Geadas atingiram fortemente as regiões produtoras de trigo do Paraná por quatro dias seguidos nesta semana, num momento em que mais da metade das lavouras está suscetível a sofrer perdas pelo frio (Adriano Machado/Bloomberg)
Da Redação
Publicado em 26 de julho de 2013 às 15h52.
São Paulo - As geadas desta semana no Paraná atingiram em cheio justamente as lavouras que resultariam nas primeiras colheitas de trigo do ano no principal produtor nacional da commodity, o que deverá prolongar a escassez do cereal brasileiro no mercado e manter os preços, já em patamares recordes, em níveis sustentados.
A avaliação é do presidente do Conselho Deliberativo da Associação Brasileira da Indústria do Trigo (Abitrigo), Marcelo Vosnika, em entrevista à Reuters.
Geadas atingiram fortemente as regiões produtoras de trigo do Paraná por quatro dias seguidos nesta semana, num momento em que mais da metade das lavouras está suscetível a sofrer perdas pelo frio.
Nesta sexta-feira, as temperaturas subiram e devem seguir em elevação nos próximos dias, mas a indústria já contabiliza perdas de cerca 10 por cento de uma safra de aproximadamente 3 milhões de toneladas, disse o presidente da Abitrigo.
O Paraná normalmente produz metade da safra nacional, mas não é tanto o volume perdido que preocupa o presidente da associação, empresário do setor de trigo no Estado. Mas sim o prolongamento de uma escassez, uma vez que a geada destruiu boa parte das primeiras colheitas.
"O problema para mim é o trigo de setembro, que está sendo perdido... Não é um problema gravíssimo para o Paraná, mas é um problema gravíssimo para setembro... o pessoal estava desesperado esperando este trigo", afirmou Vosnika.
O presidente da Abitrigo disse que essas mesmas áreas de trigo atingidas por geadas tinham sofrido anteriormente com chuvas intensas, que favoreceram a proliferação de doenças fúngicas, que já teriam um impacto sobre a produtividade.
Preços sustentados, maiores importações
As geadas no Paraná provavelmente elevarão a necessidade de importação de trigo pelo Brasil, num momento em que o país enfrenta uma escassez interna e também nos países do Mercosul, que tradicionalmente complementa a maior parte das necessidades do país, um importador líquido do cereal.
Dessa forma, o Brasil terá de recorrer a mais trigo do Hemisfério Norte, considerando que a Argentina, principal fornecedor aos moinhos brasileiros, só deverá ofertar o produto da safra nova na melhor das hipóteses em dezembro, quando a colheita terá início.
Mesmo antes das geadas, a Abitrigo já havia pedido isenção de tarifa para comprar trigo fora do Mercosul para um volume de 3 milhões de toneladas, disse o presidente da associação, em função dos problemas no Mercosul e na safra passada nacional. "A gente já tinha pedido 3 milhões lá atrás, o governo liberou só 2, então o pedido já está lá", afirmou, ressaltando a necessidade de um maior volume de importação.
Essa cota de 2 milhões de toneladas de trigo, isenta da tarifa de 10 por cento para compras fora do Mercosul, já está praticamente toda comprometida com importações realizadas pelas indústrias, que estão lidando internamente com os maiores valores já vistos no mercado interno do cereal, no patamar de 900 reais por tonelada.
Procurado, o Ministério da Agricultura informou que não há sinalização de mudança na cota isenta de tarifa. Disse que isso só poderia ocorrer se algo grave acontecesse, o que o governo não considera provável.
"Vai depender muito da questão do preço, o governo olha muito a inflação", disse Vosnika, sobre a possibilidade de uma cota maior para importar trigo sem tarifa do Hemisfério Norte. Nos EUA, por exemplo, o preço do trigo está mais baixo do que no mercado nacional. O tipo HRW é cotado a 295 dólares por tonelada.
Com a chegada da safra brasileira, no início de setembro, a tendência seria um alívio considerável nos preços internos, o que não deve acontecer, segundo o presidente da Abitrigo. "A queda de preço com a entrada de safra, se acontecer, ela vai acontecer para novembro e dezembro. Se cair, vai cair mais para frente, e a queda não vai ser acentuada, vai ser muito mais leve", opinou Vosnika.