Economia

Brasil fecha 2019 com o maior rombo nas contas externas em quatro anos

Déficit chegou a US$ 50,762 bilhões no ano passado, alta de 22,2% sobre 2018; investimento estrangeiro registrou alta no período

Dólar e real: resultado para as contas externas foi o pior desde 2015 (NurPhoto/Getty Images)

Dólar e real: resultado para as contas externas foi o pior desde 2015 (NurPhoto/Getty Images)

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Reuters

Publicado em 27 de janeiro de 2020 às 09h54.

Última atualização em 27 de janeiro de 2020 às 14h27.

Brasília — O déficit em transações correntes do Brasil fechou 2019 a 50,762 bilhões de dólares, alta de 22,2% sobre 2018 e no pior dado em quatro anos, afetado pela piora da balança comercial, divulgou o Banco Central nesta segunda-feira.

O maior rombo das contas externas antes disso havia sido registrado em 2015, quando o déficit foi de 54,472 bilhões de dólares.

O buraco nas transações correntes em 2019 passou a 2,76% do Produto Interno Bruto (PIB), sobre 2,20% em dezembro do ano anterior.

A expectativa do BC era de um déficit em transações correntes de 51,1 bilhões de dólares em 2019, mas com IDP um pouco melhor, de 80 bilhões de dólares.

A autoridade monetária já havia justificado que as transações correntes foram prejudicadas em 2019 pelo pior desempenho da balança comercial, num ano marcado pela desaceleração da economia na Argentina, peste suína afetando a China e a demanda por soja brasileira, além da dinâmica envolta em incertezas do comércio mundial em meio às tensões protagonizadas por Estados Unidos e China.

O ano passado também foi afetado por ruídos em relação aos números das transações correntes.

No início de dezembro, o governo anunciou uma correção para cima no registro das exportações de setembro a novembro, atribuindo a uma falha humana uma subnotificação de 6,488 bilhões de dólares que havia ajudado a piorar o resultado da balança comercial brasileira divulgado originalmente.

Ao fim, o superávit da balança comercial encerrou 2019 em 39,404 bilhões de dólares, recuo de 25,7% sobre 2018, diante de uma queda de 6,3% nas exportações e diminuição de 0,8% nas importações, apontou o BC.

Em 2019, as remessas de lucros e dividendos de multinacionais instaladas no Brasil caíram 14,8% sobre o ano anterior, a 31,126 bilhões de dólares. Esse foi o principal fator a guiar a retração de 4,8% no déficit em renda primária, a 55,989 bilhões de dólares.

Na conta de serviços, houve redução no ano tanto nos gastos líquidos de brasileiros no exterior, com recuo de 5,4% frente a 2018, a 11,681 bilhões de dólares, quanto nas despesas líquidas de aluguel de equipamentos, que caíram 8,2%, a 14,483 bilhões de dólares.

Fundamentalmente por conta desses dois movimentos, o déficit em serviços diminuiu a 1,7% em 2019, a 35,141 bilhões de dólares, apontou o BC.

Investimento estrangeiro

Apesar da piora, ele seguiu coberto com folga pelos investimentos diretos no país (IDP), que alcançaram 78,559 bilhões de dólares no ano passado.

Na última terça-feira (20), o Monitor de Tendências de Investimentos Globais, divulgado pela Conferência das Nações Unidas para o Comércio e Desenvolvimento (Unctad), mostrou que o Brasil recebeu US$ 75 bilhões em investimentos de fora no ano passado. Foi uma alta de 26% em relação aos US$ 60 bilhões recebidos em 2018, o suficiente para levar o país da nona para a quarta posição entre os principais destinos internacionais.

No relatório, o Brasil ficou atrás apenas de Estados Unidos, com US$ 251 bilhões, China, com US$ 140 bilhões, e Cingapura, com US$ 110 bilhões. No balanço geral, o mundo teve um fluxo de investimento no mesmo nível do ano anterior.

Dezembro

Em dezembro somente, o déficit em transações correntes foi de 5,691 bilhões de dólares, pior que a expectativa de um déficit de 4,5 bilhões de dólares, conforme pesquisa Reuters com analistas. A conta de IDP alcançou 9,434 bilhões de dólares, abaixo da projeção de 11 bilhões de dólares.

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