Consumo: segundo IBGE, o efeito da expansão do crédito teve peso maior no impulso ao consumo das famílias do que o custo do crédito em si (Reinaldo Canato/VEJA)
Estadão Conteúdo
Publicado em 30 de maio de 2018 às 18h00.
Rio - Uma inflação "bem menor" no início do ano impulsionou a alta do consumo das famílias nas contas do Produto Interno Bruto (PIB) do primeiro trimestre, afirmou nesta quarta-feira, 30, Claudia Dionisio, gerente da Coordenação de Contas Nacionais do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Na comparação com igual período de 2017, o consumo das famílias de janeiro a março avançou 2,8%, puxando o avanço de 1,2% no PIB como um todo.
"Neste primeiro trimestre, a taxa do IPCA foi bem menor do que no primeiro trimestre de 2017", afirmou Claudia.
Segundo o IBGE, o IPCA acumulado em 12 meses era de 4,9% no primeiro trimestre de 2017. Nos três primeiros meses deste ano, o índice de inflação ao consumidor acumulou alta de 2,8%.
Além disso, lembrou Claudia, a taxa básica de juros (Selic) também está em patamar menor. Mesmo assim, para a coordenadora de Contas Nacionais do IBGE, Rebeca Palis, o efeito da expansão do crédito teve peso maior no impulso ao consumo das famílias do que o custo do crédito em si.
Dados do Banco Central (BC) mostram crescimento nominal de 6,3% no saldo das operações de crédito a pessoa física. "O crédito deu uma acelerada", afirmou Rebeca.
Como resultado, o consumo de bens duráveis, mais afetado pelo crédito, foi o que mais impulsionou o consumo das famílias como um todo, disse Claudia. "Dentro desse consumo, o que mais contribuiu foram os bens duráveis", afirmou a pesquisadora, citando a venda de automóveis como exemplo.
Rebeca lembrou ainda das vendas de televisores por causa da Copa do Mundo de Futebol, que começará no próximo mês na Rússia.
A contribuição dos impostos no PIB do primeiro trimestre de 2018 foi puxada pelo desempenho de atividades que são fortes arrecadadoras, como indústria e exportação. Na comparação com o mesmo trimestre de 2017, os impostos sobre produtos cresceram 2,9%, mais que o valor adicionado do PIB no período, que avançou 0,9%.
De acordo com a coordenadora de Contas Nacionais do IBGE, Rebeca Palis, os impostos que são considerados no cálculo são aqueles que incidem diretamente na atividade como IPI e ICMS. Indústrias que avançaram no primeiro trimestre, como a automobilística, são fortes arrecadadoras desses tributos.
Os dados do IBGE mostram que os setores que mais contribuíram para o resultado desse trimestre na ótica da produção são alguns dos maiores arrecadadores. O Comércio avançou 4,5% na comparação com o mesmo trimestre de 2017; a Indústria de transformação cresceu 4% e as atividades de transporte, armazenagem e correio, 2,8%.
FBCF
A alta de 3,5% na formação bruta de capital fixo (FBCF) dentro do PIB, na comparação entre o primeiro trimestre deste ano e igual período de 2017, ocorreu apesar do desempenho da construção civil.
"Dentro dos investimentos, o que contribuiu foi a produção de máquinas e equipamentos e importações de bens de capital", afirmou Claudia Dionisio. "A construção contribuiu de forma negativa, mas as outras atividades mais do que compensaram, foram maiores que a contribuição negativa da construção", completou a pesquisadora.
Na comparação com o período de janeiro a março de 2017, o PIB da indústria de construção registrou queda de 2,2% no primeiro trimestre deste ano. Nessa ótica de comparação, já são 16 trimestres seguidos de queda. Segundo Claudia, o mau desempenho da construção civil se deve ao ajuste fiscal em todas as esferas de governo, que atingem tradicionalmente os investimentos públicos, a queda de demanda na recessão e aos problemas das empreiteiras investigadas por corrupção.
Como resultado, a taxa de investimento do primeiro trimestre ficou em 16,0% do PIB. É a segunda taxa mais baixa para primeiros trimestre da atual série histórica do PIB do IBGE, iniciada em 1996. Apenas a taxa de investimento do primeiro trimestre de 2017 (15,5% do PIB) ficou abaixo.
A incidência da bandeira tarifária verde ao longo do primeiro trimestre de 2018 impulsionou o desempenho positivo da atividade de Eletricidade e gás em relação ao quarto trimestre de 2017, apontou Claudia Dionisio.
A atividade de Eletricidade e gás, água, esgoto e gestão de resíduos avançou 2,1% no primeiro trimestre de 2018 ante o quarto trimestre de 2017.
"O que aconteceu? Ficamos praticamente o trimestre todo com bandeiras verdes, comparando com bandeiras vermelhas e amarelas no trimestre anterior (quarto trimestre de 2017). A energia ficou mais barata", justificou Claudia.
Na direção oposta, a atividade de Informação e comunicação recuou 1,2% no primeiro trimestre em relação ao quarto trimestre de 2017 e as Atividades financeiras tiveram leve recuo de 0,1%. Segundo a gerente do IBGE, os setores de telecomunicações e financeiro demoraram um pouco mais a sentir os efeitos da crise e agora também demoram mais a recuperar.
Já a Construção encolheu 0,6% no primeiro trimestre de 2018 em relação ao quarto trimestre de 2017.
De acordo com Rebeca Palis, o setor ainda mostra perdas relacionadas ao envolvimento de construtoras na Operação Lava Jato mas também pela necessidade de ajuste fiscal conduzido pelos governos devido ao período de restrição orçamentária.
"Aqui dentro (na Construção) tem uma parte relevante de investimento público, das três esferas (federal, estadual e municipal), e a gente está num período já há algum tempo com déficit fiscal. A primeira coisa que (governos) cortam geralmente é investimento mesmo", afirmou Rebeca.