Economia

Investidores buscam pistas da próxima crise 10 anos após Lehman

China, mercados emergentes e dívida corporativa estão entre as possíveis vulnerabilidades

FMI já alerta que os investidores poderiam estar subestimando o risco de um choque financeiro (BrianAJackson/Thinkstock)

FMI já alerta que os investidores poderiam estar subestimando o risco de um choque financeiro (BrianAJackson/Thinkstock)

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Clara Cerioni

Publicado em 14 de outubro de 2018 às 08h00.

Última atualização em 14 de outubro de 2018 às 08h00.

São Paulo - "É algo que acontece a cada cinco ou sete anos", disse Jamie Dimon, CEO do JPMorgan Chase, ao explicar para a filha o que é crise financeira. A rainha Elizabeth II perguntou "por que ninguém notou" as sementes da última crise.

Abalados por não terem conseguido detectar a turbulência de 10 anos atrás e a duas décadas da agitação nos mercados asiáticos, os responsáveis pelas políticas econômicas, traders e economistas estão olhando para o relógio enquanto se perguntam quando e onde o próximo colapso ocorrerá.

Enquanto realiza suas reuniões anuais nesta semana, em Bali, na Indonésia, o Fundo Monetário Internacional já alerta que os investidores poderiam estar subestimando o risco de um choque financeiro.

No entanto, um dos axiomas da história financeira é que não existem duas crises iguais, então a busca se concentra em potenciais disparadores na economia e nos mercados mundiais. Um erro na política do Federal Reserve, como elevar os juros muito rapidamente ou por muito tempo, poderia abalar a economia dos EUA e atrapalhar mercados do mundo todo.

A seguir, um resumo dos possíveis pontos perigosos, inclusive alguns que você talvez não imaginava.

China

O crédito alimentou o rápido avanço da China como potência econômica. Ultimamente, Pequim vem tomando medidas para desacelerar a taxa de crescimento da dívida corporativa, mas a dívida total fora do setor bancário continuou crescendo no ano passado e continua em um caminho insustentável, de acordo com o FMI.

Mercados emergentes

Os aumentos das taxas de juros do Federal Reserve e o aumento do dólar repercutiram nos mercados emergentes porque tornaram mais difícil para as empresas que contraíram empréstimos em dólares pagar essas dívidas. A Argentina pegou emprestado US$ 57 bilhões do FMI, o maior empréstimo da história do fundo, para conter a crise cambial do país. A lira turca afundou quando os investidores questionaram a capacidade do governo de Recep Erdogan de conter a inflação.

Dívida corporativa

O aumento da dívida privada tem sido a força motriz por trás do aumento constante da dívida global desde 1950, de acordo com o FMI. Na última crise, a dívida das famílias dos EUA foi a bomba-relógio. Os consumidores, desde então, apertaram os cintos, mas as empresas dos EUA afrouxaram.

Aproveitando os juros baixos e a demanda forte, as empresas americanas emitiram quantidades recorde de dívida, elevando os principais índices de endividamento para patamares próximos aos mais altos em 30 anos, segundo Andrew Sheets, estrategista-chefe de ativos cruzados do Morgan Stanley.

Sobreviventes de crise

Em algumas economias avançadas, os preços dos imóveis nunca caíram, apesar da crise de 2008, e o acúmulo de dívidas das famílias está aumentando os sinais de alerta. Em seu mais recente relatório sobre a estabilidade financeira global, o FMI colocou a Austrália, o Canadá e os países nórdicos nessa categoria. Os 27 anos de crescimento econômico sem recessão na Austrália ajudaram a impulsionar um boom imobiliário, e os preços das casas de Sidney quintuplicaram. Os preços nacionais estão em declínio e caíram por 12 meses consecutivos.

Itália e zona do euro

O risco de uma saída feia da zona do euro tem um novo nome: Quitaly.

O temor de que o primeiro-ministro italiano, Giuseppe Conte, leve a dívida para níveis insustentáveis ao inchar o déficit orçamentário do país elevou os rendimentos das obrigações italianas para níveis não vistos desde a crise da dívida do euro.

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