Petróleo: a situação no Brasil é "mais drástica" do que no restante do mundo (Petrobras/Divulgação)
Da Redação
Publicado em 3 de dezembro de 2015 às 11h28.
Rio de Janeiro - A crise política pela qual passa o Brasil, agravada na quarta-feira à noite após pedido de abertura de processo de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff ter sido acatado, preocupa a indústria de petróleo brasileira, que teme uma paralisia ainda maior do Congresso Nacional e o adiamento de medidas importantes para o setor.
Além dos baixos preços do petróleo no cenário internacional, a cadeia industrial de óleo e gás convive com as consequências das dificuldades financeiras da Petrobras, que teve contratos envolvidos em um escândalo de corrupção que atingiu políticos e as maiores empreiteiras do Brasil.
A situação no Brasil é "mais drástica" do que no restante do mundo, na avaliação do professor adjunto e integrante do Grupo de Economia de Energia do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (IE/UFRJ), Edmar de Almeida.
"A crise política que o Brasil está passando dificulta a tomada de decisões importantes para o setor. Eu acho que são decisões urgentes que precisam vir para buscar primeiro solucionar a crise financeira da Petrobras, dar um encaminhamento mais seguro para o ajuste que a Petrobras está fazendo, e segundo atrair investimento privado, em um patamar muito maior que o Brasil tem hoje", afirmou Almeida, a jornalistas em evento do setor.
Segundo Almeida, a própria venda de ativos da petroleira estatal depende de medidas do governo, como a renovação antecipada de concessões de campos maduros de produção. Os investidores interessados nesses ativos precisam de segurança regulatória de que terão esses ativos por mais tempo do que os atuais contratos garantem.
Para Almeida, o processo de impeachment agrava ainda mais a crise atual.
"Cada um vai ter sua interpretação de mais ou menos esperança para a solução da crise política. Eu pessoalmente acho que (o processo de impeachment) é mais um degrau acima no atual conflito político", afirmou o professor, ponderando que alguém pode considerar, de outro lado, que o processo de impedimento pode ser um sinal de que uma solução pode estar próxima.
Almeida falou durante evento na Federação das Indústria do Estado do Rio de Janeiro (Firjan) marcado com o objetivo de discutir o futuro da indústria de petróleo.
O presidente da Firjan, Eduardo Eugênio, destacou na abertura do evento que a indústria vem pressionando o governo há muito tempo por discussões para melhorias do setor e até agora não conseguiu um interlocutor para levar conversas adiante.
"Evidentemente que esse seminário foi marcado e nós não sabíamos do evento de ontem, mas assim mesmo nós temos que entender que nós precisamos pressionar para ter... interlocução a quem decide", afirmou Eugênio.
Eugênio afirmou que o Brasil está desperdiçando tempo ao atrasar a exploração e produção de reservas com alto potencial no Brasil, enquanto discute questões regulatórias que, segundo ele, atrapalham o desenvolvimento.
"Para a sociedade brasileira, não interessa quem vai tirar esse petróleo, interessa que esse petróleo seja retirado o mais rápido possível", afirmou o presidente da Firjan, frisando que a sociedade é mais importante que opiniões de pessoas, grupos ou ideologias.
Também presente no evento, o secretário-executivo do Instituto Brasileiro de Petróleo (IBP), Antonio Guimarães, declarou que uma preocupação com a abertura de um processo de impeachment seria o adiamento de decisões importantes para o setor.
"Preocupação particular seria uma certa paralisia de o Congresso não pensar em outra coisa... isso poderia atrasar discussões importantes como, por exemplo, do operador único (do pré-sal), isso seria muito ruim", afirmou Guimarães.
Uma das principais demandas do setor é o fim da obrigatoriedade de a Petrobras ser a operadora única do pré-sal, já que a empresa vive dificuldades financeiras, e isso poderia atrasar os investimentos para a produção do óleo nessas áreas.
A legislação atual obriga também a Petrobras a ter participação mínima de 30 por cento em áreas concedidas por meio do regime de partilha, no qual parte da produção de petróleo é repassada para a União.
Críticos da obrigatoriedade de participação de ao menos 30 por cento da Petrobras nos campos do pré-sal afirmam que essa exigência engessa a companhia.