Agência de notícias
Publicado em 14 de abril de 2025 às 11h13.
A inflação continua a impactar o consumo das famílias brasileiras, especialmente no setor de alimentos. Segundo pesquisa do Instituto Datafolha, divulgada neste domingo, 58% dos brasileiros afirmaram ter diminuído a quantidade de alimentos adquiridos nos últimos meses devido ao aumento dos preços.
De acordo com o estudo, 8 em cada 10 brasileiros fizeram alguma mudança de hábito devido ao impacto da inflação, como sair menos para comer fora de casa (61%), trocar a marca de café por uma mais barata (50%) e reduzir o consumo da bebida (49%). O levantamento, realizado entre os dias 1 e 3 de abril, ouviu 3.054 pessoas em 172 municípios de todas as regiões do país. A margem de erro é de dois pontos percentuais.
De acordo com o levantamento, um em cada quatro brasileiros afirma que não tem comida suficiente em casa. Para 60% da população, os mantimentos atendem às necessidades, enquanto 13% dizem ter mais do que precisam. Esses percentuais seguem praticamente inalterados desde a última vez em que a mesma pergunta foi feita, em março de 2023 — dentro da margem de erro, não houve mudanças relevantes desde o início do atual governo.
Além de observar mudanças nos hábitos de consumo, o instituto Datafolha também buscou entender quais táticas os brasileiros têm adotado para conter gastos. A atitude mais comum, mencionada por metade dos entrevistados, foi a redução no consumo de água, energia elétrica e gás de cozinha.
Outras estratégias incluem a procura por uma fonte extra de renda, apontada por 47% dos participantes. Já 36% disseram ter reduzido a compra de remédios, 32% deixaram de pagar dívidas e 26% não conseguiram quitar despesas básicas do lar.
A adesão a medidas de economia varia conforme a orientação política dos entrevistados: quanto maior o alinhamento com o ex-presidente Jair Bolsonaro, maior a proporção dos que afirmam ter adotado alguma dessas estratégias. Já entre os apoiadores do presidente Lula, esse percentual é menor. A alta nos preços dos alimentos tem sido apontada como um dos principais fatores que impactam negativamente a avaliação do governo Lula (PT).
Para 54% da população, a atual gestão tem grande responsabilidade pelo encarecimento dos alimentos nos últimos meses. Outros 29% acreditam que o governo tem parte da culpa. Apenas 14% isentam completamente o Planalto desse cenário.
Mesmo entre os que pretendem votar em Lula, há reconhecimento de responsabilidade do governo pela alta nos preços: 72% desses eleitores afirmam que o presidente tem muita ou alguma culpa pelo problema. De acordo com o Datafolha, 29% dos brasileiros avaliam o governo de forma positiva — um leve avanço em relação ao levantamento de dezembro, quando esse índice era de 24%. Ainda assim, o número de avaliações negativas continua superior, atingindo 38%.
Para tentar conter a inflação dos alimentos, o governo anunciou medidas como a isenção do imposto de importação sobre alguns produtos. Até o momento, porém, os efeitos práticos dessas ações ainda não foram sentidos de forma significativa.
O instituto também perguntou aos entrevistados sobre os fatores que, em sua opinião, mais influenciam na alta dos preços. Foram citados o governo Lula, a crise climática, os conflitos internacionais, a situação econômica dos Estados Unidos e os produtores rurais.
Em todos os grupos sociais, mais da metade dos entrevistados considera que o governo federal tem grande responsabilidade pelo aumento. Entre as pessoas com renda de até dois salários mínimos, no entanto, os produtores rurais são vistos com o mesmo grau de responsabilidade: 55% apontam o Planalto, e 54%, o setor agropecuário — um índice bem mais alto do que o observado nas faixas de renda mais elevadas. Entre os que ganham acima de dez salários mínimos, por exemplo, apenas 41% culpam os produtores.
Esse grupo com maior poder aquisitivo também tende a minimizar outros fatores: apenas 40% responsabilizam as guerras no mundo, e 36% citam a crise econômica nos Estados Unidos — percentuais ligeiramente menores do que os registrados entre os demais entrevistados (entre 39% e 48%).
Dados mais recentes do IBGE mostram que a inflação acumulada em 12 meses até março foi de 5,48%. Apenas em março, o aumento foi de 0,56%, puxado principalmente pela alta nos preços de alimentos e bebidas. Essa categoria teve aceleração: passou de 0,70% em fevereiro para 1,17% no mês seguinte.
Entre os itens com maiores altas estão o tomate (22,55%), o ovo de galinha (13,13%) e o café moído (8,14%). Em 12 meses, os aumentos acumulados desses produtos foram de 0,13%, 19,52% e impressionantes 77,78%, respectivamente.