Economia

Inflação em alta, PIB em baixa: os efeitos da greve na economia

A greve dos últimos dias deve deixar marcas indeléveis na economia brasileira

Protestos: paralisação deve levar a aumento da inflação nos próximos meses, segundo o Morgan Stanley  (Leonardo Benassatto/Reuters)

Protestos: paralisação deve levar a aumento da inflação nos próximos meses, segundo o Morgan Stanley (Leonardo Benassatto/Reuters)

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Da Redação

Publicado em 4 de junho de 2018 às 06h33.

Última atualização em 4 de junho de 2018 às 07h36.

O fantasma da greve segue à espreita, pelo menos em grupos de WhatsApp Brasil afora. Uma nova paralisação de caminhoneiros, supostamente marcada para hoje, não passa de “fake news”, segundo o governo. Seja como for, a greve dos últimos dias deve deixar marcas indeléveis na economia brasileira, como devem mostrar resultados a serem divulgados a partir desta semana.

Segundo relatório do banco Morgan Stanley os primeiros efeitos devem ser vistos na sexta-feira, quando o governo divulga o IPCA de maio, que deve começar a mostrar o impacto do aumento dos combustíveis e de outros produtos na inflação. Os principais efeitos, para o banco, devem vir mesmo nos resultados futuros.

“Em virtude da extrema dependência de caminhões para a logística do Brasil, a greve terá impactos diretos nos números macroeconômicos de maio e junho, especialmente no crescimento e na inflação”, afirma o relatório assinado por Arthur Carvalho. “Podem haver efeitos mais duradouros na confiança, o que pode impactar principalmente o crescimento, e levar mais incerteza às eleições”.

Um exemplo de como a greve pode afetar a economia brasileira, segundo o Morgan Stanley, está na Colômbia, onde uma greve de caminhoneiros se alongou por um mês e meio em 2016. Por lá, o movimento derrubou de imediato a produção industrial do país e fez a inflação disparar no mês seguinte, de cerca de 3% para a casa dos 8% na base anual. O mesmo pode acontecer no Brasil, sobretudo em produtos frescos, segundo o Morgan Stanley. Ainda assim, o índice deve ser normalizar no segundo semestre, sem grandes alterações na inflação final de 2018.

O impacto econômico, por sua vez, deve ser mais duradouro. Os cálculos iniciais do banco preveem uma perda de até 0,3 ponto percentual no PIB anual por um misto de efeitos concretos e de incertezas no longo prazo. O concreto é preocupante: segundo a empresa de pagamentos Cielo, a queda total no varejo chegou a 28% no final de maio, mesmo com uma alta de 54% nos supermercados em virtude do preocupação dos consumidores com a falta de produtos. O longo prazo vai depender da queda na confiança.

Os números do primeiro trimestre, vale lembrar, já não foram animadores, com crescimento do PIB de apenas 0,4% e queda de 0,6% nos investimentos, na comparação com o trimestre anterior. Economistas já afirmam que o crescimento econômico para o ano, antes previsto para a casa dos 3%, pode ficar em apenas 1,5%. A greve durou longos dez dias; seus efeitos, infelizmente, continuarão a ser vistos ao longo de 2018.

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