Economia

"Infelicidade econômica" do brasileiro sofre forte queda

O índice de “miséria” ou “infelicidade” (a soma das taxas de desemprego e inflação) está em queda há meses, mostra relatório do Banco Fibra

Mudança no clima: desemprego já dá sinais de queda (phototechno/Thinkstock)

Mudança no clima: desemprego já dá sinais de queda (phototechno/Thinkstock)

João Pedro Caleiro

João Pedro Caleiro

Publicado em 1 de agosto de 2017 às 06h00.

Última atualização em 1 de agosto de 2017 às 06h00.

São Paulo - O índice de “miséria” ou “infelicidade” (a soma das taxas de desemprego e inflação), também chamado de “taxa de desconforto”, recuou bastante nos últimos meses no Brasil.

A avaliação foi feita em um relatório divulgado ontem pelo Banco Fibra e assinado por seu economista-chefe Cristiano Oliveira, confirmando uma previsão feita no começo do ano.

Os dois componentes do índice estão em recuo, mas a queda da inflação veio antes e de forma mais intensa.

O IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) acumulado nos 12 meses até junho está em 3%. No mesmo mês de 2016, a inflação acumulada em 12 meses chegava a 8,84%.

O aumento dos impostos sobre combustíveis elevou um pouco a previsão da inflação até o final do ano, mas sem mudar a trajetória e ainda com folga dentro da meta do governo (que é de 4,5% com tolerância de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo).

Veja a evolução do IPCA nos últimos meses:

Miniatura do IPCA até junho de 2017

O outro elemento do índice, o desemprego, subiu de forma acentuada com o agravamento da crise econômica a partir do final de 2014.

A alta foi inclusive mais intensa do que o esperado em uma comparação histórica, segundo estudo recente de economistas da Fundação Getúlio Vargas (FGV).

Mas o desemprego já está dando sinais de queda: os últimos números divulgados pelo IBGE mostram que a taxa foi de 13,7% no primeiro trimestre para 13% no segundo trimestre.

A maior parte da melhora vem por enquanto de empregos informais ou trabalho por conta própria, e os economistas dizem que é cedo para falar em uma reversão definitiva da trajetória.

Mas é notável que o processo já tenha sido iniciado em um cenário de forte incerteza política diante das denúncias contra o presidente Michel Temer disparadas pela delação da JBS.

O desemprego é descrito como o "último vagão do trem" por reagir de forma atrasada às mudanças dos ciclos econômicos.

O Fibra prevê crescimento da economia brasileira de 0,5% em 2017 e 2,5% em 2018, acima do esperado pelo mercado, com o desemprego chegando a uma média anual de 10,9% no final de 2018.

"Mantemos a opinião de que, se nossa estimativa estiver correta, cœteris paribus, a popularidade do governo Temer pode melhorar com relação ao nível atual em 2018, ano eleitoral", diz o texto.

Segundo pesquisa do CNI/Ibope, apenas 5% consideram o governo do presidente ótimo ou bom, a avaliação positiva mais baixa desde a redemocratização.

Veja no gráfico do Fibra a evolução do Índice de Infelicidade:

Índice de Infelicidade do brasileiro até junho de 2017

Índice

O “índice de infelicidade” (misery index, em inglês) foi criado nos anos 60 pelo economista americano Arthur Okon, que chefiou o Conselho Econômico da Presidência na administração de Lyndon Johnson.

Estudos posteriores mostraram uma correlação forte entre o índice de infelicidade e a popularidade de presidentes. Um trabalho de Chor Foon Tang e Hooi Hooi Lean encontrou uma relação também com aumento da criminalidade.

Roberto Barro, um economista de Harvard, fez uma nova versão do índice em 1999, incluindo taxas de juros e o desvio do crescimento do PIB (positivo ou negativo) em relação a taxa média.

Em 2001, Rafael Di Tella, Robert J. MacCulloch e Andrew J. Oswald se basearam em pesquisas de felicidade em 12 países europeus e os EUA para concluir que as pessoas se incomodam mais com o desemprego do que com a inflação.

“As estimativas sugerem que as pessoas trocariam um aumento de 1 ponto percentual na taxa de desemprego por um aumento de 1,7% na taxa de inflação”, escrevem.

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