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Influenciadores impulsionam 'avalanche' de turistas argentinos no Brasil para tour de compras

Em vídeos nas redes sociais, muitos produtores de conteúdo comparam os preços de alimentos nos dois países, destacando as vantagens do Brasil

 (Instagram/Reprodução)

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Mateus Omena
Mateus Omena

Repórter

Publicado em 11 de fevereiro de 2025 às 14h57.

Última atualização em 11 de fevereiro de 2025 às 16h38.

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A presença massiva de argentinos em Florianópolis surpreendeu os brasileiros na última semana. Várias lojas da capital catarinense, incluindo as das redes Decathlon e Havan, ficaram lotadas e com as prateleiras praticamente vazias.

Com o peso argentino valorizado em relação ao real, as cidades brasileiras se tornaram destinos mais acessíveis para os "hermanos". De acordo com dados da Fecomércio catarinense, os argentinos representaram 22% dos visitantes no estado de Santa Catarina só nas primeiras semanas da alta temporada.

Em 2024, 1,9 milhão de argentinos visitaram o Brasil. A tendência é que esse grupo cresça em pelo menos 50% para todo o país no primeiro trimestre de 2025, de acordo com o Ministério do Turismo.

Por outro lado, o turismo de compras no Brasil parece estar sendo impulsionado também por diversos influenciadores argentinos, que esclarecem aos seguidores as vantagens de comprar por aqui.

Nas redes sociais, esses produtores de conteúdo têm compartilhado diversas postagens sobre os preços de produtos no Brasil, considerados mais baratos do que na Argentina. Os destaques ficam para alimentos e itens de higiene.

Em um vídeo no Instagram, o influenciador Carlos Velazco mostra a diferença dos valores de alguns alimentos e cosméticos vendidos em um mercado no Rio de Janeiro e em Rosario, cidade próxima de Buenos Aires.

Um sachê de molho de tomate, por exemplo, custa R$ 3,95 por aqui, enquanto o produto custa 818 pesos no país vizinho (algo em torno de R$ 4,47). O produtor de conteúdo também mostra que um shampoo de 200 ml é vendido por 4450 pesos argentinos (R$ 24,31), enquanto no Brasil o mesmo produto custa R$ 15,98.

Já o influenciador Pedro Marin, do perfil "Finanzas e Inversiones", compara em um vídeo o preço de uma lata de cerveja da marca Patagonia vendida no Brasil por 1500 pesos (R$ 8,25, na cotação atual), enquanto na Argentina a bebida sai por 3 mil pesos (R$ 16,39)

Por outro lado, a influenciadora digital Salene Alberti demonstrou surpresa com os preços de alimentos no Brasil durante visita a um supermercado em Foz do Iguaçu, no Paraná. "Fiquei realmente chocada com os preços e TODAS AS COISAS QUE NÃO TEM NA ARGENTINA", disse em uma publicação no Instagram.

Em outra publicação, a turista fica impressionada com o custo de um lanche do McDonald's no Brasil. De acordo com a influenciadora argentina, um combo com quatro hambúrgueres, três bebidas, duas batatas grandes, uma batata média e duas tortas custou em torno de 32 mil pesos (equivalente R$ 176).

Melhoria na economia da Argentina?

A Argentina passou por uma redução drástica da inflação, de 25,5% em dezembro de 2023 para 2,7% em dezembro de 2024, e promoveu um intenso ajuste fiscal desde o início do governo de Javier Milei. Entre outras medidas, como o fim da cotação artificial do governo para o dólar, isso permitiu que o peso argentino se valorizasse em relação ao dólar.

Com o peso argentino valorizado, e o real desvalorizado, a situação criou a condição mais favorável aos argentinos nos últimos 26 anos e inverteu a lógica do turismo que ocorria até o início de 2024, quando era mais favorável aos brasileiros visitar o país vizinho.

Como consequência, os argentinos de maior renda aproveitam para fazer turismo de compras. “Em 2024, houve uma valorização surreal em torno de 50% da moeda argentina, tornando os preços do Brasil mais acessíveis para os argentinos. Este câmbio favorece as compras”, explica o economista da FGV Joelson Sampaio.

Desde que assumiu o governo, no fim de 2023, o presidente Javier Milei adotou medidas para conter o déficit fiscal e controlar a hiperinflação, que chegou a ultrapassar 200% anuais na Argentina em 2023.

O ajuste fiscal incluiu cortes em subsídios estatais, desvalorização da cotação oficial do peso argentino e uma desregulamentação do mercado. Como consequência, a população enfrentou um aumento considerável nos preços dos serviços e retração no consumo doméstico.

Agora, a segunda maior economia da América do Sul está mostrando sinais de melhora, impulsionada por setores como finanças e mineração, especialmente com a extração de petróleo em Vaca Muerta.

Entre outros sinais da retomada, há uma melhora no nível de emprego. Após meses em recessão, o Fundo Monetário Internacional (FMI) estima que o PIB do país crescerá 5% em 2025.

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