Brasília - Influenciada principalmente pelos preços dos alimentos e de serviços, a inflação tem ficado ao redor do teto da meta (6,5% ao ano) e tem dado sustos nos últimos anos.
O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) somava 6,37% no acumulado entre junho de 2013 e maio deste ano.
Apesar de ter ultrapassado várias vezes 6,5% no acumulado em 12 meses ao longo dos últimos três anos, o IPCA, indicador oficial calculado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), tem conseguido encerrar o ano sem estourar o teto da meta.
Em 2011, o índice encostou em 6,5%, recuando para 5,84% em 2012 e 5,91% em 2013.
Apesar de a inflação não ter fugido do controle, a resistência em convergir para o centro da meta, de 4,5%, preocupa economistas e consumidores, que alegam perda do poder de compra no aniversário de 20 anos do Real.
Fundadora e presidenta do Movimento das Donas de Casa de Minas Gerais, Lúcia Pacífico diz que a inflação voltou a rondar o bolso dos brasileiros.
“Nossa entidade constantemente monitora os preços. São aumentos pequenos, R$ 0,50 aqui, R$ 1 ali, mas que corroem o poder aquisitivo de quem vai aos supermercados. Hoje, vejo pessoas voltando mercadorias no caixa porque o dinheiro não deu”, reclama.
A sucessão de aumentos pequenos nos preços também preocupa o vendedor de banca de revistas José Edinaldo da Silva, 55 anos. Apesar de estar em nível menor que nos últimos anos, ele constata a volta da inflação.
“Claro que não está como naquele tempo [antes do Plano Real], mas, meio por baixo do pano, a inflação está se manifestando. As revistas [da banca] estão no mesmo preço há muito tempo porque as editoras estão segurando, mas é só sair por aí para ver os aumentos”, diz.
Dono de uma banca de fotos e de fotocópias, Osvaldino Brandão, 58 anos, teve de reajustar preços por causa dos custos maiores.
“Neste ano, subi o preço da cartela de oito fotos de R$ 12 para R$ 13”, conta.
O aumento incomoda até quem nasceu depois do Plano Real e não conviveu com a hiperinflação.
-
1. Inflação
zoom_out_map
1/8 (Arquivo)
São Paulo – Com o recente aumento na
expectativa para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) em 2012, uma potencial volta da inflação voltou a
preocupar. “Inflação é um grande mal pra economia, principalmente para as classes mais baixas, porque come mais o salário do trabalhador que dos empresários. Além de ser ruim pro país ela estimula a desigualdade”, afirmou Samy Dana, professor da FGV-EESP. A taxa de inflação é estimada em 5,1% nesse ano, segundo estudo do Ipea. O número está acima da meta projetada pelo governo, de 4,5%, mas dentro da margem de variação de dois pontos percentuais. Mesmo que a inflação volte a preocupar, provavelmente, ainda estaríamos muito distante dos dias de superinflação, vividos no começo dos anos 90. Longe de ser um problema exclusivo brasileiro, a superinflação já fez vítimas entre os vizinhos sul-americanos e também em outros continentes. Alemanha e Hungria estão entre as
presas famosas, com índices que chegaram a 20,9% e 195% ao dia, respectivamente. Clique nas fotos para relembrar alguns países que já viveram a superinflação.
-
2. Brasil: 82% em março de 1990
zoom_out_map
2/8 (Stock Exchange)
"O índice de 7% ao ano é considerado uma calamidade, no passado era o que se tinha a cada semana”. A
opinião do articulista da revista EXAME J.R.Guzzo resume o que o Brasil já viveu em termos de inflação. No país, a taxa subiu muito no final dos anos 80 e início dos 90. Em 1989, a inflação estourou após o Plano Cruzado que, com o congelamento de preços, controlou artificialmente a inflação e gerou desabastecimento. Naquele ano, a taxa chegou a 1.636% ao ano. Em 1990, a inflação anual foi parecida, com uma explosão em março, mês em que ela chegou a 82%. Nesse ano, os preços dobravam a cada um mês e cinco dias. A desvalorização do dinheiro chegou a tal ponto que o salário perdia 25% do seu valor em 15 dias. Diariamente os comerciantes remarcavam os preços, o que gerava uma corrida ao comércio. “As pessoas saíam comprando qualquer porcaria”, afirmou Samy Dana, professor da FGV-EESP. Em 1993, a inflação chegou ao pico de 2.491%. O plano real, em 1994, interrompeu esse ciclo de inflação. Mesmo com esses índices, a inflação brasileira nem chegou perto das mais altas do mundo - na Hungria em 1946 e no Zimbábue em 2008.
-
3. Hungria: 195% ao dia
zoom_out_map
3/8 (Wikimedia Commons)
Após a Segunda Guerra, em julho de 1946, os preços dobravam a cada 15 horas na Hungria. Os aumentos chegavam a 195% ao dia, segundo estudo do economista Steve Hank, que aponta esse período como o de maior inflação da história. O que explica essa situação foi o empenho do país na guerra. Com o governo dedicado a financiar o conflito, a produção para o consumo ficou lenta e o país imprimiu dinheiro sem grande controle. Além disso, após a guerra, a população começou a gastar muito – afinal, havia poupado durante o conflito. O resultado disso foi o pior caso de hiperinflação da história.
-
4. Alemanha: 20,9% ao dia em 1923
zoom_out_map
4/8 (Lennart Preiss/AFP)
Um dos casos de superinflação mais famosos é o da Alemanha no período entre guerras. Em 1923, o país acabara de sair da primeira guerra mundial, na posição de derrotado - ou seja, além de sua economia ter sido prejudicada pelos anos de conflito, a nação ainda tinha dívidas com os vencedores. A impressão de moedas para pagar as dívidas auxiliou a inflação. As mercadorias dobravam de valor a cada três dias, aproximadamente. Em outubro, a taxa chegou a 20,9% ao dia. Em dezembro de 1923, um dólar valia um bilhão de marcos – no ano anterior, a mesma moeda valia 9.000 marcos. No auge da inflação, para comprar um quilo de manteiga, o alemão precisaria desembolsar 5,6 trilhões de marcos.
-
5. Argentina: 5.000% em 1989
zoom_out_map
5/8 (Divulgação/Viagem e Turismo)
A Argentina também experimentou índices elevados de inflação no final dos anos 80. Em 1989, a hiperinflação do país chegou a 5.000%. No ano seguinte, os preços dobravam a cada dois meses e três dias. Por lá, a hiperinflação foi solucionada com o que viria a ser a origem de outro problema. A paridade artificial entre peso e dólar. Instituída pela lei de conversibilidade, decretada em 1991, a paridade derrubou a inflação caiu para a casa dos três dígitos no mesmo ano. Mas, no longo prazo, o resultado da paridade foi o calote e a renegociação da dívida argentina.
-
6. Zimbábue – 98% ao dia
zoom_out_map
6/8 (Getty Images)
A taxa de aumento de preços no Zimbábue chegou a 79,6 bilhões por cento em novembro de 2008. A inflação diária era de 98%. A origem do problema estava em uma redistribuição de terras feita pelo governo e nas impressões descontroladas de dinheiro. A política de redistribuição de terra dos anos 1990 comprometeu a produção de alimentos, diminuindo a oferta e, consequentemente, aumentando os preços. Somada a essa situação, a impressão de dinheiro para pagar dívidas do FMI e salários de funcionários públicos agravou ainda mais o cenário.
-
7. Nicarágua: 126,6% em dezembro de 1988
zoom_out_map
7/8 (Elmer Martinez/AFP)
Entre 1987 e 1990 a Nicarágua enfrentou a superinflação. A taxa chegou a 33.000% ao ano no país. Em 1989, o país registrava uma das maiores inflações do mundo. Em um mês e 13 dias, os preços dobravam. E, naquele ano, as taxas já estavam mais baixas, após medidas de austeridade instauradas pelo governo em janeiro. Em janeiro de 1989, a inflação era de 91,8%, sendo que, em dezembro de 1988, a taxa havia atingido 126.6%.
-
8. Chile : 1.000% década de 70
zoom_out_map
8/8 (Richard Espinoza/Wikimedia Commons)
Assim como alguns de seus vizinhos, o Chile também já viveu dias de inflação elevada. No início dos anos 70, a inflação era de 500% - mas ela chegou a atingir 1000% no período. Em 1973, os preços dobravam a cada três meses e sete dias. A superinflação foi um dos fatores que limou o apoio popular ao governo de Salvador Allende, deposto após um golpe que entregou o poder a Augusto Pinochet.
“Até poucos anos atrás, com R$ 300 você comprava muita coisa. Hoje não dá mais nada”, comenta o estudante Leandro Lázaro, 18 anos.
No início do Plano Real, o governo usava a âncora cambial para conter a inflação.
Com o dólar próximo de R$ 1 até 1999, o câmbio sobrevalorizado estimulava a importação de produtos baratos para competir com as mercadorias nacionais.
Depois da crise de 1999, o governo liberou o câmbio e criou o regime de metas de inflação, pelo qual o Comitê de Política Monetária do Banco Central mantém o IPCA dentro de um intervalo por meio do controle da taxa Selic – juros básicos da economia.
Um dos responsáveis pela elaboração do Plano Real, o economista Edmar Bacha, ex-presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), diz que o governo brasileiro ainda não encontrou uma forma adequada de lidar com os juros altos.
A taxa Selic ficou em 7,25% ao ano entre outubro de 2012 e abril de 2013, no menor nível da história.
Para conter a inflação, o Banco Central elevou os juros para 11% ao ano nos últimos 14 meses.
Para Bacha, somente reformas que elevem a produtividade e reduzam o risco de crédito reduzirão os juros de forma consistente.
Ex-diretor do Banco Central, Carlos Eduardo Freitas diz que a inflação só não estourou o teto da meta por causa do controle de preços administrados, como transportes e energia.
Segundo ele, o tabelamento artificial está fazendo o Tesouro Nacional gastar mais para segurar os aumentos de preços, com efeitos negativos nas contas públicas.
“O novo modelo do setor elétrico criou obrigações ocultas para o Tesouro. Quanto mais a inflação aumenta e se dissemina, maior o sacrifício para trazê-la para o centro da meta”, declara.
O professor de economia da Universidade de Campinas (Unicamp) Francisco Lopreato, especialista em política fiscal, tem opinião distinta.
Para ele, o governo acertou ao reduzir os juros porque diminuiu o poder do setor financeiro, que ganha com a especulação e não investe o dinheiro na produção.
“Em nenhuma circunstância, vejo risco de descontrole. A inflação subiu por dois motivos. Primeiro, houve um choque de preços de alimentos, que subiram no Brasil e no exterior por motivos climáticos. Além disso, os empresários tentaram elevar a margem de lucro para compensar as perdas no mercado financeiro”, argumenta.
O diretor técnico do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), Clemente Ganz, diz que, apesar de a inflação estar próxima do teto da meta, não há descontrole.
"Uma inflação mais alta acarreta nível de perda maior, mas inflação em torno de 6,5% ao ano traz uma perda imperceptível se comparada ao período hiperinflacionário", avalia.
Segundo ele, a maior parte dos trabalhadores está conseguindo recuperar as perdas por causa das negociações sindicais e por causa da política de aumento real do salário mínimo.
-
1. Preços nas alturas
zoom_out_map
1/16 (Diego Giudice/Bloomberg)
São Paulo - A
inflação voltou a ser motivo de preocupação para o brasileiro. Apesar do crescimento baixo da economia e das tarifas controladas, ela continua perigosamente
perto do teto da meta (6,5%). É um número alto comparado ao dos países desenvolvidos (e da maior parte dos emergentes), mas não suficiente para colocar o país entre as maiores taxas do mundo. No top 15, há países em crescimento e em recessão, estáveis e em ebulição, da América Latina aos confins da Ásia. Os dados são do CIA World Factbook para o ano de 2013 com base em índices de preços ao consumidor - nem sempre oficiais. Veja a seguir:
-
2. 1. Síria: 59,1%
zoom_out_map
2/16 (Thaer Al Khalidiya/Reuters)
Por que a inflação é tão alta: a guerra civil que devasta o país desde 2011 já causou mais de 100 mil mortes, além de caos generalizado na economia. Moeda: libra síria Crescimento em 2013: não disponível
-
3. 2. Venezuela: 56,2%
zoom_out_map
3/16 (Meridith Kohut/Bloomberg)
Por que a inflação é tão alta: o governo tenta controlar preços, estoques e a troca por dólares ao mesmo tempo que continua injetando dinheiro na economia. O resultado: escassez de produtos básicos e uma inflação galopante - que pode ser
ainda maior que a divulgada.
Moeda: bolívar venezuelano
Crescimento em 2013: 1,6% (estimativa oficial)
-
4. 4. Malawi: 26,9%
zoom_out_map
4/16 (Wikimedia Commons)
Por que a inflação é tão alta: com baixo nível de reservas internacionais, o país tem batalhado para manter a taxa de câmbio estável e os preços controlados desde que a moeda perdeu metade do seu valor em meados de 2012 Moeda: kwacha do Malawi Crescimento em 2013: 6,1% (estimativa oficial)
-
5. 5. Sudão: 25%
zoom_out_map
5/16 (Getty Images)
Por que a inflação é tão alta: há cerca de uma década, o país sofre com conflitos armados entre a população árabe e não-árabe, o que levou à caos econômico e o desmembramento do país em 2011, com a criação do Sudão do Sul Moeda: dinar sudanês Crescimento em 2013: 3,9% (est.)
-
6. 6. Argentina: 20,8%
zoom_out_map
6/16 (Julian Finney/Getty Images)
Por que a inflação é tão alta: política fiscal generosa, desvalorização do peso e o intervencionismo de Cristina Kirchner são as causas da inflação argentina. De acordo com o governo, ela foi de 10,9% em 2013, mas consultorias privadas estimam
um número no mínimo duas vezes maior.
Moeda: peso argentino
Crescimento em 2013: 3%
-
7. 7. Bielorrússia: 19%
zoom_out_map
7/16 (Getty Images)
Por que a inflação é tão alta: a economia crescia muito até a crise de 2008. Com a piora das condições, o governo promoveu uma política monetária e fiscal expansionista - o que ajudou a desvalorizar a moeda e pressionar a inflação Moeda: rublo bielorusso Crescimento em 2013: 0,9%
-
8. 8. Eritreia: 13%
zoom_out_map
8/16 (Wikimedia Commons)
Por que a inflação é tão alta: o país se separou da Etiópia em 1993 e sua economia é basicamente de agricultura de subsistência. As poucas empresas privadas tem ligação forte com o governo, que gera déficits constantes por causa do alto gasto militar. Moeda: nafka Crescimento em 2013: 7% (est.)
-
9. 9. Guiné: 11,9%
zoom_out_map
9/16 (Seyllou/AFP Photo)
Por que a inflação é tão alta: o país é rico em recursos naturais mas tem baixo nível de desenvolvimento. Em 2013, a Guiné sofreu com episódios de violência política na expectativa da primeira eleição parlamentar em 5 anos, realizada em setembro. Moeda: franco da guiné Crescimento em 2013: 2,6% (est. oficial)
-
10. 10. Iêmem: 11,8%
zoom_out_map
10/16 (Getty Images)
Por que a inflação é tão alta: a inflação no Iêmem foi de 25% em outubro de 2011 para 5,5% em novembro de 2012, mas voltou a crescer impulsionada pelo aumento do preço de tabaco e do khat, uma planta estimulante consumida por grande parte da população Moeda: rial iemenita Crescimento em 2013: 5,4% (est. oficial)
-
11. 11. Serra Leoa: 11,1%
zoom_out_map
11/16 (Getty Images)
Por que a inflação é tão alta: o país está reconstruindo sua economia depois de mais de uma década de guerra civil. O crescimento é alto, mas os desequilíbrios também. A boa notícia é que a inflação já está em trajetória de queda. Moeda: leone Crescimento em 2013: 13,3% (est.)
-
12. 12. Gana: 11%
zoom_out_map
12/16 (SXC.Hu)
Por que a inflação é tão alta: o cedi foi uma das moedas que mais desvalorizaram no ano passado. Além disso, o governo passou a remover subsídios ao petróleo, que é basicamente importado, o que ajudou a aumentar os preços da gasolina e dos transportes. Moeda: cedi do gana Crescimento em 2013: 7,1%
-
13. 13. Butão: 11%
zoom_out_map
13/16 (Tgyeltshen/ WikimediaCommons)
Por que a inflação é tão alta: o Butão é um pequeno país asiático de apenas 700 mil habitantes, altamente dependente da Índia e com a economia baseada principalmente na agricultura e recursos florestais. Moeda: ngultrum e rupia indiana Crescimento em 2013: 6,5%
-
14. 14. Uzbequistão: 10,1%
zoom_out_map
14/16 (Getty Images)
Por que a inflação é tão alta: o país herdou vários tipos de controle econômico do seu passado soviético. A inflação tem sido pressionada por gastos do governo, depreciação da moeda e aumentos controlados de tarifas que estavam represadas havia muito tempo. Moeda: som uzbeque Crescimento em 2013: 8%
-
15. 15. Índia: 9,6%
zoom_out_map
15/16 (Wikimedia Commons / Kolkatan)
Por que a inflação é tão alta: o centro do problema são alimentos, que aumentam de preço tanto do lado da demanda - por causa do crescimento da renda rural - quanto pelo lado da oferta - por causa de problemas de estoque, clima e políticas do governo. Moeda: rupia indiana Crescimento em 2013: 4,5%
-
zoom_out_map
16/16 (Bloomberg)