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Não somos nós que devemos responder. É a AIEA", declarou Kouchner à AFP. "Saudamos o acordo e a tenacidade com a qual nossos amigos turcos e brasileiros realizaram as conversações. Sempre é bom falar e sempre é melhor escutar", completou.