O "índice de miséria" já começou a cair (.)
João Pedro Caleiro
Publicado em 7 de fevereiro de 2017 às 13h01.
Última atualização em 7 de fevereiro de 2017 às 15h31.
São Paulo - O índice de “miséria” ou “infelicidade” (a soma das taxas de desemprego e inflação), também chamado de "taxa de desconforto", deve recuar fortemente nos próximos meses no Brasil.
A avaliação foi feita em um relatório divulgado ontem pelo Banco Fibra e assinado por seu economista-chefe Cristiano Oliveira.
Esse processo já começou nos últimos meses de 2016, quando a inflação recuou mais intensamente e acabou fechando o ano em 6,29%, abaixo do teto da meta.
O relatório nota o "considerável número de surpresas inflacionárias baixistas que foram favorecidas pelo comportamento benigno da inflação de alimentos e também pela recessão que impactou principalmente os preços do grupo dos serviços cíclicos".
O último Boletim Focus projeta IPCA de 4,64% em 2017, já muito próximo do centro da meta (4,5%). Os números de janeiro serão divulgados pelo IBGE amanhã.
Já o desemprego continua subindo: foi de 9% para 12% entre o final de 2015 e o final de 2016, segundo os últimos dados da PNAD Contínua. O país tem 12 milhões de desempregados.
Mas a previsão do Fibra é que a taxa comece a recuar de forma sustentada a partir do segundo trimestre do ano.
O Indicador Antecedente de Emprego (IAEmp), que antecipa os rumos do mercado de trabalho no Brasil, chegou no seu maior nível desde maio de 2010.
Mas outros analistas preveem que a taxa de desemprego só volte a recuar no segundo semestre, já que há uma janela de tempo entre a retomada da atividade e a necessidade de contratar.
Veja no gráfico a estimativa do Banco Fibra para a evolução do Índice de Miséria até 2019:
"Julgamos que se nossa estimativa estiver correta, coeteris paribus [todo o resto inalterado], a popularidade do governo Temer estará em alta em 2018, ano eleitoral", diz o relatório.
Vale notar que as previsões do Fibra são um pouco mais otimistas do que a média do mercado: crescimento de 1% em 2017 e 3,5% em 2018, contra 0,49% e 2,25% na previsão do Focus.
Índice
O “índice de infelicidade” (misery index, em inglês) foi criado nos anos 60 pelo economista americano Arthur Okon, que chefiou o Conselho Econômico da Presidência na administração de Lyndon Johnson.
Estudos posteriores mostraram uma correlação forte entre o índice de infelicidade e a popularidade de presidentes. Um trabalho de Chor Foon Tang e Hooi Hooi Lean encontrou uma relação também com aumento da criminalidade.
Roberto Barro, um economista de Harvard, fez uma nova versão do índice em 1999, incluindo taxas de juros e o desvio do crescimento do PIB (positivo ou negativo) em relação a taxa média.
Em 2001, Rafael Di Tella, Robert J. MacCulloch e Andrew J. Oswald se basearam em pesquisas de felicidade em 12 países europeus e os EUA para concluir que as pessoas se incomodam mais com o desemprego do que com a inflação.
“As estimativas sugerem que as pessoas trocariam um aumento de 1 ponto percentual na taxa de desemprego por um aumento de 1,7% na taxa de inflação”, escrevem.