Brasília - A inflação ainda deve manter-se resistente nos próximos trimestres, mas tende a convergir para a meta no futuro, se a taxa básica de juros, a Selic, não for reduzida.
Esse é o cenário previsto pelo do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC).
A avaliação foi divulgada hoje (24) na ata da última reunião do comitê, que decidiu manter a taxa básica de juros, a Selic, em 11% ao ano, no último dia 16.
“O comitê antecipa cenário que contempla inflação resistente nos próximos trimestres, mas, que, mantidas as condições monetárias – isto é, levando em conta estratégia que não contempla redução do instrumento de política monetária [taxa Selic] – tende a entrar em trajetória de convergência para a meta nos trimestres finais do horizonte de projeção”.
Cabe ao BC manter a inflação dentro da meta estabelecida pelo Conselho Monetária Nacional.
Essa meta tem como centro 4,5% e limite superior em 6,5%.
No mês passado, o BC divulgou em seu Relatório de Inflação que espera que a inflação, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), fique em 6,4%, este ano; em 5,7%, em 2015, e em 5,1%, em 12 meses acumulados no final do segundo trimestre de 2016.
Na avaliação do Copom, as pressões inflacionárias tendem a arrefecer ou, até mesmo, se esgotarem.
O Copom cita como exemplos de pressões inflacionárias o aumento de preços domésticos, em alinhamento com os internacionais, e a alta dos preços administrados para acompanhar os livres.
Para o comitê, os ganhos salariais incompatíveis com o aumento da produtividade também são um fator de pressão sobre a inflação.
Por conta dessas pressões, o colegiado diz que a inflação ainda mostrou resistência nos últimos 12 meses e para combatê-las, o Copom lembra que a taxa Selic foi elevada por nove vezes seguidas, até a reunião de abril.
Em maio e julho, o Copom optou por manter a Selic em 11% ao ano.
Para o comitê, o efeito dessas elevações na inflação, “em parte, ainda estão por se materializar”. “Além disso, é plausível afirmar que, na presença de níveis de confiança relativamente modestos, os efeitos das ações de política monetária [decisões sobre a Selic] sobre a inflação tendem a ser potencializados”, acrescentou.
Na ata, o Copom também destaca “o deslocamento do hiato do produto para o campo desinflacionário”. Isso quer dizer que a economia está crescendo abaixo do seu potencial, o que contribui para reduzir pressões inflacionárias.
Quando o Copom aumenta a Selic, o objetivo é conter a demanda aquecida e isso gera reflexos nos preços, porque os juros mais altos encarecem o crédito e estimulam a poupança.
Já quando o Copom reduz os juros básicos, a tendência é que o crédito fique mais barato, com incentivo à produção e ao consumo, mas a medida alivia o controle sobre a inflação.
Ao manter a Selic, o comitê indica que elevações anteriores foram suficientes para controlar a inflação.
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1. Aumento da Selic afeta pouco o crédito ao consumidor
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1/7 (Marcello Casal Jr/ABr)
São Paulo - O aumento da taxa de juros promovido pelo Banco Central nesta quarta-feira (8) mexe no crédito ao consumidor, embora os efeitos sejam pequenos. Segundo cálculos da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), a maior alteração deve ocorrer nos juros do financiamento de automóveis (CDC dos bancos), que ficarão 0,83% mais caros. Esta pequena diferença se deve ao fato de existir um descolamento grande entre a Selic e as taxas cobradas ao consumidor. Estas últimas, em média, chegam a 121,96% ao ano provocando uma variação de mais de 900,00% entre as duas pontas. Os efeitos práticos do aumento da taxa básica de juros podem ser observados, por exemplo, em operações do cotidiano como crediários de lojas, ou o crédito rotativo dos cartões. Veja nas fotos ao lado como o ajuste da Selic afeta o crédito que você toma.
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2. Juros do comércio – crediário de loja
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2/7 (Arquivo/EXAME)
São Paulo - Enquanto a taxa Selic era de 12% ao ano, os juros do crediário chegavam a 5,73% ao mês. Com a taxa básica a12,25% ao ano, os novos juros do crediário passam a ser de 5,75%. O efeito deste aumento pode ser observado, por exemplo, na compra de uma geladeira de 1,5 mil reais, parcelada em 12 vezes. Na antiga taxa de juros, as prestações seriam de 176,28 reais mensais, totalizando o valor de 2,115,36 reais. Na taxa atual, as parcelas do eletrodoméstico passam a ser de 176,47 reais. No fim, o valor da geladeira vai para 2.117,64 reais. No total, o comprador paga 2,28 reais mais caro pelo produto graças ao aumento da Selic.
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3. Cheque especial
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3/7 (Wikimedia Commons)
São Paulo - Quem tem o hábito de usar o limite do cheque especial já paga caro por isto, mas, com o aumento da Selic, os juros ficarão um pouco maiores. Pela utilização de mil reais do limite, durante 20 dias, o tomador pagava um juro de 8,12% ao mês. Isto significa que, no período considerado, ele pagaria 54,13 reais de encargos sobre o crédito que tomou. Na nova taxa, de 8,14%, o valor pago passa a ser de 54,27 reais.
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4. Cartão de crédito
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4/7 (Wikimedia Commons)
São Paulo - Cair no rotativo do cartão de crédito é sempre perigoso, mas com a alta da Selic, a situação fica um pouco pior. Considere, por exemplo, a utilização do rotativo de mil reais por 30 dias. Antes do aumento da Selic, a taxa de juros era de 10,69% ao mês, o que totalizava 106,90 reais pagos em juros. Com a nova Selic, a taxa do cartão de crédito passa a ser de 10,71%, e os juros pagos por utilizar mil reais do rotativo durante 30 dias chegam a 107,10 reais.
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5. Empréstimo pessoal nos bancos
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5/7 (Exame/Germano Lüders)
São Paulo - Antes do aumento da Selic, quem tomasse o empréstimo de mil reais por um ano em um banco pagaria 4,75% de juros ao mês, ou seja, 111,24 reais de juros. No final de 12 meses, o total a ser pago ao banco seria de 1.334 reais. Com a nova taxa básica de juros, o encargo sobre este mesmo empréstimo passa a ser de 4,77% ao mês. No fim de um ano, o valor a ser pago sobe para 1.336 reais.
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6. CDC dos bancos - compra de um veículo
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6/7 (Wikimedia Commons)
São Paulo - Considerando a compra de um veículo no valor de 25 mil reais em 60 prestações, a taxa de juros antes do aumento da Selic era de 2,24% ao mês. As parcelas eram de aproximadamente 794 reais, e o valor final do carro, de 47.649,60 reais. Com a nova Selic, os juros passam a ser de 2,44% ao mês. O valor das parcelas sobe para 797,81 reais e o valor final do carro, de 47.868,60 reais.
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7. Empréstimo pessoal em financeiras
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7/7 (Wikimedia Commons)
São Paulo - Quem tomava um empréstimo de, por exemplo, 500 reais em uma financeira antes do aumento da Selic, pagava uma taxa de juro de 9,48% ao mês. Depois de 12 meses, o valor a ser restituído para a financeira era de 858,24 reais. Com a nova taxa, os juros sobem para 9,50% ao mês, e o valor final, para 859,08 reais.