Economia

Indústria de máquina de cana perde R$ 2,5 bi em receita

A crise financeira de 2008 limitou a liquidez do setor sucroalcooleiro, provocando acirramento da consolidação entre usinas, que paralisou a construção de novas unidades

As perdas anuais que chegam aos R$ 2,5 bilhões no setor (Divulgação/EXAME)

As perdas anuais que chegam aos R$ 2,5 bilhões no setor (Divulgação/EXAME)

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Da Redação

Publicado em 26 de outubro de 2011 às 07h31.

São Paulo - A indústria de máquinas, equipamentos e serviços voltada para as usinas de açúcar e álcool trabalha com capacidade ociosa média de 40% e perdas anuais que chegam aos R$ 2,5 bilhões diante da paralisação de investimentos em novas unidades produtoras de açúcar e etanol.

"Se até 2008 a nossa linha de produção registrava até fila de espera, atualmente estamos basicamente nos mantendo através da ampliação da capacidade de produção de algumas unidades e de reformas de equipamentos", diz Antonio Carlos Christiano, presidente da Simantec, empresa que produz equipamentos individuais para usinas e também unidades completas.

A crise financeira de 2008 limitou de forma expressiva a liquidez do setor sucroalcooleiro, assim como a disponibilidade de crédito, provocando um acirramento do movimento de consolidação entre as usinas, ao mesmo tempo em que paralisou a construção de novas unidades. "Sem novas usinas sendo construídas, ficamos limitados a serviços de manutenção e à entrega dos equipamentos que já estavam encomendados antes da crise", diz Sérgio Leme, presidente da Dedini Indústria de Base.

Segundo ele, após entregar neste semestre os novos projetos da ETH, não existem novas demandas do setor. "Reduzimos nosso faturamento em R$ 1 bilhão por ano desde a crise", afirma. No geral, o setor faturava cerca de R$ 5,5 bilhões por ano, número que caiu para R$ 3 bilhões.

Descapitalização

Para o presidente do Centro Nacional das Indústrias do Setor Sucroenergético e Biocombustíveis (Ceise Br), Adézio Marques, sem a demanda das usinas de açúcar e etanol, a indústria de equipamentos também está se descapitalizando. "A maioria das empresas não consegue nem se diversificar, por conta da falta de capital existente no momento. Essas indústrias estão com seu faturamento em queda desde 2008 e muitas tiveram de se reestruturar de forma expressiva", afirma.

Empresas como a Dedini, a Simantec e a Planusi Equipamentos Agrícolas, por exemplo, reduziram o número de funcionários a partir de 2009. "De dois mil funcionários, reduzimos para menos da metade. Quando estávamos iniciando um movimento de recontratação, em função de uma recuperação na demanda por manutenção de equipamentos, a nova crise chegou", diz Christiano, da Simantec. Segundo ele, atualmente, a empresa está apenas com 45% de sua capacidade instalada ocupada.

A Planusi, especializada em equipamentos para a produção de açúcar, também enfrenta uma capacidade ociosa perto de 50%. "O maior problema existente neste momento é não haver uma expectativa de quando o setor sucroalcooleiro vai voltar a investir", disse Vagner Stefanoni, presidente da empresa.


Marques, da Ceise BR, pondera que, ao contrário da crise de 2008, quando o principal fator de queda nos investimentos foi financeiro, hoje essa paralisação de deve à uma crise de confiança. "Os investidores estão cautelosos diante da falta de uma política para o etanol. Veja, como o etanol vai competir com o preço da gasolina congelado? E no caso do açúcar, os investidores virão diante de ameaças de taxarem as exportações do produto?", diz.

Diferentemente das rivais, a Dedini até vem conseguindo se diversificar. A empresa já contava com segmentos de produção de equipamentos para os setores de energia, siderurgia, óleo e gás antes da crise de 2008. "Mas, mesmo com a diversificação, somos muito dependentes do setor sucroalcooleiro. Cerca de 60% de nosso faturamento vem desse segmento", diz Leme. A Dedini vem trabalhando com 35% de sua capacidade ociosa.

Com a aproximação da entressafra, período em que as usinas fazem a manutenção e reforma de equipamentos, as indústrias de base esperam um reforço no caixa, vindo da demanda principalmente por serviços. Mas o Ceise BR já começa a pensar em alternativas. "Se novos investimentos não surgirem em 2012, uma saída seria a exportação de equipamentos", diz Marques.

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