Jair Bolsonaro: presidente está em viagem diplomática na Índia (Alan Santos/PR/Reuters)
EFE
Publicado em 24 de janeiro de 2020 às 17h15.
Última atualização em 24 de janeiro de 2020 às 19h16.
O presidente Jair Bolsonaro chegou nesta sexta-feira à Índia para uma visita oficial de quatro dias que será marcada pelo caráter econômico e terá como objetivo principal aumentar os investimentos indianos no Brasil, além de fortalecer as relações comerciais entre os dois países, especialmente no setor de energia.
Acompanhado de cinco ministros, Bolsonaro terá reuniões com o primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, e com o presidente do país, Nath Kovind. Já na segunda-feira, último dia da visita, o presidente participará de um fórum de negócios com empresários.
Fontes diplomáticas brasileiras explicaram à Agência Efe que o Bolsonaro vai à Índia não só como convidado especial do 71º Dia da República, data em que o país lembra a aprovação de sua Constituição, mas também para apresentar as melhores oportunidades de investimento no Brasil.
A ideia é apresentar aos indianos o plano de privatizações que já vem sendo divulgado por outros integrantes do governo, como o ministro de Infraestrutura, Tarcísio Gomes de Freitas, e da Economia, Paulo Guedes, que, desta vez, não acompanham o presidente na viagem.
Um dos principais interesses do governo é ampliar a presença de investidores indianos no setor de energia do país. Por isso, a expectativa é que Bolsonaro e Modi assinem um acordo bilateral para facilitar a vinda desse dinheiro ao Brasil.
"O objetivo é proteger os investidores, oferecendo a eles caminhos claros e seguros para suas atividades nos respectivos países", disse uma fonte ouvida pela Efe.
O pacto será complementado com outro para evitar dupla tributação.
Com os dois acordos, a expectativa é que os investimentos entre os dois países cresça e supere os US$ 7 bilhões - sendo que a Índia investe US$ 6 bilhões no Brasil.
"Quando se trata de energia, Brasil e Índia estão destinados a trabalhar juntos. Há várias oportunidades de investimento, cooperação e comércio que compartilhamos", disse à Efe o ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, que acompanha Bolsonaro na viagem.
Além dos acordos sobre investimentos, de acordo com o ministro, os dois países também assinarão pactos relativos ao setores de petróleo e gás, bioenergia e mineração.
Fontes da diplomacia brasileira indicam que o Brasil quer ampliar a venda de petróleo para a Índia e tornar-se um "aliado confiável" do país nesse ramo.
No ano fiscal de 2018-2019, a Índia comprou US$ 1,59 bilhão em petróleo do Brasil, valor muito inferior ao destinado a outros países produtores, como Iraque (US$ 22,2 bilhões), Arábia Saudita (US$ 21,3 bilhões), Irã (US$ 12,1 bilhões) e Venezuela (US$ 7,2 bilhões).
"Nós agora compramos muito petróleo brasileiro, reduzindo as vendas da Venezuela. O Brasil passou a ser mais percebido como um fornecedor de petróleo bruto pela Índia", afirmou o analista da Observer Research Foundation, Ketan Mehta.
Apesar desse aumento do interesse indiano no petróleo brasileiro, a ministra de Agricultura, Tereza Cristina, destacou que o governo de Bolsonaro também está disposto a cooperar com a Índia no desenvolvimento de biocombustíveis.
"A possibilidade de cooperar com a Índia dá base para a criação do mercado mundial de etanol. No futuro, o aumento do consumo de etanol na Índia contribuirá para o estabelecimento de um mercado global de biocombustíveis", disse a ministra.
Cristina destacou que há um grande potencial de colaboração entre Índia e Brasil na produção desse tipo de combustível. Os dois países são responsáveis por 55% da produção mundial de cana-de-açúcar, usada para a produção do etanol.
No entanto, segundo a ministra, enquanto o Brasil produziu 30 bilhões de litros de etanol em 2018, a Índia só fabricou 1,5 bilhão.
Questões específicas sobre o acesso ao mercado brasileiro deverão ser tratadas em negociações separadas com a Índia, dentro do âmbito do Mercosul, bloco integrado também por Argentina, Uruguai e Paraguai.
Ainda que exista um acordo de comércio preferencial entre Mercosul e a Índia, que reduz as tarifas sobre alguns produtos, o objetivo de Bolsonaro é avançar para transformar o pacto já existente em um tratado de livre-comércio.
Fontes ouvidas pela Efe disseram que Bolsonaro transmitirá essa "mensagem política" a Modi durante encontro entre os dois ao longo da viagem. No entanto, não há posição oficial do Mercosul sobre o assunto.
Além dos acordos citados nos setores de investimentos e energia, os dois países devem fechar outros em matéria de cooperação em ciência, tecnologia e saúde. Pactos de tributação também devem ser atualizados e assinados durante a viagem.
Atualmente, o comércio entre os dois integrantes do Brics é de US$ 8,2 bilhões. A balança é favorável ao Brasil, que no ano fiscal de 2018-2019 exportou US$ 4,4 bilhões à Índia.