Euro: aceleração do populismo ameaça a moeda comum europeia (Neil Hall / Reuters)
Luiza Calegari
Publicado em 28 de novembro de 2016 às 13h45.
Jim Mellon se destacou entre os investidores como um dos raros defensores públicos da saída do Reino Unido da União Europeia. Agora, o presidente do conselho da Burnbrae Group está prevendo outra separação.
Mellon, que era citado como um apoiador da campanha da “Saída” pelo legislador pró-Brexit Michael Gove, prevê que o euro será uma das próximas vítimas da crescente onda anti-establishment, fazendo com que a união monetária se desintegre dentro dos próximos cinco anos.
“O Brexit será um assunto secundário em relação aos problemas da Europa que estão ficando cada vez mais evidentes”, disse Mellon. “O euro, assim como está agora, é simplesmente um mecanismo muito inadequado – eu dou ao euro entre um e cinco anos de vida.”
O referendo do Reino Unido e a vitória de Donald Trump na eleição presidencial dos EUA neste mês sinalizaram a aceleração do populismo em todo o mundo.
Atualmente, cresce a especulação de que o referendo da Itália em dezembro e as eleições na França em 2017 poderiam resultar em mais sobressaltos políticos na Europa, levando alguns investidores a questionarem o futuro do euro.
Dito isso, prever o fim da moeda comum não é um fenômeno novo -- em 2014, o Citigroup afirmou que havia 90 por cento de chance de a Grécia sair do bloco, uma projeção que foi abandonada neste ano.
O euro estava a US$ 1,0646 às 7h02, horário de Londres, após ter chegado a US$ 1,0518 na semana passada, o valor mais baixo desde março de 2015.
Mellon projeta que a moeda ficará abaixo da paridade “em algum momento ao longo do ano que vem”, mas não está vendendo ativamente a moeda por causa da chance de uma recuperação no curto prazo.
Isso significa que, com a aproximação do referendo italiano no dia 4 de dezembro, Mellon está vendendo os títulos soberanos do país.
O rendimento das notas italianas com vencimento em 10 anos subiu para 2,23 por cento em 14 de novembro, o mais alto desde julho de 2015, mas ainda continua abaixo de sua média de cinco anos de 3,24 por cento.
Além do referendo iminente, os títulos também foram prejudicados por uma forte queda global em ativos de renda fixa que fez com que rendimentos do mundo inteiro subissem de pisos recorde.
“Eu fui um grande vendedor de títulos soberanos neste ano, basicamente de qualquer lugar, mas meus preferidos são os títulos italianos”, disse Mellon.
“Todo mundo que participa deste mercado de títulos idiota deveria saber que existe um sério risco de duration. Se você comprar algo durante um período muito longo, sem nenhum juro, você vai acabar sendo aniquilado em algum momento.”