Economia

Inflação e redução na renda explicam queda no varejo

"O trabalho com carteira assinada traz um pouco mais de segurança para o consumidor", justificou a gerente do IBGE


	Supermercado: segundo pesquisadora, a decisão dos consumidores de diminuir o ritmo de compras é justificada pela redução da renda
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Supermercado: segundo pesquisadora, a decisão dos consumidores de diminuir o ritmo de compras é justificada pela redução da renda (thinkstock)

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Da Redação

Publicado em 12 de novembro de 2015 às 13h22.

Rio - Após meses de sucessivas quedas, as vendas do varejo já estão 9,2% abaixo do pico registrado em novembro de 2014, segundo os dados da Pesquisa Mensal de Comércio divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

"O reflexo do comércio é o que está acontecendo com o poder de compra. É diferente da indústria, em que a produção está ligada a uma decisão do empresário. No comércio não, é compra mesmo", avaliou Isabella Nunes, gerente da Coordenação de Serviços e Comércio do IBGE.

Segundo a pesquisadora, a decisão dos consumidores de diminuir o ritmo de compras é justificada pela redução da renda, menor concessão de crédito e pressão inflacionária. "São esses três fatores combinados que podem explicar esse recuo nas vendas", apontou.

Isabella declarou que a inflação teve impacto, sobretudo, nas vendas dos setores de supermercados e de combustíveis.

Dados do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) mostram um aumento 10,0% nos preços dos alimentos consumidos no domicílio no acumulado de 12 meses até setembro. No mesmo período, os combustíveis ficaram 11,1% mais caros.

Ao mesmo tempo, as taxas de juros do crédito para pessoas físicas subiram de 28,2% ao ano em setembro de 2014 para 37,4% ao ano em setembro de 2015, de acordo com levantamento do Banco Central.

As incertezas no mercado de trabalho, com redução nas vagas com carteira assinada, também contribuíram para a redução do consumo.

"O trabalho com carteira assinada traz um pouco mais de segurança para o consumidor", justificou a gerente do IBGE.

O cenário no varejo ampliado - que inclui as atividades de veículos e material de construção - é mais grave. O volume vendido está 15,7% menor do que o nível mais alto da pesquisa, alcançado em agosto de 2012.

"No ampliado, por incluir atividades do atacado, a questão do menor ritmo da atividade tem um impacto mais direto. Há projetos que são engavetados, gastos que são postergados, influenciando a produção de veículos e de material de construção", explicou Isabella.

"E as vendas de bens duráveis vêm perdendo fôlego porque, em geral, são itens de valor mais elevado, que comprometem mais a renda", destacou.

Sequência negativa

O varejo já acumula oito meses de queda nas vendas no ano de 2015. De fevereiro a setembro, as perdas chegam a 6,8%, segundo os dados do IBGE. "É a maior sequência de taxas negativas da série histórica (iniciada em 2000)", apontou Isabella Nunes.

Embora o resultado de janeiro tenha sido positivo, ficou muito próximo à estabilidade: 0,1%.

De acordo com Isabella, houve influência na massa real de salários pagos aos trabalhadores ocupados, que saiu de alta de 0,9% em setembro de 2014 para uma queda de 6,1% em setembro de 2015.

"Ou seja, a conjuntura de 2014 era outra em relação à de 2015 para a massa salarial, que é fundamental para a influência sobre o volume de vendas", justificou a pesquisadora.

Em setembro, houve recuo de 6,2% nas vendas na comparação com setembro do ano passado. "Foi o pior resultado para o mês de setembro da série histórica", concluiu Isabella.

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