Posto de gasolina (foto de arquivo): queda no preço dos combustíveis via desoneração levaram inflação para baixo no curto prazo (Leandro Fonseca/Exame)
Carolina Riveira
Publicado em 24 de agosto de 2022 às 09h05.
Última atualização em 12 de setembro de 2022 às 15h41.
O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo-15 (IPCA-15), prévia da inflação mensal, ficou em -0,73% em agosto. Os dados foram divulgados nesta quarta-feira, 24, pelo IBGE.
O acumulado em 12 meses foi a 9,60%, em queda ante os 11,39% no IPCA-15 de julho. Nos oito meses do ano até agosto, a variação acumulada é de 5,02%.
O resultado de agosto representa uma deflação, quando há variação negativa no índice. É a menor inflação no IPCA-15 desde o início da série histórica da prévia, iniciada em 1991, segundo o IBGE.
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A variação em agosto ficou pouco acima do consenso do mercado, que esperava IPCA-15 de -0,83% no mês, segundo compilado pela Bloomberg. Ainda assim, o Ibovespa abriu em alta na manhã desta quarta-feira com a divulgação do resultado.
A queda na cesta de bens medida pelo IBGE no mês veio sobretudo nos combustíveis, que caíram no todo 15,33% no período.
A maior alta foi novamente no grupo de alimentação, com destaque para o leite longa vida, que subiu 14,21% (veja os detalhes no fim da matéria).
O IPCA-15 de agosto marca a primeira vez que o Brasil volta a uma inflação acumulada abaixo de dois dígitos desde setembro de 2021, quando o índice superou 10% e não mais saiu deste patamar desde então.
O IPCA-15 diz respeito ao período entre a última quinzena do mês anterior e a primeira quinzena do mês atual, e é considerado uma prévia do IPCA final, que abrange o mês completo e é divulgado no mês seguinte.
Para o índice fechado do IPCA de agosto, a ser divulgado no próximo mês, uma deflação é novamente esperada, em meio aos impactos da desoneração no preço de combustíveis e energia elétrica e queda no preço do petróleo no exterior.
No IPCA de julho, o Brasil já teve deflação de -0,68%.
Usualmente, uma deflação acontece quando a economia está desacelerada. Mas, no caso do Brasil, a queda foi puxada sobretudo pela desoneração dos combustíveis e energia elétrica, aprovada em junho no Congresso e que levou estados a reduzirem o ICMS sobre esses insumos, além de tributos federais cortados.
No caso dos combustíveis, a redução na cotação do barril de petróleo no mercado internacional também ajudou, fazendo a Petrobras reduzir três vezes os preços para a gasolina e duas vezes para o diesel no intervalo de um mês.
Passados os efeitos da desoneração, a expectativa é que a inflação volte a ficar pressionada. As projeções para o IPCA em 2023 têm subido nas últimas semanas, apesar da inflação menor prevista para 2022.
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No boletim Focus desta semana, que reúne projeções dos principais bancos e casas de análise compilados pelo Banco Central, a mediana da projeção para o IPCA em 2023 chegou a 5,38%. Para 2022, a estimativa é de IPCA em 7,02% no acumulado até o fim do ano.
O resultado, se confirmado, significa que a inflação brasileira ficará por três anos consecutivos acima da meta de inflação projetada pelo Banco Central.
Seis dos nove grupos pesquisados pelo IBGE tiveram alta em agosto no IPCA-15.
O grupo "Transportes", que inclui os combustíveis, foi a maior queda do mês (-5,24%).
Um destaque foi a queda no preço do óleo diesel, que não vinha caindo no ritmo dos demais combustíveis por já ter regime tributário diferenciado e, portanto, não ter sido amplamente afetado pelos cortes de impostos. Contudo, o diesel teve o preço reduzido duas vezes pela Petrobras com o cenário internacional mais favorável em agosto.
O grupo "Habitação" também teve queda com a energia elétrica mais barata devido aos cortes no ICMS.
Na outra ponta, a maior alta veio do grupo "Alimentação e bebidas" (1,12%), que teve o maior impacto no valor final do IPCA-15 (0,24 pp) por sua importância na cesta de consumo dos brasileiros. Dentro desse grupo, a alimentação em domicílio subiu mais, 1,24%.
Já a alimentação fora do domicílio desacelerou, com alta de 0,80%, ante 1,27% no mês anterior.
O grupo "Educação" também foi um destaque e os preços aceleraram, de alta de 0,07% em julho para 0,61% em agosto.