Inflação: a tríade alimentos, energia elétrica e combustíveis lidera as altas nos últimos meses (Paulo Whitaker/Reuters)
Carolina Riveira
Publicado em 25 de setembro de 2021 às 08h00.
Última atualização em 25 de setembro de 2021 às 11h27.
A inflação não para de subir no Brasil. O IPCA-15 de setembro, uma prévia do índice inflacionário oficial, ficou em 1,14%, menor somente do que em setembro de 1994, ano de lançamento do Plano Real.
Os números foram publicados nesta sexta-feira, 24, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
O movimento já vinha se desenhando nos últimos meses, todos com aumento do IPCA acima do esperado por analistas.
A alta nos preços tem sido puxada por frentes como os alimentos, combustíveis e, mais recentemente, a energia elétrica. Veja abaixo os principais destaques entre os números.
A inflação brasileira chegou oficialmente aos dois dígitos com a divulgação do IPCA-15.
No acumulado de 12 meses, o índice, que é medido entre meados de agosto até meados de setembro, ficou em 10,05%.
O acumulado do IPCA-15 só havia chegado a dois dígitos em um mês de setembro no ano de 2003 e em 1994, 1995 e 1996, anos seguintes ao Plano Real, como mostra o gráfico abaixo.
Nos primeiros anos do Plano Real, a inflação ainda era galopante, superando os 1.000% no acumulado em vários meses. O índice só começou a se estabilizar a partir de 1996.
Desde então, mesmo se contabilizados outros meses para além de setembro, o Brasil só teve inflação de dois dígitos no IPCA-15 em poucos momentos:
No começo deste ano, a projeção era de que o IPCA fechasse o ano em pouco mais de 3%, segundo os analistas do Boletim Focus. O teto da meta do Banco Central era de 5,25%.
Desde então, foram mais de 20 revisões para cima no Focus. A última projeção é de que o IPCA termine o ano em alta de 8,35% — e contando.
Produtos essenciais na cesta de consumo dos brasileiros e com peso importante no IPCA têm subido acima da inflação, o que faz com que a alta nos preços sentida pelos mais pobres seja ainda maior do que a oficial, segundo o Ipea.
Há componentes globais e domésticos. Lá fora, existe um choque de oferta em alguns itens da cadeia de suprimentos, como os semicondutores, somado a uma demanda aquecida com a recuperação econômica e desemprego baixo nos países desenvolvidos. Esse cenário tem feito a inflação subir em vários países.
Mas o Brasil tem seus desafios internos, como a crise hídrica, que encarece a energia elétrica e os custos de produção.
Enquanto isso, o preço do barril de petróleo do tipo Brent, usado como referência pela Petrobras, está na casa de 78 dólares no mercado internacional, o maior desde 2018.
O preço dos combustíveis encarece não só o custo de vida, como a logística de transporte dos produtos, o que acaba repassado a outros setores. E com as termelétricas ligadas devido à seca, o custo dos combustíveis também impacta cada vez mais na conta de luz.
Assim, os preços no Brasil têm subido mesmo com a demanda ainda não tendo se recuperado plenamente, já que o desemprego segue alto, acima de 14%.
A inflação também está alta apesar de vários itens no segmento de serviços — como turismo, educação e alugueis — tendo crescimento abaixo da média com a pandemia. Isso deve começar a mudar com a reabertura plena da economia, pressionando ainda mais os preços.
Por isso, o Banco Central tem voltado a subir os juros neste ano, e a taxa Selic já chega a 6,25%, após ter começado o ano em 2,25%.
O dólar alto também persiste e torna mais caro os insumos importados, de alimentos a máquinas. E os itens que já estão em alta no mercado externo com o choque de oferta, como os eletrônicos, ficaram ainda mais caros para os brasileiros.
O cenário do câmbio no Brasil, somado à valorização das commodities no mercado externo ao longo de todo o ano passado e primeiro semestre deste ano, incentiva ainda a exportação de produtos agropecuários, reduzindo a oferta interna e ajudando a elevar os preços dos alimentos.
E não há expectativa de que o dólar caia tão cedo: até agora, a mediana dos analistas do Boletim Focus, do Banco Central, projeta o dólar acima de 5 reais para este ano e também para 2022, 2023 e 2024, sem grandes alterações.
Fatores como a crise política e o risco até as eleições de 2022 também ajudam na fuga de dólares e deterioração das expectativas de crescimento da economia, segundo analistas.
Isso tende a fazer com que não só a inflação continue alta, como o Brasil demore mais a crescer e gerar empregos, de modo que a renda de boa parte dos brasileiros não consegue acompanhar as novas altas. O cenário segue negativo para os próximos meses.
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