Gabriel Galípolo, diretor de Política Monetária do Banco Central (Fabio Rodrigues-Pozzebom/Agência Brasil)
Agência de notícias
Publicado em 28 de agosto de 2024 às 20h02.
Representantes de instituições financeiras elogiaram a decisão do governo de indicar o atual diretor de Política Monetária do Banco Central (BC), Gabriel Galípolo, para substituir o presidente do órgão, Roberto Campos Neto.
Em nota, o presidente da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), Isaac Sidney, destacou o fato de que Galípolo já faz parte da diretoria do BC há mais de um ano, participando das discussões e decisões sobre política de juros.
"Galípolo teve um importante aprendizado nessa passagem prévia pelo BC. Basta ver os posicionamentos públicos como diretor, em que tem demonstrado comprometimento com a condução da política monetária naquilo que é essência de um BC independente: manter a estabilidade da moeda, condição necessária para assegurar o poder de compra, além de previsibilidade e segurança para os agentes econômicos tomarem decisões", diz a nota da Febraban.
O presidente do Conselho de Administração do Bradesco, Luiz Carlos Trabuco Cappi, disse que “as qualidades técnicas de Gabriel Galípolo foram comprovadas” em sua atuação na diretoria do BC, da qual participa desde o ano passado.
“Nossa expectativa é que exercerá uma gestão vitoriosa em sua missão principal de manter a inflação sob controle, mas com a visão ampliada das circunstâncias de um Banco Central que ocupa hoje papel central na formação da estabilidade dos mercados. Com seu temperamento sereno, Galípolo exercerá papel decisivo para um Banco Central tempestivo e responsável”, disse Trabuco, em nota divulgada pelo Bradesco.
Já o CEO do banco, Marcelo Noronha, avaliou que a indicação de Galípolo “confirma as melhores expectativas do mercado, dentro de um processo de transição realizado com segurança e tranquilidade. Será o segundo presidente do Banco Central autônomo e com gestão independente ao mandato governamental".
"Nossa expectativa é de uma condução sólida e robusta do Banco Central, seja do ponto de vista técnico, seja em relação aos novos e complexos desafios que se impõe no âmbito da regulação do sistema financeiro", disse Noronha, segundo a nota.
O presidente do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e ex-presidente do BC, Ilan Goldfajn também felicitou Galípolo pela indicação.
"Felicito a indicação de Gabriel Galípolo para a presidência do Banco Central do Brasil. Tenho certeza da continuidade do trabalho fundamental do BC, instituição chave para a estabilidade econômica e a base para o crescimento sustentável do país. Sigamos trabalhando na boa parceria do BID com o BCB”, diz uma nota divulgada pela instituição multilateral.
Caio Megale, economista-chefe da XP Investimentos, destacou o fato de que o nome de Galípolo já era dado como certo pelo mercado:
– O nome dele era o nome natural de ser indicado. O mercado, de forma geral, tem visto as suas declarações e seus posicionamentos como bastante técnicos.
Megale elogiou a confirmação do nome do futuro presidente do BC com certa antecedência:
– A cereja do bolo é esse anúncio com certa antecedência, sem surpresas, o que permite também uma transição suave. Coroa um período bastante desafiador, bastante importante, da institucionalidade da política monetária brasileira, que teve uma turbulência externa importante, especialmente por conta da polarização política, mas acabou prevalecendo o diálogo e a posição a posição técnica.
Para o economista Tony Volpon, que foi diretor da autoridade monetária na reta final do governo Dilma Rousseff, de 2015 a 2017, uma alta de juros logo no início da gestão de Galípolo pode se tornar inevitável. Até por isso, o ex-diretor avalia que talvez a antecipação da indicação do futuro presidente do BC não tenha sido boa ideia, pois Galípolo já será tido como o presidente imediatamente e recairá sobre ele as decisões, quaisquer que sejam.
– Temos um presidente que é meio pato mando. Agora a responsabilidade é meio dele, né? Quer dizer, todo mundo, no próximo Copom, vai olhar para o voto dele – afirmou Volpon ao GLOBO. – Se tivessem esperado, deixariam para o Campos Neto o ônus de subir os juros.
Na avaliação de Volpon, o “grande trunfo” de Galípolo (a proximidade com o governo e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva) é também sua maior “fragilidade”, porque mina sua credibilidade perante o mercado.
Ainda de manhã, antes de o ministro Haddad anunciar a indicação de Galípolo para substituir Campos Neto, Volpon chamou a atenção, numa postagem nas redes sociais, para o que chamou de “dilema monetário”.
Esse dilema pode ser expresso em duas diferenças: uma, entre a inflação corrente no acumulado em 12 meses (em torno de 4,0%, quando se consideram os “núcleos”, ou seja, os preços que variam menos) e as expectativas de analistas de mercado (em 3,5% ao ano); outra, entre as expectativas e a meta perseguida pelo BC (em 3,0% ao ano).
Segundo Volpon, o nível atual da Selic deveria ser suficiente para baixar a inflação corrente, já que a taxa está elevada o suficiente para arrefecer a demanda na economia, mas, para conter a diferença nas expectativas, a taxa básica teria que subir mais.
Essa diferença tem a ver com credibilidade. Se um economista com credibilidade perante o mercado, como o ex-presidente do BC Ilan Goldfajn, hoje à frente do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), fosse indicado para o lugar de Campos Neto, a diferença entre as expectativas e a meta desapareceria, escreveu Volpon.
Sem um nome com tanta credibilidade, a Selic teria que subir. “O governo não está nomeando Ilan para o BC, mas sim o Gabriel Galípolo, que não goza da mesma credibilidade. Assim, enquanto a Selic atual deve fechar o primeiro spread (a inflação corrente deve cair) o fato que o segundo spread ainda ficará positivo implica que a inflação, nas melhores das hipóteses, deve ir para onde hoje estão as expectativas, e não a meta”, diz o post de Volpon.
Por isso, segundo o economista, a única saída para o futuro presidente do BC será subir os juros. “Se GG (Gabriel Galípilo) quiser gozar da mesma credibilidade que o IG (Ila Goldfajn), ele terá que demonstrar a capacidade de elevar a Selic até o patamar necessário para fechar o segundo spread. A partir deste ponto ele poderá cortar a Selic em direção ao seu nível neutro na medida que a inflação corrente converge para a meta. Esse é o desafio que GG terá a partir de sua nomeação”, concluiu Volpon.