Posto de gasolina em São Paulo: combustíveis seguem entre os produtos que mais encareceram (Leandro Fonseca/Exame)
Carolina Riveira
Publicado em 11 de maio de 2022 às 09h05.
Última atualização em 11 de maio de 2022 às 14h39.
A inflação no Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), principal índice inflacionário brasileiro, fechou o mês de abril com variação de 1,06%, segundo divulgou nesta quarta-feira, 11, o IBGE.
Essa é a maior variação para um mês de abril desde 1996, em um período logo após a implementação do Plano Real. A inflação também segue muito acima dos patamares de 2021: em abril do ano passado, a alta havia sido de 0,31%.
No acumulado de 12 meses, a variação no IPCA foi de 12,13%.
As altas do mês foram puxadas sobretudo por alimentos e combustíveis. Juntos, os grupos de "Alimentos e Bebidas" e "Transportes" (que incluem os combustíveis) responderam por 80% do IPCA de abril, diz o IBGE.
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“Alimentos e transportes, que já haviam subido no mês anterior, continuaram em alta em abril", disse em nota o analista da pesquisa do IBGE, André Almeida.
A inflação mensal de abril desacelerou levemente em relação ao mês anterior, após a tendência de alta neste começo de ano:
O INPC, índice que mede a inflação na cesta das famílias mais pobres (até cinco salários mínimos), ficou em 1,04% em abril, em linha com o IPCA geral. O acumulado em 12 meses do INPC foi maior, de 12,47%.
Já é dado como certo que a inflação ficará acima do teto da meta do Banco Central, de 5%, apesar das altas na taxa de juros promovidas pelo BC.
A expectativa do mercado no último boletim Focus é de que o IPCA anual fique perto de 8% até o fim do ano, e, para chegar lá, tem de cair de forma mais consistente.
O cenário é desafiador: como a EXAME mostrou, a projeção em algumas casas do mercado é de que a inflação siga acima de 10% até o segundo semestre.
"Será difícil o processo de queda da mesma nos próximos meses. A inflação tem ficado resiliente acima de 10% desde o final do ano passado e ainda deve ficar nesse patamar até agosto pelo menos", escreveu em relatório nesta quarta-feira Sergio Vale, economista-chefe da MB Associados.
A projeção da casa é acima do mercado, de inflação deste ano fechando em 8,7% (antes, a projeção era de 7,8%), e com possibilidade de o BC "eventualmente ter que levar a Selic para 14% ou mais".
Na última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, em 5 de maio, a taxa de juros foi elevada em mais um ponto percentual, indo a 12,75%.
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Por outro lado, o IPCA de abril ficou em linha com as expectativas para o mês, que projetavam alta pouco acima de 12%, como de fato foi visto. Alguma desaceleração pode continuar nos próximos meses.
"Para maio, esperamos uma desaceleração maior do índice, para próximo de 0,3%, não somente pela continuação do impacto da redução na tarifa elétrica, mas também por uma desaceleração maior de alimentos e gasolina, seguindo o comportamento dos preços que já são observados no atacado", disse em nota a economista-chefe do banco Inter, Rafaela Vitória.
Oito dos nove grupos de produtos e serviços pesquisados pelo IBGE tiveram alta no mês de março.
No grupo "Alimentos e Bebidas" (alta de 2,06%), o consumo em domicílio teve variação novamente acima da inflação geral (2,59%).
Houve aumento de preço em itens importantes na cesta do consumidor, ressalta Almeida, do IBGE, como leite longa vida, batata, tomate, pão francês e carne.
Já no grupo "Transportes" (1,91%), os combustíveis seguiram subindo. A alta da gasolina é importante por ser o subitem com mais peso na cesta do IPCA, enquanto a alta de combustíveis como o diesel impacta também os custos de logística e preços de outros produtos.
O grupo "Habitação" (-1,14%) foi o único com queda em abril, devido à redução nos preços da energia elétrica (-6,27%) com a mudança de bandeira tarifária. Desde setembro do ano passado, em meio às secas, estava em vigor a bandeira de escassez hídrica, que aumenta os custos da energia ao consumidor. A bandeira foi substituída pela verde no último dia 16 de abril, o que ajudou nos preços.
Por outro lado, ainda nos custos de habitação, as altas do gás trazem pressão importante. O gás de botijão subiu 3,32% em abril e o gás encanado, 1,38% (a média nacional foi puxada sobretudo por elevação da tarifa no Rio de Janeiro).
Esse último pode ter tarifas reajustadas em outras regiões nas próximas semanas após a Petrobras anunciar aumento de 19% em seus preços do gás natural no fim de abril, que deve se mostrar sobretudo a partir do IPCA de maio no gás encanado, além de impacto no gás veicular.
Já o gás de botijão usa o GLP, um derivado do petróleo, que não teve aumentos oficiais em abril (o último aumento nas refinarias da Petrobras havia sido em 11 de março, com posterior redução em abril). Mas o GLP também vem em alta com os preços no mercado internacional, uma vez que parte da oferta interna é suprida por importadores.
O preço médio do botijão de 13 quilos ficou em R$ 113,11 na última semana (até 7 de maio), segundo pesquisa da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP).