Funcionário trabalhando em um frigorífico da JBS (foto/AFP)
Da Redação
Publicado em 20 de junho de 2014 às 18h10.
São Paulo - Os frigoríficos de Mato Grosso, Estado com o maior rebanho bovino do país, estão trabalhando bem abaixo de sua capacidade, em meio à menor disponibilidade de animais para o abate, disseram operadores e especialistas.
O bom volume de chuvas no Estado desde o começo do ano beneficiou as pastagens, diferentemente do que foi visto no Sudeste, afetado por uma seca atípica.
Com isso, os pecuaristas mato-grossenses venderam mais para cobrir a demanda nas regiões afetadas pela seca no começo do ano.
E agora, com o período de entressafra se aproximando e as pastagens em condições ainda favoráveis para sustentar os animais que restaram, os produtores têm freado as vendas a espera de melhores cotações.
"O produtor está numa situação relativamente confortável. As condições de pasto estão relativamente boas. O produtor não aceita participar dessa pressão baixista que a indústria está fazendo", disse o superintendente da Associação dos Criadores de Mato Grosso (Acrimat), Luciano Vaccari.
Alguns frigoríficos reduziram a operação ou optaram por férias coletivas em meio à oferta limitada, especialmente no médio-norte e partes do oeste e centro-sul de Mato Grosso.
Um operador de mercado que atua no Estado disse que na última semana um frigorífico de porte médio, localizado na região do médio-norte, com capacidade de 2.500 cabeças, estava abatendo cerca de 1.300 animais por dia.
Outros de menor porte no centro-sul e oeste de Mato Grosso, com capacidade para 800 cabeças, estão abatendo entre 500 a 550 cabeças por dia.
A JBS, maior processadora de carnes do mundo, é a empresa com maior atuação em Mato Grosso, com cerca de 50 por cento da capacidade total de abate no Estado, segundo estimativa da Acrimat.
A Marfrig Alimentos, segunda maior em processamento de carne bovina no país, também atua no Estado com dois frigoríficos.
A JBS informou que concedeu férias coletivas de quinze dias em sua unidade em São José dos Quatro Marcos, que estavam agendadas, mas não deu detalhes sobre as operações nas demais unidades. A Marfrig disse por meio da assessoria que não comentará o assunto.
O setor se aproxima do período de entressafra, quando o tempo mais seco faz com que os animais sejam criados em sistema de confinamento, alimentados com ração e suplementos, por conta da perda de vigor dos pastos.
Acompanhamento do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) no Estado indica que a oferta de boi de pasto em Mato Grosso está bastante restrita.
Ao mesmo tempo, os frigoríficos ainda não podem contar com a oferta do boi de confinamento. A consultora sênior em gerenciamento de risco para pecuária da INTL FCStone, Lygia Pimentel, observou que, além da questão de oferta restrita para abate, a demanda está menos aquecida do que o inicialmente esperado para este período de feriados e Copa do Mundo.
Segundo ela, os preços da carne chegaram a subir cerca de 1,6 por cento em junho se comparado à segunda quinzena de maio, sinalizando uma demanda melhor, mas veio abaixo das expectativas da indústria.
"O pessoal está um pouco descrente... Nós temos menos oferta (de boi), mas o consumo de carne também está um pouco abaixo do que a indústria esperava", explicou Lygia.