A menos que haja ainda espaço para uma queda maior das tarifas, por algum tipo de política fiscal, com a utilização, por exemplo, de PIS/Cofins, a queda na inflação pode ser mais significativa (Marcos Santos / USP Imagens)
Da Redação
Publicado em 19 de junho de 2013 às 21h40.
Rio de Janeiro - A redução nas tarifas de transporte público anunciadas nas principais capitais e Estados do País puxará para baixo a inflação em junho e julho. "Esses serviços têm peso substancial e influenciam muito a inflação no curto prazo", explicou o economista André Braz, da Fundação Getúlio Vargas. As tarifas de transporte urbano em São Paulo e Rio de Janeiro têm o maior peso no cálculo geral da inflação.
Cada ponto porcentual de aumento nas tarifas de ônibus, metrô e trens corresponde a 0,03 ponto porcentual de aumento na inflação. Isso significa que um aumento de cerca de 7%, como o que ocorreu no Rio e São Paulo, corresponderia sozinho a 0,21 ponto porcentual a mais na inflação medida pelo Índice de Preços ao Consumidor (IPCA).
Braz ressalta que, para a população de baixa renda, o impacto do aumento das tarifas de transportes é ainda maior. Cada ponto porcentual de reajuste representa 0,06 ponto porcentual a mais na inflação para quem ganha até 2,5 salários mínimos e que compromete em torno de 6% de seu orçamento com o custeio de transporte.
Foram 19 dias de preços reajustados (desde 1º de junho) e, por isso, o impacto da redução este mês será relativizado. "Mas a inflação caminhará, em julho, para uma desaceleração", diz Braz. Quando se comparar o preço de julho com o de junho, será menor. Por isso o índice de julho já vem mais baixo com uma contribuição boa de transporte por conta da anulação do reajuste.
Algumas cidades podem fazer a tarifa ficar ainda mais barata por causa de isenção de impostos. Ele explica, porém, que este impacto não será suficiente para reduzir muito as previsões inflacionárias para o ano.
"Alivia um pouco, um ajuste fino, mas ninguém deve mudar muito a projeção para o ano. A taxa de inflação deve fechar 2013 bem próximo ao teto da meta fixada pelo governo (6,5%), em torno de 5,9% ou 6%. Com certeza ficará acima do registrado no ano passado (5,8%)", disse o economista.
A menos que haja ainda espaço para uma queda maior das tarifas, por algum tipo de política fiscal, com a utilização, por exemplo, de PIS/Cofins, a queda na inflação pode ser mais significativa.
Quem paga
Sobre a vitória do movimento popular, que em uma semana de manifestações conseguiu retomar o preço das passagens, Braz chama a atenção para o acompanhamento das consequências dessa medida.
"Ou há espaço para que isso (a redução de tarifas) aconteça, ou vamos descobrir depois quem está pagando por essa redução. Se não houver espaço para isso e o governo estiver financiando, é mais gasto público que estaremos absorvendo. Caso contrário, não precisaria mesmo ter ocorrido o reajuste. Se havia gordura no preço ou não, só o tempo vai responder."